terça-feira, 31 de agosto de 2010

proposta incial

“Olho, o corpo e a história da imagem” é espetáculo de dança formado pelo encadeamento de cinco video-instalações imersivas que tratam da relação do corpo com sua imagem.
A presença física de um corpo é imprescindível para o funcionamento das instalações, criando circuitos fechados que interferem poeticamente na arquitetura do espaço de apresentação. O objetivo principal é estabelecer um campo expressivo entre o corpo, a tecnologia e o espaço, meios entre os quais a visualidade se forma.
A concepção original surgiu do interesse em rever o início do desenvolvimento da linguagem audiovisual, especificamente a transição entre a fotografia e o cinema, além de investigar os jogos ilusionistas conseguidos com reflexos, sombras e espelhos que compunham os efeitos especiais do teatro neste período. As pesquisas de visionários do século XIX, como Daguerre, Marey e Muybridge, marcadas pelo desenvolvimento tecnológico, explicitando a visão de mundo que formavam essas primeiras imagens com movimento, inauguraram uma nova visualidade que liberou a arte para outros modos de representação do real. As instalações colocam o corpo neste contexto, em que a imagem se forma num cruzamento entre o científico e o mágico. O tema se configura então como um jogo entre a visão e a visualidade do corpo, o que nos leva às idéias de auto-imagem, propriocepção e fetichismo.
A criação de visualidades híbridas e efêmeras, visíveis apenas pelo jogo de espelhamento entre máquina e corpo, visa salientar o caráter descartável da individualidade e enfatizar os aspectos relacionais do corpo. O performer dança a partir do jogo de relações entre a imagem, a sombra e a fisicalidade de seu corpo, criando relações com as máquinas que ampliam a expressividade da dança em efeitos visuais que dialogam com a arquitetura, criando uma ambiência poética.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Mapas de Video

Sesc Pinheiros
Galeria Olido

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

1º set - Metodologia Exposta

Montagem: Um performer opera a câmera percorrendo o corpo do outro, um foco de luz acoplado a câmera ilumina um percurso na pele do outro performer que se movimenta a partir desta sensação. O dançarino segura o projetor no centro do seu corpo, de modo que qualquer movimentação faça a imagem percorrer o espaço, numa dança que dialoga com o ritmo da movimentacão da câmera. O resultado é um jogo de influências entre o ritmo das três movimentações, a do corpo, a da câmera e a do projetor.



Conceito: Este set remete ao voyerismo dos primórdios da medicina, em que o interior do corpo humano despertava o interesse ávido de curiosos. As aulas de medicina eram cercadas por olhos atentos, as operações eram verdadeiros shows de horror, em que a dilatação da dor do paciente amarrado sem anestesia impressionava a todos os expectadores possibilitando uma catarse de maior impacto que qualquer espetáculo teatral, como se a sensação saltasse do corpo e atingisse os expectadores.

Referências:

Rembrandt


Gunther von Hagens

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

2º set - Entremeio

Montagem: Jogo de perspectiva entre um projetor e uma câmera que capta um close do corpo do performer e o projeta sobre seu próprio corpo, criando uma sobreposicão de peles. O resultado é um buraco disforme dançando dentro da imagem. Uma segundo projetor, cruzando o primeiro, projeta uma endoscopia na parede ao lado. São dois closes do corpo expandidos para fora dele, com duas sombras diferentes de um mesmo referente, gerando uma espacialidade extra-corporal que subverte os limites do corpo, como se este estivesse do avesso.



Conceito: Este set remete ao antropocentrismo inevitável à experiência humana, à idéia de que sempre seremos o ponto central a partir do qual percebemos o mundo. Na lógica das sensações é o corpo que cria o espaço, o estabelece a partir de si, não de uma imagem visual exteriorizada, mas do reconhecimento de uma potencialidade sensorial. A imagem que figura essa idéia é a do Homunculus,. O set de vídeo cria distorções que estendem o corpo e confundem sua organização.

Referências

Homunculus


Tarsila do Amaral


Picasso


Gunther von Hagens

3º set - Supereu

Montagem: Jogo de perspectiva criado pelo posicionamento de uma câmera em oposição a um projetor, de tal modo que a imagem da frente do performer seja projetada nas suas costas. O intérprete relaciona-se com sua própria imagem, hora aproximando-se da câmera fazendo com que sua imagem aumente e seu corpo físico pareça estar dentro deste duplo virtual, hora afastando-se da câmera de modo que a imagem diminua a ponto de ser projetada inteiramente sobre seu corpo físico. Cria-se um jogo de dimensões em que o corpo e a imagem alternam-se como conteúdo e continente. Um segundo projetor, conectado a um dvd player, projeta um close do performer cruzando a primeira imagem e gerando uma segunda sombra na parede lateral.



Conceito: Esta instalação remete a identificação imediata que temos com nossa imagem. A partir dela traçamos nossa pessoalidade, considerando que a identidade reside no corpo, mais especificamente no rosto. Por outro lado a sombra sempre se interpõe entre o corpo e a auto imagem, mostrando outros ângulos ou “esburacando” a imagem. O jogo de perspectiva remete ao cubismo cristalino, apresentando todas as faces de um mesmo objeto simultaneamente a fim de sintetiza-lo.

Referências:

Picasso

4º set - Multidão em série

Montagem: Set com uma câmera e projetor posicionados na mesma direção, captam a imagem do corpo e a multiplica na parede em frente. O performer dança transitando entre diferentes posturas corporais que remetem a diversos momentos da representação do corpo na história das artes plásticas. O performer que opera a câmera provoca deslocamentos deste rastro de imagem enquanto o outro dança num mesmo lugar.



Conceito: Esta instalação ilustra a idéia de que o corpo é dotado de uma visibilidade que se expande pelo espaço. A forma perdura no tempo, se multiplica gerando semelhanças que a perpetuam.

