quarta-feira, 3 de março de 2010

Slides - Rodrigo Reis 2

Ética e Filosofia Moral

Senso moral e consciência moral
 Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
 Decisões sobre o que fazer e a responsabilidade sobre nossas ações põem à prova nossa consciência moral.
 O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.

Juízo de fato e de valor
 Juízos de fato são aqueles que dizem o que s coisas são, como são e por que são.
 Juízos de valor são avaliações sobre coisas, pessoas, situações.
 Juízos éticos de valor são normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, atos, comportamentos e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
 A diferença entre os dois tipos de juízos é a diferença entre Natureza e Cultura. A primeira é constituída por estruturas e processos necessários que existem em si e por si mesmos. A Cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam-se a si mesmo e as suas relações com a Natureza.
 Não notamos a origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da consciência moral, porque somos educados para eles e neles. A naturalização da existência moral esconde o fato da ética ser criação histórico-cultural.

Ética e violência
 Violência é entendida como o uso da força física e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser.
 A humanidade dos humanos reside no fato de serem racionais, dotados de vontade livre, de capacidade para a comunicação e para a vida em sociedade, de capacidade para interagir com a Natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade nos definem como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando a violência em tudo aquilo que reduz um sujeito à condição de objeto. Do ponto de vista ético, somos pessoas e não podemos ser tratados como coisas (reificação).
 A ética é normativa, pois suas normas visam impor limites e controles ao risco permanente da violência.

Constituintes do campo ético
 O sujeito ético ou moral, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições:
 - ser consciente de si e dos outros. Ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
 - ser dotado de vontade, isto é, de capacidade de controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
 - ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre se e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por elas;
 - ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. Liberdade é poder escolher, mas também autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
 O campo ético é constituído de dois pólos: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes éticas.
 Para o sujeito a ética difere o passivo e ativo. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões, circunstâncias, pela boa ou má sorte, opinião alheia, medo dos outros, vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, vontade liberdade e responsabilidade. É heterônomo.
 Ativo é aquele que controla interiormente sues impulsos, discute consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos indaga se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores, consulta sua razão e sua vontade antes de agir, tem consideração pelos outyros sem subordinar-se nem submeter-se, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa a violência contra si e contra os outros. É autônomo.
 Para os valores a ética exprime a maneira como a cultura e a sociedade definem para si mesmas o que julga ser a violência e o criem, o mal e o vício, e o que consideram ser o bem e a virtude. A ética não é alheia às condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral, pois somos seres históricos e nossa ação se desenrola no tempo.
 Além do sujeito e dos valores a ética se constitui dos meios. Na ética nem todos os meios são justificáveis, mas apenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Fins éticos exigem meios éticos.


Ética na história

Antigos (Greco-Romanos)
Cristianismo – Idade Média
Racionalismo Ético – Modernidade
Emotivismo Ético – Séc. XX
Ecosofia – Séc. XXI


Antigos Greco-Romanos
 A ética se afirma sobre três princípios:
 1. o racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele;
 2. o naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmos) e com nossa natureza (nosso ethos), que é a parte do todo natural;
 3. a inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontramos liberdade, justiça e felicidade.
 A ética era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade, e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica. Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos.

Cristianismo: interioridade e dever
 Duas diferenças primordiais:
 a idéia de que a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade (a polis) nem com os outros. As virtudes máximas cristão são a fé e a caridade, ou seja são privadas. São relações do indivíduo com Deus e com os outros a partir da intimidade e da interioridade de cada um;
 a afirmação de que somos dotados de vontade livre – livre-arbítrio – e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o al e para o pecado, isto é, para a tansgressão das leis divinas. Somos seres fracos pecadores, divididos entre o bom (obediência a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca).
 O auxílio divino sem o qual a vida ética seria impossível é a Lei Divina Revelada, que devemos obedecer obrigatoriamente e sem exceção. Tal concepção introduz uma nova idéia na moral: a idéia de dever.
 Juntamente com esta, a moral cristã introduziu uma outra idéia decisiva na constituição da moralidade ocidental: a idéia de intenção. O dever não se refere apenas às ações visíveis, mas também às intenções invisíveis que passam a ser julgadas eticamente.
 Se a ética exige um sujeito autônomo, a idéia de dever não introduziria a heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um poder estranho a nós?

