terça-feira, 2 de março de 2010

sobre subjetividade contemporânea

Este texto é o capitulo 2 ( Da Teoria ) do trabalho DA EMERGÊNCIA DE NOVAS SUBJETIVIDADES NO UNIVERSO POP CONTEMPORÂNEO de André Gonçalves da Costa


As escolhas teóricas dessa investigação estão relacionadas à ampliação da noção de contemporaneidade que nos propõe Jean-Luc Nancy. Um contemporâneo, segundo ele, “nem sempre é alguém que vive ao mesmo tempo, tampouco alguém que nos fala de questões atuais” . Essa contemporaneidade trata, antes de mais nada, de uma impessoalidade que nos remete a um pensamento inusitado, a um gesto tocante, a uma nova forma de fazer as coisas, ou a uma presença desconcertante, e nos faz oscilar entre o “desconhecido e o imediatamente familiar”. Essa contemporaneidade é uma estranha forma de atração. Algo da ordem de uma proximidade inevitável, necessária. Algo que, “como forma de possibilitar a ‘presença do presente’, só poderia estar ali e ser tal qual” . Algo que descobrimos que esperávamos, ou que nos esperava em latente iminência.

Algumas experiências musicais são desta natureza. É quando reconhecemos a necessidade da presença de determinado tom, de certa voz, ou de um ritmo tal, “não por inevitabilidade de um destino, ou rumo de uma história”, mas como “evidência de um presente” . É bem nestes instantes de “pura presentificação”, sejam eles de ordem estética ou de saberes “arrebatantes”, que a contemporaneidade opera com a força de um bom encontro, aquele capaz de nos tocar, de gerar potências. É dessa ordem meu encontro com o fecundo pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari.

Nancy afirma contundentemente que a contemporaneidade se faz à medida que “não se pode pensar hoje sem se tomar algo desta (d)obra do pensamento” . Não pelo fato que tenhamos que nos dobrar a ela, mas sim pela irrefutabilidade do apanhado de sua presença. Uma contemporaneidade que é a “absolutidade irreversível do presente” . Trata-se de um verdadeiro pensamento contemporâneo e atemporal, que, para além de meramente deslumbrar ou insuflar, arrebata por falar de nossas angústias atuais: a de um sujeito que se esvai no frenesi de velocidades e paradoxos que o atravessam. Esse pensamento, que para além de meramente “profetizar um novo mundo” , apresenta-se sob a forma de “afecções iluminadoras”, diria Espinosa. Uma “filosofia da subjetividade” que nos possibilita compreender essas novas formas afetivas que proliferam em tempos de crise de sensibilidade.

A obra de D&G nos serve mesmo como uma espécie de “caixa de ferramentas”. Nela figuram conceitos de uma enorme força imagética. Conceitos capazes de nos auxiliar na visualização destas novas “subjetividades musicais” que emergem no universo pop contemporâneo. Na tentativa de pragmatização desses inúmeros conceitos, partimos de uma premissa fundamental: D&G insistem numa “utilização” conceitual que ultrapasse qualquer rigidez epistemológica ou formal. Seus conceitos são multiplicidades que evocam saberes distintos e que não se prestam à reprodução de dogmas de separação – entre técnica e natureza, por exemplo. São imagens de pensamento compostas pela conexão de elementos referenciais os mais diversos que nos servem para “solucionar problemas pontuais” , diriam eles. São conceitos de múltiplos componentes e, esperamos, também, de múltiplas utilidades.

A atitude pop aqui adotada frente a essa inebriante teoria subjetiva (conhecida por “esquizoanálise”) não representa apenas um esforço de interpretação (“se é que há algo a se interpretar”, diria Deleuze) de conceitos por vezes enigmáticos. Trata-se, acima de tudo, de uma tentativa de adequação teórica às questões oferecidas pelas eclosões estético-subjetivas super-atuais que ocorrem no universo pop contemporâneo.

Existe, de fato, uma grande coerência em utilizarmos o pensamento “esquizoanalítico” para refletirmos as expressões estéticas do pop contemporâneo. Trata-se de uma filosofia que tem negócios com a ocasião, com o acontecimento, com a multiplicidade, com os fluxos de energia e suas velocidades, com a conexão e com as misturas que dela ocorrem. Essa filosofia funciona através do procedimento de extração de fenômenos e de termos de seus contextos territoriais, para desenvolvê-los alhures com certa independência ou autonomia flutuante. Como eles próprios colocam, essa é a forma do pensamento pick-up, das apropriações, da bricolagem, da combinação de heterogêneos, tal qual no pop. Deleuze chega mesmo a explicitar essa intimidade de formas e conteúdos entre o pensamento e as emergências hiperatuais denominadas pop. Para ele, “a boa maneira de se ler hoje é conseguindo tratar um livro como se escuta um disco, como se vê um filme ou um programa de televisão, como se recebe uma canção: qualquer tratamento do livro que reclame para ele um respeito especial, uma atenção de outro tipo, vem de outra época e condena o livro. Não há questão alguma de dificuldade nem de compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou imagens, são intensidades que convém ou não, que passam ou não passam, que tocam ou não tocam. Isso é pop filosofia” .