Referências:

Duchamp


Andy Warhol

terça-feira, 24 de agosto de 2010

5º set - História

Montagem: Jogo de sobreposição entre o corpo do intérprete que dança ao vivo e a imagem do seu próprio corpo realizando uma coreografia previamente gravada em que simula as posturas de diferentes momentos da representação do corpo na história da arte, explorando as posturas e também os tempos usados para posar para um retrato a óleo, para uma fotografia, o ritmo do movimento no cinema mudo, etc...



Conceito: Trata-se de um diálogo em que o performer tenta vestir a imagem, perseguindo o movimento que sua própria imagem faz no vídeo, criando uma analogia entre a memória corporal, auto-imagem e fetichismo. A dança retoma a coreografia do primeiro set, entretando aqui o vídeo pré-gravado antecipa a coreografia a ser realizada ao vivo e contem flashes de imagens da história da arte que revelam a origem daquela organização corporal.

Referências
Cinema Mudo


Renascimento


Arte Grega


Arte Egícpcia

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ficha técnica

Ficha técnica

Concepcão e direção geral: Marcio Marques

Preparação corporal e co-direção: Anderson Gouvêa

Intérpretes criadores: Anderson Gouvêa, Beatriz Tomaz, Estefano Romani, Leonardo D’Aquino, Marcio Marques

Preparação cênica Beatriz Tomaz: Estelamare dos Santos

Preparação vocal Beatriz Tomaz: Andréa Drigo

Trilha sonora original: Beatriz Tomaz e Pipo Pegoraro

Iluminação: Simone Donatelli

VJ: ninguem

Assistente de vídeo: Patricia Alegre

Figurino: Marina Reis

Cenotécnico e assistente de producão: Marcus Filomenus

Design gráfico: Fernando Sciarra

Foto still: Patricia Alegre

Consultoria filosófica : Rodrigo Reis Rodrigues

Produção: Gisele Pennella

domingo, 22 de agosto de 2010

currículos

Marcio Marques
DRT 14188 Formado em cinema na Faap e em teatro pelo Teatro Escola Macunaíma. Estudou dança contemporânea Anderson Gouvêa e Maristela Estrela, BMC com Tarina Quello no Studio Nova Dança, e Martha Grahan com Paula Martins. Participou de oficinas de Sandro Borelli, Dudude Hermman, Alejandro Ahmed, Key Zetta e Cia, Juliana Carneiro da Cunha, etc. Trabalhou em peças de teatro e musicais com Adgur Mikhailrovich Kove, Carminda Mendes André, Zé Eduardo Amarante, Dirce Thomaz. Participou como intérprete em performances de Laura Lima - MAM SP, e de Sandro Borelli e Fábio Mazzoni - Corpo Instalação-2008. Estudou roteirização com José Wisnik, cinema documental alemão com Klauss Wildenhahn e história da fotografia no Intituto Moreira Salles. Trabalhou como diretor de audio-visual nas produtoras 3.14, Chá dos 5 e Espalhe. Trabalhou como assistente de direção de Lineu Palaia, Danilo Marques. Foi assitente de Meire Moreno e Norma Bloom em cursos de atuação para TV. Partipou como ator, assitente de direção, produtor e diretor de arte em curtas-metragens, como assitente de direção em documentários (Casa de Cinema) e assistente de direção em programas de tv (SBT, MTV). Atualmente dirige vídeos-institucionais, educativos, publicitários e desenvolve vídeo-instalações. Também trabalha com Yoga Terapia e Arte-Educação. Integrante do grupo Minik Momdó desde 2000, tendo atuado como intérprete criador, vídeo-cenógrafo, assistente de produção e orientador de pesquisa teórica.

Beatriz Tomaz
OMB 41795 Graduada em Comunicação Social pela PUC-SP. Estudou canto com Regina Machado, Claudia Mocci e Andréa Drigo, Dança Contemporânea no Estúdio Nova Dança com Anderson Golveia, Percussão Vocal e Corporal com Stênio Mendes, Percussão com Ari Colaris, Música Contemporânea com Sérgio Villa Franca, piano com Maria do Carmo Guaranha. Atualmente atua como cantora e preparadora vocal, faz parte do grupo de pesquisa vocal “Cia 3 de Canto Contemporâneo” com direção de Andréa Drigo (desde 2006). Integra o grupo Minik Momdó (desde 2007), onde participou como intérprete-criadora do espetáculo Pólissemos, também como intérprete-criadora, concepção de trilha original e preparação vocal do espetáculo OcO.

Estéfano Romani Estudante de Artes Cênicas da ECA-USP. Participa a dois anos da Cia Panapaná de DançaTeatro com a qual participou de uma intervenção na exposição "A Revolta da Carne" no SESC Consolação e se apresentou na Mostra Satyrianas de 2009, ambos exercícios cênicos extraídos do projeto Glórias de Empréstimo - Cena 2 que teve suas apresentações em 2010. Cursou Tecido e Trapézio durante seis meses na escola Galpão do Circo. Como ator participou durante um ano da Qualquer Cia de Teatro, atuando nas peças "O Homem que Queria"e "Ideal Town - Uma cidade Ideal". Também durante um ano foi integrante da Cia Coletivo de Artistas Europeus, atuando nas duas temporadas de "Projeto Canastra".


Pipo Pegorato
Músico, engenheiro de audio e produtor musical. Graduou-se em Comunicação no Instituto de Audio e Vídeo em 1999. Trabalha com sonoplastia e trilha Sonora para teatro, filmes, publicidade e com produção para bandas e músicos. Entre seus principais trabalhos destacam-se Ceumar, Rubi, Ilana Volcov, Zé Barbeiro, Raquel Ornellas, Cássio Carvalho, Luando Casella, Cláudia Schapira, Andréia Drigo, Péricles Cavalcanti, Anabel Bian, Q’saliva, Carina Iglesias, Thera Blue, Roberta Estrela D’Alva, Kiko Danucci, Alexandre Ribeiro, Rodrigo Y Castro, Fred Dale, Junio Barreto, Wagner Merije, Nando Távora, Otávio Dias, Camilo Carrara, Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Bruno Morais, Ricardo Calderoni, e Leo Cavalcanti . Lançou seu primeiro álbun solo – INTRO, com composições próprias e inéditas.

