quarta-feira, 3 de março de 2010

Slides - Rodrigo Reis 2

Ética e Filosofia Moral

Senso moral e consciência moral
 Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
 Decisões sobre o que fazer e a responsabilidade sobre nossas ações põem à prova nossa consciência moral.
 O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.

Juízo de fato e de valor
 Juízos de fato são aqueles que dizem o que s coisas são, como são e por que são.
 Juízos de valor são avaliações sobre coisas, pessoas, situações.
 Juízos éticos de valor são normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, atos, comportamentos e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
 A diferença entre os dois tipos de juízos é a diferença entre Natureza e Cultura. A primeira é constituída por estruturas e processos necessários que existem em si e por si mesmos. A Cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam-se a si mesmo e as suas relações com a Natureza.
 Não notamos a origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da consciência moral, porque somos educados para eles e neles. A naturalização da existência moral esconde o fato da ética ser criação histórico-cultural.

Ética e violência
 Violência é entendida como o uso da força física e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser.
 A humanidade dos humanos reside no fato de serem racionais, dotados de vontade livre, de capacidade para a comunicação e para a vida em sociedade, de capacidade para interagir com a Natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade nos definem como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando a violência em tudo aquilo que reduz um sujeito à condição de objeto. Do ponto de vista ético, somos pessoas e não podemos ser tratados como coisas (reificação).
 A ética é normativa, pois suas normas visam impor limites e controles ao risco permanente da violência.

Constituintes do campo ético
 O sujeito ético ou moral, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições:
 - ser consciente de si e dos outros. Ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
 - ser dotado de vontade, isto é, de capacidade de controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
 - ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre se e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por elas;
 - ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. Liberdade é poder escolher, mas também autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
 O campo ético é constituído de dois pólos: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes éticas.
 Para o sujeito a ética difere o passivo e ativo. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões, circunstâncias, pela boa ou má sorte, opinião alheia, medo dos outros, vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, vontade liberdade e responsabilidade. É heterônomo.
 Ativo é aquele que controla interiormente sues impulsos, discute consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos indaga se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores, consulta sua razão e sua vontade antes de agir, tem consideração pelos outyros sem subordinar-se nem submeter-se, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa a violência contra si e contra os outros. É autônomo.
 Para os valores a ética exprime a maneira como a cultura e a sociedade definem para si mesmas o que julga ser a violência e o criem, o mal e o vício, e o que consideram ser o bem e a virtude. A ética não é alheia às condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral, pois somos seres históricos e nossa ação se desenrola no tempo.
 Além do sujeito e dos valores a ética se constitui dos meios. Na ética nem todos os meios são justificáveis, mas apenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Fins éticos exigem meios éticos.


Ética na história

Antigos (Greco-Romanos)
Cristianismo – Idade Média
Racionalismo Ético – Modernidade
Emotivismo Ético – Séc. XX
Ecosofia – Séc. XXI


Antigos Greco-Romanos
 A ética se afirma sobre três princípios:
 1. o racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele;
 2. o naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmos) e com nossa natureza (nosso ethos), que é a parte do todo natural;
 3. a inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontramos liberdade, justiça e felicidade.
 A ética era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade, e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica. Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos.

Cristianismo: interioridade e dever
 Duas diferenças primordiais:
 a idéia de que a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade (a polis) nem com os outros. As virtudes máximas cristão são a fé e a caridade, ou seja são privadas. São relações do indivíduo com Deus e com os outros a partir da intimidade e da interioridade de cada um;
 a afirmação de que somos dotados de vontade livre – livre-arbítrio – e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o al e para o pecado, isto é, para a tansgressão das leis divinas. Somos seres fracos pecadores, divididos entre o bom (obediência a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca).
 O auxílio divino sem o qual a vida ética seria impossível é a Lei Divina Revelada, que devemos obedecer obrigatoriamente e sem exceção. Tal concepção introduz uma nova idéia na moral: a idéia de dever.
 Juntamente com esta, a moral cristã introduziu uma outra idéia decisiva na constituição da moralidade ocidental: a idéia de intenção. O dever não se refere apenas às ações visíveis, mas também às intenções invisíveis que passam a ser julgadas eticamente.
 Se a ética exige um sujeito autônomo, a idéia de dever não introduziria a heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um poder estranho a nós?