É assim que a escolha por D&G, apesar de suas escassas e ainda enigmáticas incursões reflexivas no campo da música , nos traz a certeza de uma forte adequação teórica em relação às questões subjetivas do mundo atual e do universo pop que nele se insere. Sendo assim, conceitos como “nomadismo”, “devir”, “afecções”, “máquinas abstratas”, “dobras”, “corpos sem órgãos”, “ritornelo”, “galope”, “rostidade”, “plano de imanência”, “matérias de expressão”, “simulacro”, “efeitos de superfície”, etc, são misturados aos sons, às músicas, às imagens, às cores, aos rostos e aos afetos do pop contemporâneo, numa empreitada meio aventureira. Aventureira porque, ao mesmo tempo em que esses diversos termos e afetos, quando postos lado a lado, correm o risco de serem considerados, como colocam D&G, “coisas que não combinam muito bem” , eles podem também ganhar uma nova territorialidade, uma nova possibilidade de leitura. Esperamos poder “brincar” um pouco com esses conceitos – assim como o faz o pop através de sua capacidade inesgotável de recontextualização e referenciação –, desmanchando a pompa e o culto regrado que ameaçam erigir-se em torno deles. O objetivo dessa tentativa de misturar filosofia, música e imagem é o de produzir um trabalho que também seja pop.

Os desenvolvimentos e as conexões teóricas desferidas nesse trabalho só são possíveis graças àquelas mesmas liberdades de escolha, de ordenação e de transformação que, por exemplo, possui um artista pop no ato de compor suas faixas, ou um DJ na montagem de suas seqüências musicais. O que se busca aqui, acima de qualquer outra coisa, é “a verdade como ficção, invenção e criação. Uma visão perspectivista e interpretativa do conhecimento, e não uma relação miraculosa, de revelação para com a teoria” . Uma atitude pragmática, quase de desmistificação, em relação a um saber filosófico que se oferece, em natureza e forma, a esse tipo de estratégia lúdica. É, pois, através de uma espécie de bricolagem teórica, que procuramos, especialmente nesse primeiro capítulo, organizar as formas pelas quais o tema da subjetividade é pensado nos trabalhos de D&G, bem como no de alguns de seus bons intérpretes.

Entretanto, o tema da subjetividade dentro da obra desses pensadores é bastante extenso, e não se apresenta susceptível a fechamentos. Da mesma forma que cobrir todos os seus conceitos correlatos demandaria esforços incompatíveis com as disponibilidades de uma investigação no nível de mestrado. É importante entender que esta fase inicial da pesquisa não tem a finalidade de extinguir, numa catalogação sistematizada, toda a teoria da subjetividade. Tampouco pretendemos nesse capítulo detalhar redundantemente conceitos que serão mais tarde desenvolvidos nos capítulos de análise de objeto. Tentamos inicialmente apenas uma organização e um esclarecimento acerca de alguns tópicos teóricos que terão papel fundamental na formatação e no desenvolvimento desta pesquisa.



Uma breve história do sujeito e de suas crises

A “teoria do sujeito” – que atende também pelo nome de “filosofia da consciência” – pressupõe que o indivíduo humano seja o centro e a origem do pensamento e da ação, que o ser humano seja o soberano senhor de suas reflexões e de seus atos, que seus pensamentos e ações sejam fundamentalmente racionais e conscientes. A filosofia da consciência trata do conhecido “sujeito cartesiano”. Esse sujeito caracteriza-se por ser, quantitativa e qualitativamente, unificado, homogêneo, centrado, racional, consciente e reflexivo. “Esse sujeito tem uma interioridade, um núcleo de subjetividade supostamente pré-social, extralingüístico e a-histórico. Trata-se, enfim, de um sujeito soberano e universal” .

É, entretanto, ao próprio núcleo desse sujeito “emancipado” que se dirigem as críticas de diversas partes da teoria social contemporânea. A representação universalista do sujeito, que está na base da tradição humanista da “filosofia da consciência”, entra então em processo de derrocada. Os ideais, princípios e métodos modernistas que dependiam das idéias iluministas de uma razão e de um sujeito universais não se legitimam mais como “metanarrativas de emancipação do sujeito” .

A subjetividade humana é hoje, mais do que nunca, uma construção em ruínas. Ela já não tinha mesmo jeito desde as devastadoras demolições dos “mestres da suspeita”: Marx, Freud, Nietzsche e Heidegger. Esta obra de desconstrução prosseguiu, em meados do século XX, com as operações de desalojamento do cogito cartesiano efetuadas pela revisão althusseriana de Marx e pela revisão lacaniana de Freud que repensaram os sujeitos como portadores de estruturas e sistemas. Depois, com os pós-estruturalistas, Foucault, Deleuze, Guattari, Derrida e Lyotard, “o estrago se tornaria irreversível” .

O primeiro descentramento sofrido pelo sujeito cartesiano é engendrado pela psicanálise: ele é deslocado do consciente para o inconsciente, de um núcleo essencial para um processo formativo, do pré-lingüístico e pré-social para o lingüístico e o social. “Ele não é quem pensa que é, ele não faz o que pensa que faz” . Então, no pós-estruturalismo, com Foucault, o sujeito, ao invés de originário e soberano, passa a ser derivado e dependente das práticas lingüísticas e discursivas que o constroem como um produto da história. Com Derrida, a subjetividade dissolve-se na textualidade: o sujeito, se é que ele existe, não passa de pura inscrição, ele é pura exterioridade. Não há mais locus para ele, nem para sua filosofia da consciência. O pós-estruturalismo, na verdade, nunca “liquidou” o sujeito, mas o reabilitou, o descentrou e o reposicionou em toda sua complexidade histórico-cultural. Depois dele, a questão não é mais, agora, “quem é o sujeito?”, mas “queremos, ainda, ser sujeitos?”, “quem precisa do sujeito?”, ou ainda “quem vem depois do sujeito?”