Simone Donatelli
DRT-10.543 É Iluminadora, fotografa e arte-educadora. Graduada pelo Faculdade Senac em Fotografia / Comunicação e artes. Entre 1993 e 2000 foi social prorietária da produtora de video 3.14, produzindo e editando videos publicitários e instituicionais. Recebeu o prêmio do Festival de Vídeo Brasilidade Instituto Goethe / Cinemateca Mam / RJ pelo documentario “ O Brasil é uma bandeira” que roteirizou, editou e dirigiu, , exibindo-o a convite na Cinemateca do MAM / RJ e no Cine Festival de Munique / Alemanha, 1997. Coordenou e pré produziu a mostra “Brésilian Cliips” No Centro George Pompidou, em Paris- 1995. Entre seus trabalhos como iluminadora destacam-se The Flash and Crash Days / Império das meias verdades / Unglauber / trilogia A. B.E.S.T.A com direção Gerald Thomas, Integrante da Cia Ópera Seca, entre 1994 e 1995, participando também Festival Latino Americano - Córdoba–Argentina, 1995; Festival Internacional de Copenhagen – Dinamarca, 1994. Boteco / Domésticas ,direção Renata Melo, pelo qual recebeu a Indicação de Melhor Iluminação - Prêmio Shell 1999. Gedanken, Corpo Aberto, Pele, apresentado também no Festival de Dança Contemporânea de Berlim - Move Berlin, 2003, File - Festival de Imagem Eletrônica, 2002; Rumos Dança - Itaú Cultural, Dança Brasil 2001; Unidades do Sesc SP, 1998, 1997

Adriano Ano

Marina Reis
Artista plástica, performer, figurinista, aderecista e visagista. É formada em Artes Plásticas pela UNICAMP e pós-graduada em Desenho de Moda e Criação pela Faculdade Santa Marcelina. Também fez cursos de especialização como Body Art, Teatro-Ritual Kathakali (Cochin, India) e Experimental Jewerly na St Martin University (Londres). É membro fundadora do grupo Mídia Ka, de Renato Cohen, TempoKala com Fernanda Ferrari e Ricardo Palmieri e Laboratório Garapa com Fernanda Ferrari. BR3 do Teatro da Vertigem. Entre seus principais trabalhos como figurinista destacam-se BR3 do Teatro da Vertigem, a Opereta Rossini Hits, e o figurino performático “ParangoLixo-Luxo” da performance O Homem Refluxo de Peri pane, apresentada no Brasil, na Espanha e Itália. Em 2005 ganhou o 11º. Prêmio Avon Color de Maquiagem, pela peça Tauromaquia, em 2006, o Prêmio Revelação Coca Cola-Femsa de Teatro Infantil pelas peças Assembléia dos Bichos e Um destino para Julieta e Romeu e em 2008 o Prêmio de Melhor Figurino Coca Cola-Femsa com a peça O Tesouro de Balacobaco. E duas indicações ao Prêmio de Melhor Figurino Coca Cola-Femsa 2009 com a peça Yuuki!!! O Pequeno Samurai, e Luna Clara e Apollo 11.

Anderson gouvêa
Bacharel e Licenciado em Dança pelo Curso Dança e Movimento da Universidade Anhembi Morumbi, professor de dança contemporânea e arte-educador. Concebeu e realizou espetáculos com Juliana Moares (Rumos Itaú Cultural / Prêmio Funarte Petrobrás de Fomento a Dança.), trabalhou como intérprete com Constanza Macras, Marta Soares (Premio Funarte Petrobrás de Fomento à Dança) e como performer em parceira com Marco Paulo Rolla. Foi integrante da Cia. Oito Nova Dança (2003-2007), onde desenvolveu como criador-interpréte o espetáculo “Trapiche” (Programa Petrobrás Artes Cênicas e Prêmio EnCena – FUNARTE). Assinou a direção junto a Marina Caron e José Romero do espetáculo “Trio de Dois, Três de Quatro”, “Compêndio para a infância”como criador-intérprete – (Premio Klauss Viana.) Integra a Balangandança Cia. desde 2004, como criador-interpréte do espetáculo “O Tal do Quintal” (Premio APCA 2006. Contemplado pelo Prêmio Estímulo de Dança e pelo Prêmio Funarte/Petrobras).

Leonardo D’Aquino
Estudante de Artes Cênicas da ECA-USP. Estudou ballet clássico com Elizabeth Rodrigues, participou da Atêlie Cia de Dança onde pesquisou dança contemporânea com Marta César por dois anos. Participou dos espetáculos Dança Ora Bolas. Foi campeão brasileiro de patinação artistica em 1998 e 1999. Como ator participou por três anos da Companhia Duplô, em que dividiu a direção do espetáculo A bicicleta do condenado com Gabriela Linhares. Também estudou com dois anos com André Francisco e Loren Fisher. Integra o Minik Momdó desde 2008.