Natureza humana e dever
 Séc. XVIII – Rousseau: a consciência moral e a sentimento de dever são inatos. Nascemos puros e bons, dotados de generosidade e de benevolência para com os outros. Nossa bondade natural foi pervertida pela sociedade, quando esta criou a propriedade privada e os interesses privados, tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos. O dever nos força a recordar nossa natureza originária e só em aparência é imposição exterior.
Natureza humana e dever
 Kant: Não existe bondade natural. Por natureza somos egoístas, agressivos, cruéis, por isso precisamos do dever para nos tornarmos seres morais. O dever revela nossa verdadeira natureza.
 Para ambos, a solução está em colocar o dever em nosso interior, desfazendo a impressão de que ele nos seria imposto de fora por uma vontade estranha à nossa.

Cultura e dever
 Séc. XIX – Hegel: critica Rousseau e Kant por dois motivos,
 1. deram atenção à relação sujeito-Natureza e esqueceram da relação sujeito-Cultura e História;
 2. admitem relações éticas somente como relações pessoais e não a tomam como relações sociais, fixadas pelas instituições sociais (família, sociedade civil e Estado).
 Por sermos seres históricos e culturais, além de uma vontade subjetiva temos uma vontade objetiva, inscrita nas instituições e na Cultura.
 A vida ética é o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural.
 Ser ético e livre será pôr-se de acordo com as regras morais de nossa sociedade, interiorizando-as.
 Uma sociedade entra em declínio quando esse acordo é rompido e os membros da sociedade sentem-se esmagados e oprimidos pelos valores vigentes, e agem de modo a transgredi-los.
 Séc. XX – Bergson: distingue duas morais: fechada e aberta.
 Moral fechada é o acordo entre os valores e os costumes de uma sociedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. É a moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente por nós.
 Moral aberta é uma criação de novos valores e novas condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética nova.
Racionalismo ético

Necessidade, Desejo, Vontade
 Necessidade diz respeito a tudo quanto necessitamos para conservar nossa existência.
Racionalismo ético
 Para os seres humanos, o desejo parte da satisfação das necessidades, mas acrescenta a elas o sentimento do prazer, dando às coisas, às pessoas e às situações novas qualidades e sentidos. No desejo, nossa imaginação busca o prazer e foge da dor pelo significado atribuído ao que é desejado ou indesejado.
 O desejo é a busca da fruição daquilo que é desejado, porque o objeto do desejo dá sentido à nossa vida, determina nossos sentimentos e ações.

Racionalismo ético
 A vontade difere do desejo por possuir três características que este não possui:
 1. o ato voluntário implica um esforço para vencer obstáculos materiais e psíquicos.
 2. o ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de agir, exige deliberação, avaliação e tomada de decisão.
 3. a vontade refere-se ao possível, que acontece graças ao ato voluntário com previsão de conseqüências. A vontade é inseparável da responsabilidade.
 Desejo é paixão. Vontade é decisão. Desejo nasce da imaginação. Vontade se articula à reflexão. Desejo não suporta o tempo, desejar é querer a satisfação imediata. Vontade realiza-se no tempo: esforço e ponderação trabalham com a relação entre meios e fins e aceitam a demora da satisfação. Mas é o desejo que oferece à vontade os motivos interiores e os fins exteriores da ação.
 Nesta concepção a inteligência orienta a vontade para que eduque o desejo.
 Consciência, desejo e vontade formam o campo da vida ética: consciência e desejo referem-se às nossas intenções e motivações; a vontade, às nossas ações e finalidades. As primeiras apontam a qualidade da atitude interior; as últimas, à qualidade da atitude externa.