É com D&G que o questionamento da teoria do sujeito se radicaliza. Na linhagem de “filósofos de esquerda” como Leibniz, Espinosa, Bergson, Nietzsche, Foucault e Derrida, D&G desenvolvem toda uma “pragmática da subjetividade”, caracterizada por um mundo constituído por máquinas mecânicas, eletrônicas, biológicas, naturais, sociais, institucionais, etc, regido por trocas de fluxos e forças que circulam e afetam tudo.

Ao conceber o mundo como formado por máquinas, D&G rejeitam qualquer distinção entre sujeito e objeto, entre cultura e natureza, entre interioridade e exterioridade. Nenhum ponto fixo, nenhuma essência, nenhuma origem, nenhum centro. Apenas linhas, fluxos, intensidades, energias, conexões e combinações que compõem uma subjetividade em contínua transformação.

Sujeito e subjetividade passam então a ser coisas díspares. Não se está mais diante de uma subjetividade dada como “um em si”, mas em face de processos de autonomização (diferenciação, ruptura, originalidade, liberdade). A subjetividade é processual e depende de condições que tornam possível ou bloqueiam a emergência de novos territórios existenciais. A subjetividade, contrária à idéia corrente de sujeito e seus processos de subjetivação , passa a ser um “laboratório vivo onde mundos se criam e outros se dissolvem” .

Esquizoanálise

Com D&G, o interesse por questões da subjetividade não se limita mais a um punhado de “iluminados” ligados à psicanálise e à filosofia. Da mesma forma, as ciências sociais, econômicas, políticas e jurídicas parecem insuficientes para dar conta sozinhas do “coquetel subjetivo contemporâneo”. É assim que o enclausuramento dos estudos da subjetividade no ambiente acadêmico vem apenas confirmando sua desatualização no tocante ao que de mais instigante, em termos de sensibilidade humana, se produz “no lado de fora”.

A subjetividade passou a ser um tema dos mais presentes, no sentido de estar também ao alcance de “homens comuns”, de artistas, de músicos, enfim, de homens sensíveis, que estejam em contato com a criação – a qual se espera não seja só artística, mas também subjetiva. “A prática, o manejo e a auto-organização da subjetividade estão hoje ao alcance de nossas mãos, e podem desembocar num reposicionamento fundamental do homem em relação ao seu meio ambiente maquínico e ao seu meio ambiente natural (que, aliás, tendem a coincidir)” .

A clínica, como coloca Guattari, não é mais o lugar privilegiado da experimentação subjetiva, assim como a psicanálise não pode mais ser pura hermenêutica, ou regressão dirigida à infância. “Nada de conteúdos latentes ou preexistentes, mas a invenção de novos focos de fazer singularização, ruptura de sentido, corte e fragmentação”. A esquizoanálise dedica-se a esses focos mutantes de subjetivação. Ela ensina que as figuras inconscientes do poder e do saber não são universais, e estão ligadas a mitos profundos que podem, no entanto, ser inflectidos em direção a vias libertadoras. Enfim, a esquizoanálise se ocupa da “invenção de bifurcações existenciais” .

Se no sentido freudiano (universal / estrutural), a subjetividade é compreendida em seu processo de fases de formação, na esquizoanálise, ela é entendida como um conjunto de níveis que se mantêm paralelos, em co-funcionamento e em re-emergência contínua ao longo da vida. Trata-se agora de um inconsciente formado pela superposição de múltiplos e heterogêneos estratos de subjetivação, inconsciente formado por aquilo que Guattari chama de “parcelas subjetivas” , que estão sempre prontas para “emergir à superfície”, para vir à tona de acordo com a experiência, com o acontecimento e com o momento que as desencadeie. Inconsciente livre de fixações, de regressões familialistas, de passados fantasmagóricos. Inconsciente múltiplo voltado para as práticas atuais e para as máquinas abstratas que agenciam seus vários componentes .

A esquizoanálise criada por D&G ultrapassa de longe aquilo que os psicanalistas consideram como sendo o seu saber. Ela faz um esforço de mobilização das formações coletivas e/ou individuais, objetivas e/ou subjetivas, dos devires humanos e/ou animais, vegetais, cósmicos. Ela se interessa por uma diversificação dos meios de semiotização e recusa qualquer centramento da subjetividade na pessoa, bem como qualquer primazia entre instâncias de formação desta subjetividade . A esquizoanálise acredita numa espécie de “loucura afirmativa” como forma de engendrar liberdade, renovação e atualização subjetiva: um pouco daquilo que os artistas são inevitavelmente impelidos a fazer no ato da criação estética, que também é “um momento da mais louca criação subjetiva”.

Subjetividade e afeto

Esta nova subjetividade que se procura compreender diz respeito, fundamentalmente, ao “emotivo” enquanto sinônimo de “afetividade”. Ela fala de emoções nomeáveis por afetos específicos como tristeza, alegria, medo, coragem, etc, ou qualquer combinação que entre eles possa se estabelecer para fazer emergir possibilidades afetivas inusitadas. Aliás, esta parece ter sido a maior de todas as contribuições de D&G com sua “filosofia da nomeação”: nos incitar a um despojamento dos tolhimentos formais e conceituais, nos autorizar a chamar, a designar, ou mesmo a apelidar, estas novas e inusitadas emergências afetivas por nomes que, para nós, tenham de alguma forma um correlato também afetivo. É nesse sentido que acreditamos se tratar de uma filosofia da “pessoalidade”, pois nos faz eleger apenas aquilo que nos toca, apenas aquilo que para nós serve afetivamente. Ela retoma em nós a idéia do “pessoal” como forma de convocação de nossa própria experiência. Subjetividade como meio de “ensimesmamento” de nossos próprios acontecimentos estéticos, sociais, energéticos e pessoais. Dessa forma, a subjetividade reúne definições tão próximas como afetividade e experiência pessoal.