Stephano

Patricia Alegre

Abel dos Santos
Participações em atividades culturais: em 2006 assistente de cenotécnica e contra-regra junto ao grupo II TRUPE DE CHOQUE, no espetáculo teatral MIOPIA. Em 2007 como canhoeiro junto a CIA DE TEATRO OS DESEQUILIBRADOS na peça A VIDA O FILME. Em 2007, 2008 e 2009 junto ao grupo MINIK MONDÓ, no espetáculo de dança POLÍSSEMOS, como Assistente de Cenotécnica e Contra-regra e no espetáculo OCO como cenotécnico e contra-regra.

sábado, 21 de agosto de 2010

Bibliografia de pesquisa

O desenho de Altamira à Picasso
Terisio Pignatti
Ed Livros Abril

Sobre fotografia
Susan Sontag
Companhia das Letras

O corpo incerto
Francisco Ortega
Garamond

Movimento total
José Gil
Iluminuras

Corpos de passagem
Denise Bernuzzi de Sant'Anna
Estação Liberdade

A Imagem
Jacques Aumont
Papirus Editora

Go Figure! Multicultural Aspects of Human Form in Art
Lowe Art Museum
University of Miami

Teoria Geral dos Sistemas
Ludwig Von Bertalanffy
Ed Vozes

Teoria do Conhecimento e Arte
Jorge Albuquerque Vieira
Edições LEO

Caosmose - Um novo paradigma Estético
Félix Gattari
Ed 34

A Sociedade do Espetáculo
Guy Debord
Ed Contraponto

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Nova Temporada

Resumo do livro - Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanff

Texto de Lucas Hermann Negri

1 – Introdução

Os Sistemas estão em toda parte

Por consequência do avanço tecnológico, o termo “sistemas” vem se difundindo na sociedade moderna. A necessidade de se encontrar novos meios para realizar tarefas faz surgir novas profissões voltadas ao “enfoque sistêmico”, com o objetivo de não somente realizar a tarefa pretendia, mas a realizar com o máximo de eficiência e menor custo possíveis. Todos essas mudanças levam o período atual a se caracterizar como uma “Segunda Revolução Industrial”, pois os sistemas estão presentes em todos os campos da ciência. Essa transformação ocorre na maneira do homem pensar, que passa a encarar tudo como se fossem grandes complexos (sistemas), reorientando o pensamento científico. As novas descobertas nos campos da biologia molecular, genética, medicina, entre outros, já se tornaram conhecimento comum, porém falta uma visão voltada mais ao nível da organização da matéria viva, e não somente uma visão mais aprofundada dos complexos da matéria. A teoria sobre sistemas pode servir para diversos campos, até mesmo nas ciências sociais, onde se deve tratar os fenômenos sociais contemporâneos como sendo “sistemas”, mesmo sabendo a complexidade das definições sócio-culturais dos povos atuais.
Os grandes acontecimentos da história foram tidos como atos de indivíduos, que foram tomados como seres fora dos padrões humanos (tratados como gênios, pessoas com capacidades sobre-humanas), mas que na verdade não são os grandes encarregados pelos acontecimentos, somente uma pequena peça de um grande “sistema”, que pode ser representado por ideologias e tendências sócio-culturais.
Mesmo sabendo das deficiências das teorias como das de Spengler e Toynbee, as leis dos sistemas sócio-culturais são dotadas de sentido, mas não formam algo inevitável.
Apesar da história e a sociologia tratarem de organizações informais, foi desenvolvido a “teoria das organizações formais”, que podem ter como exemplos empresas comerciais que seguem algum tipo de “padrão/regras”. O estudo dessas organizações, no ponto de vista sistêmico, as trata como um sistema de variáveis mutuamente dependentes (se interagem). Por consequência se equipara a teoria por trás das organizações com a teoria geral dos sistemas, que procura tratar os sistemas como sendo uma grande entidade, e não um aglomerado de partes.
Tudo o que já foi comentado pode ilustrar o conceito de “sistemas”. Uma consequência do conhecimento sobre sistemas é que o “novo mundo” não se refere mais a pessoas, mas sim a “sistemas”. O ser humano, “o objeto falível”, se torna um item de consumo que pode ser facilmente substituído, e deve ser eliminado e substituído por máquinas que ele mesmo criou ou
se tornar um ser idiota treinado para uma única coisa (um ser “super especializado”). O indivíduo não passar a ser nada mais do que uma “roda dentada” do grande sistema, regido por alguns “líderes” que só se preocupam com o próprio sistema.
Não importa se considerarmos essa expansão do conhecimento como sendo algo benéfico ou uma extensão do pensamento de “linhas de produção”, devemos saber que esses fatos são dignos
de um intenso estudo.

História da Teoria dos Sistemas

O conceito de “Sistema” possui uma longa história, apesar de que o termo “Sistema” não era mencionado. Vários pensadores importantes fizeram parte dessa história, como Leibniz, Nicolau de Cusa, Marx e Hegel.
Outro precursor dos “Sistemas” foram as “Gestalten físicas”, escritas por Kohler, que seguiam
um pensamento parecido, porém se limitava à física, e não tratava de toda a generalidade do problema. Em uma publicação posterior, Kohler deu mais um avanço, criando um postulado de uma teoria dos sistemas, que era destinada a sistemas orgânicos e inorgânicos. A obra clássica de Lotka se aproximou mais do objetivo, ao tratar a sociedade como um sistema e se preocupar mais com problemas da sociedade do que problemas biológicos de um indivíduo.
A necessidade da abordagem dos sistemas só se tornou visível recentemente, quando se percebeu que não era viável tratar as ciências por partes isoladas. Com essa nova abordagem, novas criações se tornaram viáveis em todos os ramos da ciência.
Ludwig ficou intrigado com peças que faltavam na biologia. A abordagem atual não tratava do organismo como um sistema, que interagia para criar condições de vida, mas sim tratava com um enfoque mecanicista.
Idéias semelhantes começaram a surgir em outros lugares, mostrando que esse era o início de uma nova tendência, que necessitava de tempo para ser aceita. Juntamente com o trabalho sobre o metabolismo e as novas teorias sobre o organismo, a teoria dos sistemas abertos foi proposta, baseando-se no fato que o organismo é um sistema aberto, apesar de que na época não existia nenhuma teoria desse tipo. Assim, a biofísica passou a exigir uma melhora da física convencional, o que mais tarde acabou ficando conhecida como termodinâmica irreversível.
A biologia até então era tida igual ao trabalho em laboratório, o que fez o autor passar por rejeições ao publicar “Theoretische Biologie”, que tratava de um outro campo da biologia, que só passou a ser aceito e divulgado mais tarde. Por causa da última guerra, parte das publicações foram destruídas. Após a guerra, a teoria geral dos sistemas foi amplamente discutida entre físicos e em conferências.
Um grande obstáculo para a aceitação da teoria dos sistemas foi o fato que ela era tida como trivial e falsa, por causa de suas analogias superficiais que mudavam as diferenças reais, conduzindo a conclusões erradas. Os ataques à teoria dos sistemas não atingiam o verdadeiro objetivo dela, que era ter uma interpretação generalista e uma teoria sobre assuntos que até então não existiam.
Outra linha de desenvolvimento estava surgindo, com a publicação do livro “Cybernetics” de Norbert Wiener, que foi o resultado dos recentes estudos da tecnologia de computadores, teoria da informação e das máquinas auto-reguladoras. Wiener levou os conceitos cibernéticos de retroação além dos campos da tecnologia, generalizando-os nos campos biológicos e sociais. A teoria dos sistemas não surgiu por causa dos esforços feitos para a guerra, mas sim pelos esforços que já haviam sido feitos antes.