Natureza humana e dever
 Séc. XVIII – Rousseau: a consciência moral e a sentimento de dever são inatos. Nascemos puros e bons, dotados de generosidade e de benevolência para com os outros. Nossa bondade natural foi pervertida pela sociedade, quando esta criou a propriedade privada e os interesses privados, tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos. O dever nos força a recordar nossa natureza originária e só em aparência é imposição exterior.
Natureza humana e dever
 Kant: Não existe bondade natural. Por natureza somos egoístas, agressivos, cruéis, por isso precisamos do dever para nos tornarmos seres morais. O dever revela nossa verdadeira natureza.
 Para ambos, a solução está em colocar o dever em nosso interior, desfazendo a impressão de que ele nos seria imposto de fora por uma vontade estranha à nossa.

Cultura e dever
 Séc. XIX – Hegel: critica Rousseau e Kant por dois motivos,
 1. deram atenção à relação sujeito-Natureza e esqueceram da relação sujeito-Cultura e História;
 2. admitem relações éticas somente como relações pessoais e não a tomam como relações sociais, fixadas pelas instituições sociais (família, sociedade civil e Estado).
 Por sermos seres históricos e culturais, além de uma vontade subjetiva temos uma vontade objetiva, inscrita nas instituições e na Cultura.
 A vida ética é o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural.
 Ser ético e livre será pôr-se de acordo com as regras morais de nossa sociedade, interiorizando-as.
 Uma sociedade entra em declínio quando esse acordo é rompido e os membros da sociedade sentem-se esmagados e oprimidos pelos valores vigentes, e agem de modo a transgredi-los.
 Séc. XX – Bergson: distingue duas morais: fechada e aberta.
 Moral fechada é o acordo entre os valores e os costumes de uma sociedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. É a moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente por nós.
 Moral aberta é uma criação de novos valores e novas condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética nova.
Racionalismo ético

Necessidade, Desejo, Vontade
 Necessidade diz respeito a tudo quanto necessitamos para conservar nossa existência.
Racionalismo ético
 Para os seres humanos, o desejo parte da satisfação das necessidades, mas acrescenta a elas o sentimento do prazer, dando às coisas, às pessoas e às situações novas qualidades e sentidos. No desejo, nossa imaginação busca o prazer e foge da dor pelo significado atribuído ao que é desejado ou indesejado.
 O desejo é a busca da fruição daquilo que é desejado, porque o objeto do desejo dá sentido à nossa vida, determina nossos sentimentos e ações.

Racionalismo ético
 A vontade difere do desejo por possuir três características que este não possui:
 1. o ato voluntário implica um esforço para vencer obstáculos materiais e psíquicos.
 2. o ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de agir, exige deliberação, avaliação e tomada de decisão.
 3. a vontade refere-se ao possível, que acontece graças ao ato voluntário com previsão de conseqüências. A vontade é inseparável da responsabilidade.
 Desejo é paixão. Vontade é decisão. Desejo nasce da imaginação. Vontade se articula à reflexão. Desejo não suporta o tempo, desejar é querer a satisfação imediata. Vontade realiza-se no tempo: esforço e ponderação trabalham com a relação entre meios e fins e aceitam a demora da satisfação. Mas é o desejo que oferece à vontade os motivos interiores e os fins exteriores da ação.
 Nesta concepção a inteligência orienta a vontade para que eduque o desejo.
 Consciência, desejo e vontade formam o campo da vida ética: consciência e desejo referem-se às nossas intenções e motivações; a vontade, às nossas ações e finalidades. As primeiras apontam a qualidade da atitude interior; as últimas, à qualidade da atitude externa.

Emotivismo ético ou irracionalismo
 Séc. XX - Nietzsche, Bérgson, Freud, Marx
 Propõe uma ética das emoções e do desejo
 Esta concepção contesta à razão o poder e o direito de intervir sobre o desejo e as paixões, identificando a liberdade com a plena manifestação do desejante e do passional. Para esses filósofos, a moral racionalista ou dos fracos e ressentidos que temem a vida, o corpo, o desejo e as paixões é a moral dos escravos, dos que renunciam a verdadeira liberdade ética.
 Afirmam que a própria ética, transformada em costumes, preconceito cristalizados e sobretudo em confiança na capacidade apaziguadora da razão, tornou-se a forma perfeita da violência.
 Os irracionalistas baseiam-se na psicanálise e na teoria da repressão do desejo, propondo uma liberdade do desejo da repressão causadora de sintomas pessoais e sociais. Porém a própria psicanálise aponta uma ligação profunda entre o desejo de prazer e o desejo de morte, a violência incontrolável do desejo se não for orientado pelos valores éticos e racionais.