A afetividade, como forma de definir a subjetividade, pode ser compreendida através de um feliz trocadilho: afetividade enquanto possibilidade de afecção, enquanto possibilidade de afetar e de ser afetado. É esse o maior ensinamento da teoria dos afetos de Espinosa. A problemática da potência, extraída por D&G do pensamento espinosista, abre a discussão sobre a capacidade que os corpos, e também as almas , possuem de se afetar mutuamente. Esta problemática pode ser sintetizada por uma pergunta: “O que pode um corpo? Qual é a sua capacidade de afetar e de ser afetado por outros corpos?”

Segundo a ordem dos encontros de Espinosa, os corpos, em sua natureza extensiva em relação a outros corpos, se afetam quando se encontram. Há, nesse sentido, dois tipos fundamentais de encontros, que, por sua vez, determinam os tipos de afetos deles gerados: um bom e um mau encontro. Um bom encontro é aquele em que os corpos que se relacionam “combinam” em natureza; um mau encontro é aquele em que os corpos que se relacionam “não se combinam” e tendem, por isso, a decompor ou a destruir, em parte ou totalmente, sua natureza. “Para Espinosa não existe bem ou mal; o que há é um bom ou um mau encontro”. O mau, por exemplo, é, na realidade, um encontro de um corpo com outro corpo que se mistura mal a ele, no sentido em que o afeta, o modifica de tal maneira que destrói ou ameaça destruir o que o caracteriza. O mau encontro é, na verdade, um fenômeno de envenenamento, de indigestão, de intoxicação” – corpórea e/ou espiritual, física e/ou subjetiva.

Por fim, os afetos são “o aumento ou a diminuição da potência de agir de um corpo quando este se encontra (ou se mistura) com outro” . A terceira definição da ética de Espinosa diz: “Por afetos entenda-se as afecções do corpo pelas quais a potência de agir desse corpo é aumentada ou diminuída, ajudada ou contida. Isso significa que, quando a potência de agir aumenta, sinto um afeto de alegria e, quando potência de agir diminui, sinto um afeto de tristeza” . Espinosa define a alegria como “a passagem do homem de uma perfeição menor a uma perfeição maior, e a tristeza como a passagem de uma perfeição maior a uma perfeição menor” . A alegria e a tristeza são assim os dois afetos fundamentais a partir dos quais são engendrados todos os outros. “Assim, amor, esperança, contentamento, estima... provêm da alegria; ódio, aversão, medo, remorso, desestima... provêm da tristeza.”

É dessa forma, portanto, que a apropriação deleuze-guattariana do pensamento espinosista nos permite falar dessas “emoções” contemporâneas: através da nomeação desses afetos provenientes da alegria, da tristeza e de suas infinitas possibilidades combinatórias que possamos observar manifestos, expressos nos “corpos do mundo”. Falar de subjetividade é, no final das contas, uma tarefa de identificação dos níveis de tristeza e de alegria que compõem cada uma de nossas parcelas subjetivas.

Subjetividade e desejo

Não esqueçamos ainda a estreita relação existente entre subjetividade e desejo: desejo como pulsão ou inibição, como atração ou repulsa gerados de encontros e de trocas entre corpos – que é donde também se geram os afetos. Dos movimentos de atração e repulsa entre eles geram-se afetos de vários tipos: eróticos, sentimentais, estéticos, perceptivos, cognitivos, etc. O desejo gerencia assim os afetos e, conseqüentemente, a própria composição da subjetividade. “Processo de produção de universos psicossociais, o desejo administra as diferentes estratégias do movimento de atualização (territorialização) e desatualização (desterritorialização) de universos subjetivos. Não há eclosão de desejo, seja qual for o universo em que aconteça, que não coloque em cheque as estruturas emotivas já estabelecidas. O desejo é, nesse sentido, revolucionário, porque sempre quer mais conexões, mais encontros e mais trocas” , devendo, nesse sentido, ser entendido de forma mais ampla do que em sua circunscrição meramente sexual e/ou romântica: o desejo é aqui algo que pede passagem, que pede conexão de fluxos.

A subjetividade pode ser tomada como o que há de “humano” em nós. Só que, mais uma vez graças a D&G, há de se alargar esta dimensão no tocante àquilo de maquínico que também perpassa nossa humanidade. É exatamente nesse sentido que passa a existir uma conexão entre subjetividade e desejo: desejo como “combustível” de processos maquínicos de formação subjetiva. Nosso inconsciente maquínico, que funciona como uma espécie de “fábrica” de alternativas subjetivas, encontra no desejo sua própria força motriz.

“O desejo é produtor de signos a-significantes entre os quais se engendram fluxos de inconsciente” . O desejo cria intensidades entre corpos que se encontram. Ele é uma imanência donde sujeitos e objetos se atraem e se repulsam mutuamente, criando-se e recriando-se nessas trocas. O desejo gerencia a produção de novas subjetividades na medida em que permite que cada um dos corpos atraídos (ou repulsados) viva os encontros, os aproveite (ou os descarte) e cuide das forças geradas desses encontros (ou se desvie delas). O desejo regula o quanto cada uma das partes se abre aos encontros, afetando e deixando-se afetar. O desejo é, nesse sentido, o próprio movimento de produção de subjetividade .