Rumos da Teoria dos Sistemas

A sociedade estava em uma época que encarava qualquer nova descoberta ou mudança como uma revolução, por mais trivial que ela fosse. O início da implementação da teoria dos sistemas não fugiu muito disso.
Kuhn define uma revolução científica como o aparecimento de novos paradigmas conceituais que mostram aspectos que estavam escondidos anteriormente na ciência convencional. De acordo com essa definição, a implantação da teoria dos sistemas ocasionou uma mudança nos métodos na prática científica.
Mas esse novo conhecimento leva ao aumento da importância de se fazer uma análise filosófica, que normalmente é deixada de lado. Com grande frequência, as versões primitivas de um novo “paradigma” são voltadas somente à resolução de problemas específicos, falhando quando se tenta aplicar em outros problemas. O novo paradigma engloba novos problemas, inclusive os que antes foram deixados de lado como “metafísicos”. O grande problema do sistema são as limitações existentes na forma em que a ciência analisa os fatos e dados.

A ciência clássica faz uso do “procedimento analítico”, que estuda uma entidade a separando em partes e estudando separadamente cada uma. Ela procura por unidades “atômicas”. Para aplicar o “procedimento analítico”, deve-se atender a dois pré-requisitos: Não devem haver interações entre as “partes” ou as interações devem ser desprezíveis. Esses requisitos garantem que a entidade possa ser estudada matematicamente.

Teoria dos compartimentos: É um aspecto dos sistemas complicado o suficiente para ser tratado separadamente. É uma teoria segundo o qual os sistemas podem ser divididos em “sistemas menores”, que interagem com outros “sistemas menores”. Existem dificuldades matemáticas ao se analisar um número razoável de “compartimentos”, somente sendo possível o cálculo utilizando as Transformações de Laplace, a introdução das redes e dos gráficos.

Teoria dos conjuntos: As propriedades formais dos sistemas podem ser axiomatizadas. Este enfoque se mostra superior às formulações mais primitivas da teoria dos sistemas.

Teoria dos gráficos: Muitos problemas não tratam de relações quantitativas, mas sim à relações topológicas dos sistemas. Uma boa abordagem à esse tipo de problema é utilizando a teoria dos gráficos. Em termos matemáticos, essa teoria se liga à álgebra das matrizes e forma modelos seguindo a teoria dos compartimentos.

Teoria das redes: A teoria das redes tem ligação com as teorias já descritas. É aplicada em sistemas como as “redes nervosas”.

Cibernética: Trata da “transferência de informação” e da “retroação”. Tem grande aplicação, porém não caracteriza a “teoria dos sistemas” em geral. É utilizada para descrever os mecanismos reguladores, e serve até mesmo para sistemas do tipo “caixa preta” (quando não se conhece o mecanismo real, e só é definido pelos resultados da entrada de dados).

Computação e simulação: Para resolver conjuntos de equações que seriam muito cansativas ou praticamente impossíveis, usa-se os computadores para realizar o cálculo.

Teoria da informação: Baseia-se no conceito de que a informação pode ser usada como medida de organização. Não possui muitas aplicações, excluindo no campo de engenharia da comunicação.

Teoria dos autômatos: Autômatos são “máquinas algorítmicas”, capazes de calcular qualquer processo de qualquer complexidade, se o número de operações lógicas puder ser expresso e for finito.

Teoria dos jogos: Apesar de ser diferente das outras teorias, ela se enquadra como sistema pois trata do comportamento do “jogador”, que procura ter o maior ganho e menor perda possíveis.

Teoria da decisão: “É uma teoria matemática que trata de escolhas entre alternativas”.

Teoria da fila: Trata da otimização de arranjos. Mostra que existem diferentes enfoques para se investigar sistemas, incluindo grandes métodos matemáticos.

Existe incompatibilidades entre os modelos e a realidade, pois mesmo tendo um modelo complicado e bem elaborado, pode ser difícil encontrar uma aplicação prática para ele. Grande parte das teorias causaram muita expectativa, mas não tiveram resultados do nível esperado, como por exemplo o caso da teoria da informação, que tem um alto desenvolvimento matemático, mas não serviu em nada para campos como psicologia e sociologia.
As vantagens de modelos matemáticos são bem conhecidas e exploradas, como a ausência de ambiguidade e a possibilidade de se verificar resultados observando os dados que são utilizados. Esses modelos, porém, não substituem os modelos formulados em linguagem ordinária.
A matemática representa algoritmos que são muito mais precisos do que a linguagem ordinária. Expressões em linguagem ordinária precederam os algoritmos, e algumas teorias, como a de Darwin, só ganharam seus modelos matemáticos mais tarde.
Não é necessário possuir um modelo matemático para algo ser caracterizado como um “sistema”, como por exemplo sistemas no campo da sociologia.
Existem um grande problema ao se tratar de sistemas com muitas equações/números imensos, pois, apesar de teoricamente algum autômato poder calcular qualquer cois que possa ser expressa em números e ser finita, é praticamente impossível e ruim de se calcular um sistema com um enorme número de etapas.
De acordo com Hart, as invenções humanas são combinações de elementos conhecidos. Seguindo o pensamento de Hart, conclue-se que quando se aumentar o número de permutações e combinações dos elementos existentes, vai se aumentar a o número de novas invenções. Hart também apresentou curvas mostrando a velocidade de crescimento cultural e outras áreas humanas. Essas curvas constituem uma superaceleração à maneira da curva “log-log”.
A concepção mecanicista, mesmo tomada na forma moderna e generalizada de um autômato de Turing, falha ao tratar de regulações subsequentes a perturbações arbitrárias, como também ao tratar de números imensos.
As considerações acima referem-se a conceitos fundamentais da teoria dos sistemas, como o de ordem hierárquica. Podemos ver o universo como uma grande hierarquia, das partículas elementares até os grandes complexos. As leias de organização atuais são insuficientes para o mundo sub atômico.
Os princípios da ordem hierárquica podem ser descritos pela linguagem verbal, e possui idéias “semimatemáticas” relacionadas com a teoria das matrizes em termos da lógica matemática.