Ética e Psicanálise
 A descoberta do inconsciente traz conseqüência graves para as idéias de consciência responsável e vontade livre quanto para os valores morais.
 Para a psicanálise somos nossos impulsos e desejos inconscientes. O que se passa em nossa consciência é efeito disfarçado de causas inconscientes. Vontade boa e virtuosa e valores morais, se tornam normas repressivas. A razão seria uma ficção e um poder repressivo externo, e como esta teria acesso ao desejo?
 Para Freud não somos autores nem senhores da nossa história. Nossos atos são realizações inconscientes.
 Mentir, matar, roubar, seduzir, destruir, temer, ambicionar são simplesmente amorais. Muitas vezes são autodefesas do sujeito, que emprega para defender sua integridade psíquica ameaçada (real ou fantasiosamente). Atos moralmente condenáveis são psicologicamente necessários. Lacan nos fala da ética da perversão.
 No campo de batalha que é a psique, entre o amor ao proibido do id e amor ao repressivo do superego, é a consciência que decide, é esta que está para a liberdade do sujeito.
 Somos eticamente livres e responsáveis não porque posssamos fazer tudo quanto queiramos, nem porque queiramos tudo quanto possamos fazer, mas porque aprendemos a discriminar as fronteiras entre o permitido e o proibido, tendo como critério a ausência da violência interna e externa.

Ecosofia
 Ecosofia: ecologia + filosofia
 Concepção do filósofo francês Felix Guattari para designar o processo ético-estético relativo às Três Ecologias: a do meio-ambiente, a das relações sociais e a da subjetividade humana.
 Propõe uma revolução “não só nas relações de forças visíveis em grande escala, mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo”, a Ecosofia.
 “O princípio comum às três ecologias consiste, pois, em (...) uma abertura processual a partir de práxis que permitam torná-lo ‘habitável’ por um projeto humano. É essa abertura práxica que constitui a essência desta arte da ‘eco’ subsumindo todas as maneiras de domesticar os Territórios existenciais, sejam eles concernentes às maneiras íntimas de ser, ao corpo, ao meio ambiente ou aos grandes conjuntos contextuais relativos à etnia, à nação ou mesmo aos direitos gerais da humanidade.
 “(...) Disso decorrerá uma recomposição das práticas sociais e individuais que agrupo segundo três rubricas complementares – a ecologia social, a ecologia mental e a ecologia ambiental – sob a égide ético-estética de uma ecosofia”. (p. 23)

Ecologia da Subjetividade
 Guattari aponta para a necessidade de reinventar as nossas relações intrapessoais “com o corpo, com o fantasma (inconsciente), com o tempo que passa, com os ‘mistérios’ da vida e da morte”, procurando “antídotos para a uniformização midiática e telemática, o conformismo das modas, as manipulações da opinião pela publicidade, pelas sondagens etc”. Deixa claro que a maneira de reinventar a singularidade está mais para a arte do que para a ciência quando afirma “os profissionais ‘psi’, [estão] sempre assombrados por um ideal caduco de cientificidade”.
 Em relação ao conjunto dos campos “psi”, afirma que este deve se “instaurar no prolongamento e em interface aos campos estéticos”. Diferente de uma perspectiva clínica ou de laboratório diz que “essa tensão existencial operar-se-á por intermédio de temporalidades humanas e não-humanas”. E entende por estas últimas o delineamento, “o desdobramento de devires animais, vegetais, cósmicos, assim como de devires maquínicos...”

Ecologia Social
 Para Guattari, a ecosofia social consiste em desenvolver práticas específicas que tendam a modificar e a reinventar maneiras de ser no seio do casal, da família, do contexto urbano, do trabalho etc. “A questão será literalmente reconstruir o conjunto das modalidades do ser-em-grupo”. Não somente pelas intervenções ‘comunicacionais’ mas principalmente por “mutações existenciais que dizem respeito à essência da subjetividade”.

Ecologia Ambiental
 Guattari deixa claro que é da interface das três ecologias, que podem nascer ações políticas mais eficientes em relação ao meio ambiente.
 “Uma ecosofia de um tipo novo, ao mesmo tempo prática e especulativa, ético-política e estética, deve a meu ver substituir as antigas formas de engajamento religioso, político, associativo... Tratar-se-á antes de movimento de múltiplas faces dando lugar a instâncias e dispositivos ao mesmo tempo analíticos e produtores de subjetividade.
Ecosofia
 “Concluindo, as três ecologias deveriam ser concebidas como sendo da alçada de uma disciplina comum ético-estética e, ao mesmo tempo, como distintas uma das outras do ponto de vista das práticas que as caracterizam. Seus registros são da alçada do que chamei heterogênese, isto é, processo contínuo de ressingularização. Os indivíduos devem se tornar a um só tempo solidários e cada vez mais diferentes”.

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