Polifonia subjetiva

O sujeito, como coloca Tomaz Tadeu, “é um efeito múltiplo” . Ele não é só efeito da linguagem, ele é, igualmente, efeito da história, da sociedade e das diversas formas de interpelação sensível às quais está exposto na contemporaneidade. O sujeito é efeito de forças que, literalmente, o atravessam; das máquinas, concretas e abstratas com as quais está em contato; do espaço físico, e também abstrato, no qual se encontra inserido; de seus encontros diários; da cultura; da arte; de ficções. O sujeito é, enfim, efeito das mil vozes que o agenciam.

Com a reviravolta esquizoanalítica, a subjetividade não é mais de natureza tal que possa ser reunida, pois estamos diante de processos de sobreposição, multiplicação, e (re)combinação de uma infinidade de parcelas subjetivas que compõem um todo em contínua transformação. A subjetividade é plural, polifônica (várias “vozes” agenciando, afetando o sujeito) e não conhece nenhuma instância dominante de determinação: os universos sociais, culturais, econômicos, espaciais, temporais e estéticos todos contribuem para sua formação .

Já não se pode mais falar de um sujeito generalizado, nem no sentido universal e transcendental, como lhe confere a filosofia da consciência, tampouco no sentido das identidades culturais, sexuais, de classe, etc . A subjetividade é marcada pelo privilégio da diferença e da multiplicidade em detrimento da identidade e da “mesmice”. Ela é caracterizada por sua rejeição não apenas da trancendentalidade e do caráter originário do sujeito, mas também de suas supostas homogeneidade e unicidade. Ela é marcada pela heterogeneidade e polifonia de seus ininterruptos processos formacionais.

Não se pode mais falar numa forma de agenciamento única sobre o sujeito, numa enunciação perfeitamente individuada como, por exemplo, a linguagem que, na contemporaneidade, parece não ter mais primazia alguma no processo de formação subjetiva. O sujeito contemporâneo é agenciado por todos os lados. Ele é formado por componentes parciais e heterogêneos de subjetividade e de agenciamentos coletivos de enunciação, os quais implicam “multiplicidades humanas” . A relação de um indivíduo com a música, com a pintura ou mesmo com o espaço construído ou natural podem, por exemplo, acarretar processos de percepção e de sensibilidade inteiramente novos que não têm a ver necessariamente com subjetivações sociais ou lingüísticas .

Cada um desses componentes do “eu” existe paralelamente aos outros, e é susceptível de subir à superfície, ao primeiro plano da subjetividade, de acordo com a circunstância. É o que chamaremos aqui de “emergências de parcelas subjetivas” . Elas, por sua vez, são produtos de contínuas combinações entre afetos fundamentais, como alegria e tristeza, e também de outros afetos já misturados. Suas possibilidades combinatórias são mesmo infinitas e suas emergências variam de acordo com o contexto, com o acontecimento que as desencadeia. Essa característica múltipla dos processos subjetivos é o que nos permite transformá-los, assim como na arte, num campo de experimentação e de criação.

Perigos, crises e paradoxos subjetivos

Os grandes movimentos de subjetivação, a exemplo do pop contemporâneo, não tendem necessariamente para um sentido emancipador. Há, na atualidade, por um lado, o aumento da criação de novas subjetividades – o que chamaremos aqui de “singularidade subjetiva” – e, por outro, as (re)territorializações homogeneizantes e conservadoras – no sentido de que “conservam” iguais, constantes e sem variação – da subjetividade. Nos processos de subjetivação estão presentes forças emancipadoras e libertárias, bem como “pulsões retrógradas, conservadoras e até mesmo fascistas, nacionalistas, religiosas e étnicas” , todas ligadas, de um modo ou de outro, ao rolo compressor da “subjetividade capitalista”.

A subjetividade capitalística – também chamada por Guattari de subjetividade yankee – seria aquela responsável por uma devastação sensível no planeta através do desenvolvimento contínuo dos mass-mídia e da revolução informática “rumo à monotonização dos mínimos gestos e o desvendamento de todos os mistérios do planeta. Ela varrerá tudo que encontrar pelo caminho: em especial as culturas e as territorialidades que, bem ou mal, haviam conseguido escapar aos assolamentos empreendidos pelo cristianismo” . O que faz a força da subjetividade capitalística – e é justamente aí que ela se mostra perigosamente paradoxal – é que ela se produz tanto entre os opressores quanto entre os oprimidos .

A existência urbana e globalizada que se instaura com o capitalismo, implica que os mundos a que está exposta a subjetividade, em qualquer ponto do planeta, multiplicam-se cada vez mais e variam numa velocidade cada vez mais vertiginosa. A subjetividade é assim continuamente afetada por um turbilhão de forças de toda a espécie. Neste contexto do qual parece não podermos mesmo escapar, vivemos todos, quase que cotidianamente, em crise: crise que não é só econômica ou política, mas crise emocional, afetiva e, especialmente, do desejo. “Crise dos modos que vamos encontrando para nos ajeitar na vida, pois mal conseguimos articular um certo jeito de existir e ele já caduca. Vivemos sempre em defasagem em relação à atualidade de nossas experiências. Somos íntimos dessa incessante desmontagem de territórios existenciais: treinamos, dia a dia, nosso jogo de cintura para manter um mínimo de equilíbrio nisso tudo. Temos de ser craques em matéria de montagem de território, montagem, se possível, tão veloz e eficiente quanto o ritmo com que o mercado desfaz situações e faz outras. Vemo-nos solicitados, o tempo todo e de todos os lados, a investir na poderosa máquina de subjetividade serializada, produtora destes homens que somos, reduzidos a suporte de valor e de identidades reconhecidas, por medo de sermos confinados em uma marginalização que pode mesmo chegar a comprometer a própria possibilidade de sobrevivência” .