2 – O significado da teoria geral dos sistemas

A procura de uma teoria geral dos sistemas

A principal característica da ciência moderna é a especialização, que acaba dividindo a ciência em vários ramos e sub-ramos, prendendo o cientista em um universo privado, com pouca comunicação com outras áreas à sua volta.
Esse fato se opõe a outro aspecto. Concepções (e problemas) semelhantes surgiram em áreas bem diferentes.
A física clássica tinha como meta resolver os fenômenos naturais, o que foi expresso no ideal do “espírito laplaciano”, que diz que pode-se predizer o estado do universo partindo da posição e do momento das partículas. Quando as leis da física foram substituídas por leis estatísticas, essa concepção, apesar de mecanicista, não foi alterada, mas sim reforçada. Contrastando com essa concepção mecanicista, criou-se problemas de totalidade, interação dinâmica e organização em vários ramos da física.
Na concepção organimística da biologia, é necessário estudar todo o sistema, e não somente as partes isoladas, sistema esse resultante da interação dinâmica das partes. Se as partes fossem estudadas separadamente, iam se obter outros resultados. Este conceito também serve para outras áreas, como por exemplo na psicologia.
Pouco tempo atrás, a ciência exata identificava-se quase por completo com a física teórica. Não se tentava enunciar leis exatas em campos diferentes da física (poucos obtiveram reconhecimento). Porém, com o progresso nessas áreas, torna-se necessário uma expansão dos conceitos, com o objetivo de permitir o estabelecimento de sistemas de leis onde a física não pode estar presente.
Organismos vivos são tomados como sistemas abertos, pois interagem com o ambiente, enquanto a física e outros campos exatos tratam de sistemas fechados. Somente mais tarde a física passou a englobar também sistemas abertos e estados de desequilíbrio.
O significado dessa disciplina é que nada obriga a por um um termo aos sistemas tratados em física, pois pode-se aspirar a princípios aplicáveis aos sistemas em geral, independente da sua natureza. Pode se verificar que existem modelos, princípios e leis que se aplicam aos sistemas, independente do seu tipo particular.
Por consequência ao que foi dito acima, começam a aparecer semelhanças nas estruturas em diferentes áreas. Uma mesma lei pode servir ao mesmo tempo para o campo da biologia quanto ao campo da matemática.
A formulação de uma teoria geral dos sistemas poderia fornecer modelos a serem usados em vários campos, economizando tempo e trabalho, aumentando o progresso nos campos.
O método clássico era adequado para resolução de problemas que podiam ser isolados e calculados separadamente, porém não serve para processos que incluem interações, exigindo um novo pensamento matemático.
Não se deve pensar que, por exemplo, pela teoria geral dos sistemas os países são organismos superiores, e as pessoas são apenas células insignificantes. Esse pensamento está errado e leva a
analogias sem significação.
Existem áreas, como a genética e a economia, que são de alta complexidade, e formular uma teoria completa é uma tarefa muito difícil, e devemos nos contentar com uma “explicação em princípio”.

Propósitos da teoria geral dos sistemas

Pontos de vistas semelhantes surgiram em várias disciplinas da ciência, como também problemas que não são entendíveis se analisar apenas as partes isoladas. Essa correspondência é muito importante e indica uma mudança na atitude da física, que passa a tentar achar uma teoria geral que sirva para todas as áreas da ciência, tentando encontrar uma teoria exata nos campos não físicos da ciência.
Estas considerações levam ao postulado de uma nova disciplina, chamada de “Teoria Geral dos Sistemas”, que deixa menos vago o conceito de “totalidade”.

Sistemas fechados e abertos: limitações da física convencional

A física convencional só trata de sistemas fechados, que são aqueles que estão isolados do seu ambiente. Porém, normalmente esses sistemas que só são estudados em casos isolados nunca aparecem separados do meio, mas sim interagindo com outros sistemas. Somente nos últimos anos que a física passou a englobar alguns casos de sistemas abertos.
Existe um grande contraste entre a natureza animada e a natureza inanimada, no ponto de vista da física convencional. O próprio metabolismo humano é um grande paradoxo, como também o princípio da eqüifinalidade.
Ao pegar o ponto de vista dos sistemas generalizados, muitas das supostas violações, paradoxos e contradições da física convencional desaparecem, e o conceito de sistema aberto pode ser aplicado à níveis não físicos.

Informação e entropia

Outro ramo da física, a teoria da comunicação, é estreitamente ligado à teoria dos sistemas. Em muitos casos, o fluxo de informações se parece com um fluxo de energia, em outros, não. Porém, existem formas de “medir” a informação, em termos de “decisões”.
O segundo conceito geral da teoria da comunicação é o conceito da retroação. Este conceito é muito usado nos sistemas auto-reguladores, pois garantem uma “direção” da ação. Um bom exemplo são os mísseis que possuem um sistema próprio de radar e que procuram pelo alvo. Porém, não é somente em aparatos tecnológicos que existe retroação. Vários fenômenos biológicos correspondem ao modelo da retroação, como por exemplo o fenômeno da homeostase.