Emotivismo ético ou irracionalismo
 Séc. XX - Nietzsche, Bérgson, Freud, Marx
 Propõe uma ética das emoções e do desejo
 Esta concepção contesta à razão o poder e o direito de intervir sobre o desejo e as paixões, identificando a liberdade com a plena manifestação do desejante e do passional. Para esses filósofos, a moral racionalista ou dos fracos e ressentidos que temem a vida, o corpo, o desejo e as paixões é a moral dos escravos, dos que renunciam a verdadeira liberdade ética.
 Afirmam que a própria ética, transformada em costumes, preconceito cristalizados e sobretudo em confiança na capacidade apaziguadora da razão, tornou-se a forma perfeita da violência.
 Os irracionalistas baseiam-se na psicanálise e na teoria da repressão do desejo, propondo uma liberdade do desejo da repressão causadora de sintomas pessoais e sociais. Porém a própria psicanálise aponta uma ligação profunda entre o desejo de prazer e o desejo de morte, a violência incontrolável do desejo se não for orientado pelos valores éticos e racionais.

Ética e Psicanálise
 A descoberta do inconsciente traz conseqüência graves para as idéias de consciência responsável e vontade livre quanto para os valores morais.
 Para a psicanálise somos nossos impulsos e desejos inconscientes. O que se passa em nossa consciência é efeito disfarçado de causas inconscientes. Vontade boa e virtuosa e valores morais, se tornam normas repressivas. A razão seria uma ficção e um poder repressivo externo, e como esta teria acesso ao desejo?
 Para Freud não somos autores nem senhores da nossa história. Nossos atos são realizações inconscientes.
 Mentir, matar, roubar, seduzir, destruir, temer, ambicionar são simplesmente amorais. Muitas vezes são autodefesas do sujeito, que emprega para defender sua integridade psíquica ameaçada (real ou fantasiosamente). Atos moralmente condenáveis são psicologicamente necessários. Lacan nos fala da ética da perversão.
 No campo de batalha que é a psique, entre o amor ao proibido do id e amor ao repressivo do superego, é a consciência que decide, é esta que está para a liberdade do sujeito.
 Somos eticamente livres e responsáveis não porque posssamos fazer tudo quanto queiramos, nem porque queiramos tudo quanto possamos fazer, mas porque aprendemos a discriminar as fronteiras entre o permitido e o proibido, tendo como critério a ausência da violência interna e externa.

Ecosofia
 Ecosofia: ecologia + filosofia
 Concepção do filósofo francês Felix Guattari para designar o processo ético-estético relativo às Três Ecologias: a do meio-ambiente, a das relações sociais e a da subjetividade humana.
 Propõe uma revolução “não só nas relações de forças visíveis em grande escala, mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo”, a Ecosofia.
 “O princípio comum às três ecologias consiste, pois, em (...) uma abertura processual a partir de práxis que permitam torná-lo ‘habitável’ por um projeto humano. É essa abertura práxica que constitui a essência desta arte da ‘eco’ subsumindo todas as maneiras de domesticar os Territórios existenciais, sejam eles concernentes às maneiras íntimas de ser, ao corpo, ao meio ambiente ou aos grandes conjuntos contextuais relativos à etnia, à nação ou mesmo aos direitos gerais da humanidade.
 “(...) Disso decorrerá uma recomposição das práticas sociais e individuais que agrupo segundo três rubricas complementares – a ecologia social, a ecologia mental e a ecologia ambiental – sob a égide ético-estética de uma ecosofia”. (p. 23)

Ecologia da Subjetividade
 Guattari aponta para a necessidade de reinventar as nossas relações intrapessoais “com o corpo, com o fantasma (inconsciente), com o tempo que passa, com os ‘mistérios’ da vida e da morte”, procurando “antídotos para a uniformização midiática e telemática, o conformismo das modas, as manipulações da opinião pela publicidade, pelas sondagens etc”. Deixa claro que a maneira de reinventar a singularidade está mais para a arte do que para a ciência quando afirma “os profissionais ‘psi’, [estão] sempre assombrados por um ideal caduco de cientificidade”.
 Em relação ao conjunto dos campos “psi”, afirma que este deve se “instaurar no prolongamento e em interface aos campos estéticos”. Diferente de uma perspectiva clínica ou de laboratório diz que “essa tensão existencial operar-se-á por intermédio de temporalidades humanas e não-humanas”. E entende por estas últimas o delineamento, “o desdobramento de devires animais, vegetais, cósmicos, assim como de devires maquínicos...”