É então, em meio ao excesso generalizado (midiático, informático, comercial, etc) como “regra de vida”, que as angústias subjetivas eclodem. Elas surgem como face do medo do “irreconhecível”, daquele “estranho” ao qual ainda não se delegou sentido algum. “Angústia que tem uma face ontológica – medo de a vida se desagregar, de ela não se preservar, medo de morrer –; uma face existencial – medo de nossos mundos perderem legitimidade, de desabarem, medo de fracassar –; uma face psicológica – medo de perder a forma tal como vivida pelo ego, medo de enlouquecer” . É essa angústia múltipla, no entanto, que desencadeia uma reação: uma tentativa sempre recomeçada de abolição do medo, uma forma de alívio da angústia.

O capitalismo contemporâneo engendra ainda uma outra perversidade: ele atiça a força de invenção da subjetividade para “cafetiná-la”. Esse seqüestro criativo por ele exercido “dissocia a subjetividade de sua instância de percepção energética para liberá-la de sua relação com uma resistência inerente, e extrair do seu inesgotável manancial de força de invenção sua máxima rentabilidade” . Este é um evento comum às linhas de montagem do capitalismo e seus processos de massificação, de padronização e de esvaziamento sensível. Como efeito disso, emerge na subjetividade contemporânea o paradoxo: uma parcela subjetiva distendida entre dois extremos opostos. Esse paradoxo que se instaura na subjetividade é aquele que, ao mesmo tempo em que assiste ao seqüestro da força de criação subjetiva e à tentativa de desconexão dessa de sua potência de resistência, também luta, exatamente por conta das adversidades às quais se vê imposta, por liberdade, autonomia e singularidade. Mesmo vítima de tantos “contratempos”, a subjetividade possui essa força de resistência que se apresenta como elemento vital de uma fuga afirmativa e de uma auto-recriação sempre renovadas.

A criação subjetiva

“As poéticas, atualmente, têm mais a nos ensinar do que as ciências sociais, econômicas e a psicanálise reunidas” . A catálise poético-existencial existente na literatura, na música, na poesia, e nas artes plásticas engaja tanto o criador quanto o intérprete e o apreciador da obra de arte através de sua capacidade de promover rupturas ativas e processuais no tecido significacional e estrutural. Esta capacidade tanto rompe e desestabiliza tramas redundantes, dominantes, classificadas e clássicas, quanto seleciona elementos desta mesma trama para conferir-lhes uma resignificação rumo à emergência de novas parcelas subjetivas. É, pois, na exaltação criadora, no sentimento amoroso, no delírio e no sonho que encontramos a subjetividade em estado nascente .

Devemos, portanto, apreender a subjetividade em sua criatividade processual. A inventividade no ato da criação de uma autenticidade existencial distancia a subjetividade de paradigmas cientificistas para aproximá-la de um paradigma ético-estético . Sendo assim, o exercício da criação não mais se encontra confinado à arte como uma esfera específica de atividade humana. Na atualidade, novos problemas são colocados, exigindo da arte outras estratégias de problematização e de efetivação de sua função de reconectar as potências de criação às de resistência, de religar os afetos estéticos aos políticos . A criação de novos territórios existenciais passa pela constituição de um meio ambiente de suavidade e delírio, de forma a transformar nosso inferno de hoje num universo de encantamentos criadores . Tal qual na arte.

A singularização de afetos

A singularização subjetiva trata da criação de novas modalidades de subjetivação, fato que aproxima as novas formações subjetivas de uma espécie de paradigma estético. Singularizar, ou autonomizar, é fazer emergir, ou mesmo criar, parcelas subjetivas inéditas, do tipo: “— Puxa vida! Ainda não conhecia esta faceta da minha personalidade!” Esse caso, embora um tanto caricatural, serve bem como exemplo. Quantas vezes nos vemos proferindo tal “lugar comum” sem nos darmos conta de que estamos, naquele mesmo instante, selecionando e recombinando afetos nunca antes colocados lado a lado, seja perante um filme, uma obra de arte, um livro ou uma música! O mesmo ocorre quando dizemos que este ou aquele filme, livro ou artista “nos tocou”, ou até mesmo “mudou nossas vidas”.

Compreendamos a criação subjetiva enquanto uma profícua geração de novos afetos, de novas afetividades, enquanto criação de novas partes e de combinações inusitadas de subjetividade. As subjetividades emergem como devires existenciais concernentes a novas combinações emotivas. Esta emergência, por sua vez, estaria ligada àquilo que Guattari chamou de “self-emergente” (sense of an emergent self) que é um sentimento “comovente de primeira descoberta do mundo”, como aquele há pouco exemplificado. Este sentimento, que reorganiza topicamente as outras modalidades do self, mostra-se sempre como “um momento fecundo”, um momento de criação de singularidade, de originalidade subjetiva.