Causalidade e Teologia

Na concepção mecanicista da física, o mundo dos organismos era visto como um “produto do acaso”, onde não se entendia o movimento dos átomos, nem as leis da causalidade.
Os conceitos de teologia e finalidade pareciam estar fora do âmbito da ciência, e eram tratados como algo estranho pela ciência . Porém, não se pode conceber um organismo vivo sem tratar dos conceitos da adaptação, finalidade e etc. A concepção atual considera esses aspectos como “partes” da ciência, e já trata de modelos como a eqüifinalidade, retroação e o modelo do “comportamento” adaptativo.

Que é a organização?

A organização era estranha ao mundo mecanicista. Os organismos são exemplos de “coisas organizadas”, assim como as os átomos e as moléculas. Uma organização tem como características, tanto para organismos vivos quanto para outros tipos de “sistemas organizados”, noções de crescimento, diferenciação, ordem hierárquica, controle, entre outras. Pela lei do oligopólio, se existirem organizações competindo, os conflitos entre elas aumentam a medida em que o número de organizações vão diminuindo. Quando sobram apenas um par, o atrito é tão grande que pode levar a destruição das duas organizações restantes.

A teoria geral dos sistemas e a unidade da ciência

A teoria geral dos sistemas tem como função integrar a ciência. Essa integração não tem como objetivo de reduzir tudo ao nível da física, mas sim na elaboração de leis que sirvam para todas as áreas.
A concepção humana de “desenvolvimento” está muito ligada ao desenvolvimento de novas tecnologias e inventos, que inclusive levaram a grandes catástrofes do nosso tempo. É possível que se tratarmos o mundo como uma grande organização, daremos mais importância aos seres vivos. Importância esta que quase perdemos nas últimas décadas.

A teoria geral dos sistemas na educação: a produção de generalistas científicos

A educação convencional trata os campos como domínios separados, e constrói especialistas, pois não acredita que é possível uma “educação integrada”, onde o que se aprende possa ser usado mais genericamente, e não só para problemas específicos.
Os benefícios do domínio humano sobre as leis da física são claros, como por exemplo a nossa tecnologia. Nos campos biológicos, apesar de não serem tão evoluídos, conseguimos melhoras na qualidade de vida e espectativa de vida. Mas, todo o controle do ser humano sobre a tecnologia também traz um grande perigo: o da destruição. Muitas vidas foram tiradas por inventos que nós mesmo criamos. O homem não é somente um pequeno “animal político”, mas sim um indivíduo que merece sua importância.

3 – Alguns conceitos dos sistemas considerados em termos matemáticos elementares

O conceito de sistema

Podemos distinguir complexos de acordo com o seu número, espécie ou de acordo com suas relações. Existem as características somativas e as características constitutivas. As somativas representam, por exemplo, a massa molecular e o calor, enquanto as constitutivas não são explicáveis a partir de características de alguma parte isolada, seguindo o pensamento de que “o todo é mais do que a soma das partes”.
Um sistema pode ser representado por um complexo de elementos em interação, e pode ser definido de várias várias maneiras, como por exemplo um sistemas de equações diferenciais simultâneas.

Crescimento

Equações desse tipo podem ser encontradas em vários campos, portanto pode demonstrar a existência de uma teoria geral dos sistemas.
A lei exponencial, também chamada de “lei do crescimento natural”, é válida para muitos campos, e pode ser usada para descrever o crescimento de populações (no caso de recursos ilimitados), crescimento de capital a juros compostos. A Lei de Malthus significa que o nascimento é maior do que a taxa de mortalidade, o que cria um crescimento infinito.
Outra “curva” que tem grande aplicação é a “curva logística”, que descreve, por exemplo, o crescimento de populações com recursos limitados e reações autocráticas. Esses exemplos mostram que existe uma uniformidade na natureza.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A sociedade do espetáculo

Transcrição do livro "A Sociedade do ESpetáculo" (1967) de Guy Debord, publicado pela editora Contraponto em 1997.

Leia (abaixo) a resenha de Anselm Jappe, publicada no caderno MAIS!, página 5-4 8/8372, Folha de S. Paulo 17 de agosto de 1997.