Ecologia Social
 Para Guattari, a ecosofia social consiste em desenvolver práticas específicas que tendam a modificar e a reinventar maneiras de ser no seio do casal, da família, do contexto urbano, do trabalho etc. “A questão será literalmente reconstruir o conjunto das modalidades do ser-em-grupo”. Não somente pelas intervenções ‘comunicacionais’ mas principalmente por “mutações existenciais que dizem respeito à essência da subjetividade”.

Ecologia Ambiental
 Guattari deixa claro que é da interface das três ecologias, que podem nascer ações políticas mais eficientes em relação ao meio ambiente.
 “Uma ecosofia de um tipo novo, ao mesmo tempo prática e especulativa, ético-política e estética, deve a meu ver substituir as antigas formas de engajamento religioso, político, associativo... Tratar-se-á antes de movimento de múltiplas faces dando lugar a instâncias e dispositivos ao mesmo tempo analíticos e produtores de subjetividade.
Ecosofia
 “Concluindo, as três ecologias deveriam ser concebidas como sendo da alçada de uma disciplina comum ético-estética e, ao mesmo tempo, como distintas uma das outras do ponto de vista das práticas que as caracterizam. Seus registros são da alçada do que chamei heterogênese, isto é, processo contínuo de ressingularização. Os indivíduos devem se tornar a um só tempo solidários e cada vez mais diferentes”.

Slides Rodrigo Reis

História da Filosofia
• Grega
• Patrística
• Escolástica
• Renascença
• Moderna
• Iluminista
• Contemporânea

Origem da Filosofia
• Philo - amizade, amor fraterno
• Sophia - sabedoria
• Filosofia - amor e amizade pelo saber
• Pitágoras de Samos, séc. 5 a.C.: o filósofo não é movido pelo desejo de comerciar ou competir, mas pelo desejo de contemplar, observar, julgar, avaliar as coisas, as ações, a vida.

Definição de Filosofia
• 1. Visão de mundo
• 2. Sabedoria de vida
• 3. Esforço racional para conceber o universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido; não podem ser aceitas
• 4. Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas

Atividade Filosófica
• Análise (das condições da ciência, da religião, da arte, de moral)
• Reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação)
• Crítica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas)
• estando estas três atitudes, orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e os seres humanos.

Atitude filosófica: indagar
• O que a coisa, o valor, a idéia, é. (busca qual a realidade e natureza)
• Como a coisa, a idéia, o valor, é. (busca a estrutura e as relações)
• Por que a coisa, a idéia, o valor, existe e é como é. (busca a origem e a causa)
• Resultante dessa atitude nasce a reflexão que se refere a nossa capacidade de conhecer, nossa capacidade de pensar

A reflexão filosófica
• O que é pensar, como é pensar, por que há o pensar?
• 1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? (motivos, razões e causas)
• 2. O que queremos pensar qdo. pensamos, dizemos e fazemos? (conteúdo e sentido)
• 3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos e fazemos? (intenção e finalidade)
• O que é pensar, falar e agir? Nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro?