O termo singularização é usado para designar os processos disruptores no campo da produção de subjetividade: “trata-se dos movimentos de protesto do inconsciente contra a serialização da subjetividade” , através da afirmação de outras maneiras de ser, outras sensibilidades, outras percepções do mundo. Singularizar é criar subjetividades originais, assim como o artista faz com suas obras. “Da mesma forma que ele toma elementos que o interessam no mundo para criar sua obra de arte” , devemos capturar seletivamente as experiências que nos tocam, que nos sensibilizam para compor novas possibilidades de existência, novas subjetividades.

“O que vai caracterizar um processo de singularização é que ele seja automodelizador. Isto é, que ele capte os elementos da situação, que construa seus próprios tipos de referências práticas e teóricas, sem ficar nessa posição constante de dependência daquelas possibilidades já experimentadas” . Uma primeira estratégia nesse sentido seria o não isolamento da arte nos guetos, pois isso implicaria correr o risco de anular sua potência de resistência como reflexo de um elitismo, de um sentimento de superioridade estética ou mesmo de uma covardia à exposição. Essa atitude segregativa implica ainda oferecer a fonte de criação como “objeto de desejo” para a cafetinagem que o capital engendra sobre as criações .

Uma extensão dessa estratégia seria a “inserção de algumas práticas artísticas em pontos de esgarçamento do tecido social, ali onde pulsam a tensão por uma nova composição de forças que pede passagem” . Esta inserção deve ser mobilizada pela prática da exposição na relação de alteridade: “exposição para fora das relações politicamente corretas que confinam o outro numa troca representacional e protege a subjetividade de sua contaminação afetiva” . Para que esta contaminação se propague é também necessário a criação de novos dispositivos espaço-temporais de partilha. Não apenas novas mídias e novas tecnologias, mas, fundamentalmente, novas formas de expressão, outros jeitos de fazer sentir a “vibração do desejo de singularidade” . A obra de arte propriamente dita deve incorporar estas energias. Ela deve conduzir a uma outra leitura do espaço e do tempo na qual se encontra inserida.

Na Europa, em países como a Inglaterra e a Alemanha, algumas formas de utilização tecnológica como veículo de expressão, tanto no campo da música pop, como no campo do tratamento de imagens em vídeo, na programação visual, no design em geral e até na arquitetura, dão indício de uma criação estética singular que passa, antes de tudo, pelo caminho da criação subjetiva. É nesse contexto de uma subversiva/subjetiva apropriação de tecnologias de ponta e de uma atitude radicalmente nomádica em relação ao espaço e ao tempo que Björk se insere.

Essas formas de emergência subjetiva tecnologizada estão bem próximas daquilo que Guattari chama de “subjetividades pós-midiáticas” . Elas são parcelas subjetivas que, na era da informatização planetária, dizem não à alienação, não à mass-mediatização opressiva, e partem rumo à reapropriação e à re-singularização da mídia na composição de novas possibilidades existenciais. A subjetividade “pós-midiática” é aquela cujas possibilidades de reapropriação e reutilização da mídia podem subverter a modelização generalizada da subjetividade.

Essa parcela subjetiva “pós-midiática”, por sua vez, está relacionada com aquilo que Guattari chama de “subjetividade pática”. Ela é justamente aquela que utiliza o conhecimento pático (libertino e devasso) das artes como vetor de emergência de uma subjetividade observadora, de uma experiência não discursiva da duração e do momento. Subjetividade pática é, basicamente, aquela que se (re)atualiza através de outras coordenadas temporais, energéticas e espaciais . A subjetividade pática é uma subjetividade criativa, esquiva em fuga afirmativa.

No entanto, só se faz a “subjetividade pática” operar, só se atinge essa relação com a arte e com a singularização, se (re)ativarmos o “corpo vibrátil” de artista que possuimos, “aquele que apreende o mundo enquanto matéria-força”; aquele que não desacredita no encontro de seu corpo com o universo incorporal de forças e energias que o atravessa; aquele corpo sensível aos efeitos dos encontros dos corpos e suas reações de atração e repulsa; aquele que alcança o invisível, sendo assim capaz de reconectar sua potência de criação à sua potência de resistência à padronização e ao esvaziamento subjetivo.

O que se espera, portanto, de um novo homem é que ele possa sentir (literalmente) os fluxos e as vibrações do mundo que o rodeia; que “reconstrua uma relação particular com o cosmos e com a vida” ; que ele compreenda que os processos de afecção subjetiva se dão dentro de uma lógica de universos virtuais, incorporais – um universo de incertezas que é constantemente desacreditado e desconsiderado pelo racionalismo científico. Que este homem então se recomponha em sua singularidade (autonomização) individual e que crie instâncias de subjetivação que por sua vez afetem a coletividade numa criação subjetiva sui generis que envolva o indivíduo, o grupo, as máquinas e todas as múltiplas trocas que possam entre eles se dar .