A arte de desmascarar

“Sociedade do espetáculo”: esta expressão já está em voga, especialmente ao se falar de televisão. No Brasil, parece se impor mais do que em outros lugares. Poucos, porém, sabem que, na origem, este era o título de um livro de Guy Debord, agora traduzido pela primeira vez no Brasil (Ed. Contraponto).
Lançado na França em 1967, A Sociedade do Espetáculo tornou-se inicialmente livro de culto da ala mais extremista do Maio de 68, em Paris; hoje é um clássico em muitos países. Em um prefácio de 1982, o autor sustentava com orgulho que o seu livro não necessitava de nenhuma correção.
O “espetáculo” de que fala Debord vai muito além da onipresença dos meios de comunicação de massa, que representam somente o seu aspecto mais visível e mais superficial. Em 221 brilhantes teses de concisão aforística e com múltiplas alusões ocultas a autores conhecidos, Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existência real.
Têm de olhar para outros (estrelas, homens políticos etc.) que vivem em seu lugar. A realidade torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade; a unidade que falta à vida, recupera-se no plano da imagem. Enquanto a primeira fase do domínio da economia sobre a vida caracterizava-se pela notória degradação do ser em ter, no espetáculo chegou-se ao reinado soberano do aparecer. As relações entre os homens já não são mediadas apenas pelas coisas, como no fetichismo da mercadoria de que Marx falou, mas diretamente pelas imagens.
Para Debord, no entanto, a imagem não obedece a uma lógica própria, como pensam, ao contrário, os pós-modernos “a la Baudrillard”, que saquearam amplamente Debord. A imagem é uma abstração do real, e o seu predomínio, isto é, o espetáculo, significa um “tornar-se abstrato” do mundo. A abstração generalizada, porém, é uma conseqüência da sociedade capitalista da mercadoria, da qual o espetáculo é a forma mais desenvolvida. A mercadoria se baseia no valor de troca, em que todas as qualidades concretas do objeto são anuladas em favor da quantidade abstrata de dinheiro que este representa. No espetáculo, a economia, de meio que era, transformou-se em fim, a que os homens submetem-se totalmente, e a alienação social alcançou o seu ápice: o espetáculo é uma verdadeira religião terrena e material, em que o homem se crê governado por algo que, na realidade, ele próprio criou.
Nessa base, Debord condena toda a sociedade existente, não somente fraquezas individuais e imperfeições. Em 1967, Debord distinguia dois tipos de espetáculo. O “difundido” (o tipo ocidental, “democrático”) caracterizava-se pela abundância de mercadorias e por uma aparente liberdade de escolha. No espetáculo “concentrado”, ou seja, nos regimes totalitários de toda a espécie, a identificação mágica com a ideologia no poder era imposta a todos para suprir a falta de um real desenvolvimento econômico.
Toda a forma de poder espetacular justificava-se denunciando a outra; e nenhum sistema, além destes dois, devia ser imaginável. Debord, portanto, reconheceu na URSS, nada menos do que 25 anos antes de seu fim, uma forma subalterna - e destinada, enfim, a sucumbir - da sociedade da mercadoria. Mas, por um longo período, enquanto existia um proletariado inquieto, o comunismo de Estado desempenhou uma função essencial para o espetáculo ocidental: a de assegurar que os rebeldes potenciais se identificassem com a mera imagem da revolução, delegando a ação real aos Estados e aos partidos comunistas totalmente cúmplices do espetáculo ocidental; ou, então, a pressupostos revolucionários muito distantes, no Terceiro Mundo.
Debord anunciou, no entanto, o aparecimento de um movimento de contestação de tipo novo: retomando o conteúdo liberatório da arte moderna, teria como programa a revolução da vida cotidiana, a realização dos desejos oprimidos, a recusa dos partidos, dos sindicatos e de todas as outras formas de luta alienadas e hierárquicas, a abolição do dinheiro, do Estado, do trabalho e da mercadoria. Por isto, Debord sempre considerou o conteúdo profundo de 1968 como uma confirmação de suas idéias.
Teve, porém, de admitir, em Comentários Sobre a Sociedade do Espetáculo (1988), que o domínio espetacular conseguiu se aperfeiçoar e vencer todos os seus adversários; de modo que agora é a sua própria dinâmica, a sua desenfreada loucura econômica a arrastá-lo em direção à irracionalidade total e à ruína.
Os dois tipos anteriores de espetáculo deram lugar, no mundo todo, a um único tipo: o “integrado”. Sob a máscara da democracia, este remodelou totalmente a sociedade segundo a própria imagem, pretendendo que nenhuma alternativa seja sequer concebível. Nunca o poder foi mais perfeito, pois consegue falsificar tudo, desde a cerveja, o pensamento e até os próprios revolucionários. Ninguém pode verificar nada pessoalmente. Ao contrário, temos de confiar em imagens, e, como se não bastasse, imagens que outros escolheram. Para os donos da sociedade, o espetáculo integrado é muito mais conveniente do que os velhos totalitarismos. A América Latina sabe algo a respeito.
Mas Debord (1931-1994) não é apenas um dos poucos autores de inspiração marxista que hoje podem dar uma contribuição válida para a análise do capitalismo globalizado e pós-moderno. Ele também fascina por sua vida singular, sem compromissos e conforme as suas teorias.
A busca da aventura e da vida “verdadeira” esteve na base de sua vida pessoal - da qual a sua autobiografia Panegírico e os seus filmes falam -, assim como de sua teoria. Levou uma existência intencionalmente “maldita”, às margens da sociedade, sem um trabalho reconhecido, sem nenhum contato com as instituições, sem nunca ter freqüentado uma universidade, concedido uma entrevista ou participado de um congresso e, no entanto, conseguiu fazer com que fosse ouvido.
Levou adiante a sua batalha contra a sociedade espetacular exclusivamente com os meios que ele próprio criou para si: em primeiro lugar, com a Internacional Situacionista, uma pequena organização que existiu entre 1957 e 1972 e que se originou da decomposição do surrealismo parisiense e de outras experiências artísticas. Com a revista homônima e novos meios de agitação (quadrinhos, organização de escândalos), os situacionistas souberam prefigurar, muito melhor do que a esquerda “política”, as novas linhas de conflito na sociedade “da abundância”.
Entre outras coisas, criticavam impiedosamente a nova arquitetura e o vazio e o tédio do pós-guerra. Com poucas intervenções miradas, os situacionistas fizeram com que idéias subversivas - que, por volta de 1960, eram compartilhadas por um punhado de pessoas - se tornassem, em 1968 e posteriormente, um fator histórico de primeira ordem.
Os situacionistas, e particularmente Debord, distinguem-se pelo estilo inconfundível, e não somente no plano literário. Era o resultado da mistura entre um conteúdo radical - que remetia, entre outros, aos dadaístas, aos anárquicos e à vida popular parisiense - e um tom sofisticado e aristocrático, com muitas referências à cultura clássica francesa. Este estilo, assim como a sua verve polêmica, mesmo para com todos os supostos contestadores (esquerda oficial, artistas “engajados” etc.), sua inacessibilidade e a sua transgressividade nas formas, logo os cercou de um ódio significativo, mas sobretudo de uma aura de mistério. Que ainda vive, 30 anos depois: com efeito, ainda se publicam textos dos situacionistas e sobre eles, embora amiúde procurem fazê-los passar exclusivamente por última “vanguarda cultural”. Na França, ao contrário, só querem enxergar em Debord o escritor. Ainda hoje não querem perdoá-lo por ter escrito A Sociedade do Espetáculo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010