Legado da filosofia
• A idéia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais.
• As leis universais podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento
• Nosso pensamento também opera obede-cendo a leis, regras e normas universais, daí podermos distinguir o falso do verdadeiro
• As práticas humanas dependem da vontade livre que foram estabelecidas pelos próprios seres humanos
• Distinguir o necessário do contingente

Nascimento da filosofia
• Nasce no final do séc. 7 e início do 6 aC., nas colônias gregas da Ásia Menor (Jônia), na cidade de Mileto. O primeiro filósofo foi Tales de Mileto.
• O conteúdo inicial é cosmológico.
• A filosofia não é nem originária de influências e mudanças sobre conhecimentos orientais, e nem o “milagre grego”.
• Fatos exclusivamente gregos levaram ao surgimento da filosofia:
• em relação aos mitos
• em relação aos conhecimentos
• em relação à organização social e política
• em relação ao pensamento

Mito e Filosofia
• Mythos - mytheyo (contar, narrar) e mytheo (conversar, contar, anunciar, designar)
• É a narrativa da origem contado pelo poeta-rapsodo, um escolhido dotado de autoridade
• É verdade revelada e divina, incontestável e inquestionável

Como opera o mito
• 1. Encontra o pai e a mãe das coisas e dos seres - uma genealogia. Cosmogonia, nascimento do universo Teogonia, nascimento dos deuses
• 2. Encontra uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo.
• 3. Encontra recompensas e castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou obedece.

Ruptura com o mito
• Condições históricas para o surgimento da consciência racional (séc. 7 e 6 a.C.)
– viagens marítimas
– invenção do calendário
– invenção da moeda
– surgimento vida urbana (pólis)
– invenção da escrita alfabética
– invenção da política, 3 aspectos:
• idéia de lei, reguladoras de uma coletividade
• surgimento do espaço público e da cidadania
• educação política pública

Períodos da Filosofia Grega
• 1. Pré-socrático ou cosmológico
• final do séc. 7 - séc. 5 a.C.
• 2. Socrático ou antropológico
• final do séc. 5 e séc. 4 a.C.
• 3. Sistemático
• final do séc. 4 e séc. 3 a.C.
• 4. Helenístico ou grego-romano
• final do séc. 3 a.C. até séc. 6 d.C.

Período pré-socrático
• Considerado o período cosmológico. Os filósofos se preocupavam com explicações racionais e sistemáticas sobre a ordem, a origem e as transformações da Natureza e dos seres humanos.
• Escola Jônica: Tales, Heráclito
• Escola Itálica: Pitágoras
• Escola Eleata: Parmênides, Zenão
• Escola da Pluralidade: Demócrito

Período Socrático
• Considerado antropológico, tem como centro a cidade de Atenas e como questão a democracia e a formação do cidadão em oposição aos heróis.
• A virtude passa do bom e belo para a cívica, o bom orador. Surgem os sofistas: Protágoras, Górgias, Isócrates
• Mestres em oratória e retórica, criticavam os cosmologistas e ensinavam a arte de persuasão.

Sócrates
• Discorda dos antigos e dos sofistas
• Propunha: “conhece-te a ti mesmo” e “sei que nada sei”.
• A consciência da própria ignorância é o começa da filosofia.
• Sócrates buscava a essência para a coisa, a idéia e o valor, procurava o conceito e não a opinião.

Filosofia Socrática/Platão
• Volta-se para questões humanas: moral e política.
• Volta-se para a reflexão, em busca da essência e do conceito das coisas.
• Separa a opinião e as imagens das coisas, trazidas pelos sentidos, hábitos, tradições e interesses, e as idéias - essência íntima e verdadeira das coisas, alcançadas por um pensamento puro.

Período Sistemático
• Aristóteles de Estagira, discíp. de Platão
• Pretende fazer um enciclopédia do saber grego em todo ramo de pensamento e prática, classificando-os em mais simples e complexos
• Antes de um conhecimento constituir seu objeto e seus procedimentos deve conhecer as leis gerais que governam o pensamento. Cria a lógica, como um instrumento do conhecimento

Campos de conhecimento
• Ciências produtivas
– arquitetura, economia, medicina, artes, caça, guerra, navegações
• Ciências práticas
– ética, política
• Ciências teoréticas, contemplativas
– naturais mutáveis:física, biologia, psicologia
– naturais imutáveis: matemática, astronomia
– realidade pura: metafísica
– divina: teologia