1 NANCY, J. L. in ALLIEZ, É. (org.): 2000, 111/ 2.
2 Idem.
3 Idem.
4 Idem.
5 Idem.
6 Como o coloca Frederic Jameson em crítica à obra deleuze-guattariana em “Os dualismos hoje em dia” in ALLIEZ, É. (org.): Gilles Deleuze: Uma Obra Filosófica. São Paulo: Ed. 34, 2000, pp. 373-384.
7 DELEUZE, G. e GUATTARI, F.: 1992, 15.
8 D&G associam explicitamente a imagem do livro à imagem do pensamento. Ver DELEUZE, G. & GUATTARI, F.: Rizoma in “Mil Platôs” (vol. 1). Rio de Janeiro: Ed. 34. 1996.
9 DELEUZE, G. & PARNET, C.: 1998, 12.
10 Referimo-nos especificamente aos conceitos de “ritornelo” e de “galope” que tratam diretamente de música e subjetividade, embora admitamos ainda o fato de que a obra de D&G parece estar sempre falando de música, mesmo que de forma indireta ou ainda não compreendida.
11 JAMESON, F. in ALLIEZ, É. (org.): 2000, 373 a 384.
12 CORAZZA, S e TADEU, T.: 2003, 35.
13 Este histórico contextualizante só foi possível graças aos trabalhos de organização e sistematização da temática subjetiva realizados por Tomaz Tadeu da Silva em sua tríade de livros Antropologia do ciborgue (2000), Pedagogia dos monstros (2000) e Nunca fomos humanos (2001).
14 Expressão utilizada por Jürgen Habermas, no livro O discurso filosófico da modernidade, para se referir àquelas tradições filosóficas que, de Descartes a Sartre e Merleau-Ponty, passando por Kant, Hegel e Husserl, colocam a consciência, concebida como capacidade do ser humano de apreeender o mundo e a si próprio através da autoreflexividade, no centro de seus sistemas filosóficos. “Teoria do sujeito” e “filosofia da consciência” estão estreitamente interligadas: é com base nos pressupostos da segunda que a primeira se fundamenta e se desenvolve. Utiliza-se, no mesmo sentido, a expressão “filosofia do cogito”. Ver SILVA, T. T.: Teoria cultural e Educação: um vocabulário crítico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000d, pp. 59/ 60.
15 SILVA. T.T.: 2000b, 15.
16 PETERS, M.: 2000, 17.
17 SILVA. T.T.: 2000a, 11.
18 Idem: 2000b, 15.
19 Idem: 2000a, 11.
20 A “subjetivação” é teorizada por D&G como sendo um processo de “territorialização paralizante das possibilidades subjetivas”. Para maiores esclarecimentos sobre o assunto, ver GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986.
21 ROLNIK, S.: 2003, 5.
22 GUATTARI, F.: 1992, 177 a 191.
23 Idem.
24 O termo “inconsciente” só é mantido aqui por conveniência.
25 Este termo guattariano, assim como a noção de “emergências subjetivas”, são de fundamental importância para o desenvolvimento da análise sobre a artista Björk. É através da idéia de “multiplicidade de componentes subjetivos” (parcelas, partes, fragmentos) e de seus movimentos de “ascensão ao plano superficial da consciência” (emergência, manifestação) que os capítulos seguintes são desenvolvidos. Estes termos serão mais detalhados a seguir.
26 GUATTARI, F.: idem, 11.
27 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 268.
28 Para Espinosa não há distinção possível entre corpo e alma. Diz ele que “almas também são corpos, e tudo que afeta um afeta inevitavelmente ao outro... O espírito seria a própria idéia de um corpo”. Ver DELEUZE, G.: “Espinosa e nós” in Espinosa: filosofia prática.São Paulo: Escuta, 2000, p. 127.
29 DELEUZE, G.: 2000, 127.
30 MACHADO, R.: 1990, 65 a 67.
31 Idem.
32 Idem.
33 Idem.
34 Idem.
35 ROLNIK, S.: 1989, 23/ 287/ 8.
36 Idem.
37 Idem.
38 CORAZZA, S e TADEU, T.: 2003, 11.
39 GUATTARI, F.: 1993, 177 a 191.
40 Guattari distingue claramente “subjetividade” de “identidade”, argumentando que a primeira é um conceito existencial, ao passo que a segunda é um conceito de referenciação, “de circunscrição da realidade a quadros de referência”. A identidade estaria assim circunscrevendo a subjetividade, no sentido de que esta possa estar variando e se multiplicando, mesmo dentro de um quadro identitário pretensamente fechado. Para maiores esclarecimentos, ver GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 68.
41 GUATTARI, F.: 1992, 153.
42 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 47.
43 GUATTARI, F.: idem.
44 GUATTARI, F.: idem, 11.
45 Idem: 1992, 185.
46 Referimo-nos às redes midiáticas integradas que vão desde as mega emissoras de TV, passando pelas editoras de periódicos de atualidades, até a própria internet. Também à industrialização serializada que alimenta as corporações comerciais e suas mega lojas de departamentos, ao entretenimento comercializado que vai do turismo massificado, ao cinema hollywoodiano, à música pop veiculada nas grandes rádios, etc.
47 Referimo-nos especificamente às inovações estéticas que se vêem totalmente seduzidas e involuntariamente capturadas para suprir as máquinas de serialização e homogeneização simbólicas do capitalismo com “novidades vendáveis”. Para maiores esclarecimentos a respeito da “racionalidade e da sagacidade da subjetividade capitalística”, ver GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 44.
48 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 12.
49 ROLNIK, S.: 1989, 49.
50 ROLNIK, S.: 2003, 3.
51 GUATTARI, F.: idem.
52 Idem.
53 Idem.
54 ROLNIK, S.: idem.
55 GUATTARI, F.: 1992, 180.
56 Idem, 153.
57 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 45.
58 Idem.
59 Idem, 46.
60 ROLNIK, S.: 2003, 10.
61 Idem.
62 Idem.
63 Idem.
64 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: idem, 47.
65 GUATTARI, F.: 1992, 10.
66 ROLNIK, S.: 1986, 26 e 2003, 5.
67 GUATTARI, F.: Idem
68 Idem.

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