Período Helenístico
• Grécia sob o domínio de Roma, os filósofos se dizem cidadãos do mundo. Daí período cosmopolita
• Quatro grandes sistemas totalizantes sobre a natureza, o homem e a divindade: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo
• Predominam preocupações com a ética, a física, a teologia e a religião

Períodos da Filosofia
• Antiga - séc. 6 a.C. ao 6 d.C.
• Patrística - séc. 1 ao 7 d.C.
• Medieval - séc. 8 ao 14
• Renascença - séc. 14 ao 16
• Moderna - séc. 17 a meados do 18
• Iluminista - meados do séc. 18 ao 19
• Contemporânea - meados do séc. 19 em diante

Filosofia Patrística
• Inicia no séc. 1 com as Espístolas de Paulo e o evangelho de João, termina no séc. 7
• Resulta do esforço dos apóstolos intelectuais e os primeiros padres para conciliar a nova religião com o pensamento filosófico dos gregos e romanos. Liga-se à tarefa de evangelização e conversão de pagãos e a defesa contra os ataques teóricos dos antigos.
• Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório, Santo Agostinho, Beda e Boécio
• Introduziu idéias: criação do mundo, pecado original, juízo final, ressurreição dos mortos, Deus como trindade, explicar como pode o mal no mundo.
• Agostinho e Boécio: “o homem interior”, isto é, consciência moral e livre-arbítrio
• Para impor as idéias cristãs, os padres as transformavam em verdades reveladas, os dogmas, inquestionáveis e irrefutáveis, daí a distinção entre verdade revelada ou da fé e racional ou adquirida. Três posições:
• 1. Fé e razão irreconciliáveis, fé superior
• 2. Conciliáveis, mas razão subordinada
• 3. Irreconciliáveis, cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento

Filosofia Medieval/Escolástica
• Séc. 8 ao séc. 14
• Europeus: Abelardo, Duns Soto, Escoto Erígena, Santo Anselmo, São Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura
• Árabes: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli
• Judeus: Maimônedes, Nahmanides, Yeudah bem Levi
• Domínio da Igreja Romana: ungia e coroava reis, organizava cruzadas, criava universidades.
• Conserva as questões patrísticas e acrescenta: o Problema dos Universais.
• Surgia a filosofia cristã, a teologia
• Provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais do infinito criador e do espírito humano imortal.
• Separação do finito e infinito, fé e razão, corpo e alma, o universo como hierar-quia de seres, subordinação dos reis
• A disputa: toda tese devia ser refutada ou defendida com argumentos tirados de Aristóteles, Platão, da Bíblia e Santo Agostinho.
• Deve a este fato o pensamento medieval estar subordinado ao princípio de autoridade

Filosofia da Renascença
• Séc. 14 ao séc. 16
• Marcada pela descoberta de obras de Platão, Aristóteles e recuperação de obras artísticas de gregos e romanos.
• Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa
• 1. Neoplatonismo e livros de Hermetismo: Natureza como ser vivo, homem como microcosmo agindo através da magia, alquimia e astrologia, o mundo e constituído por ligações secretas (a simpatia)
• 2. Florentinos: vida ativa, política republicana contra papas e imperadores, “imitação dos antigos”, o renascimento da liberdade política
• 3. Antropocêntrica: o homem como artífice do próprio destino através dos conhecimentos e das práticas
• Descobertas marítimas permite o europeu ter uma visão crítica da sua própria sociedade.
• As críticas culminam na Reforma Protestante, baseada na idéia de liberdade de crença e de pensamento.
• A Contra-Reforma responde c/Inquizição

Filosofia Moderna
• Grande racionalismo clássico, séc. 17 ao 18, três mudanças intelectuais:
• 1. Surgimento do sujeito do conhecimento: é reflexiva, indaga qual capacidade do sujeito para conhecer
• 2. Objeto do conhecimento: como o intelecto pode conhecer o que é diferente dele? Desde que sejam consideradas representações, idéias e conceitos formuladas pelo sujeito
• Galileu: a realidade é concebida como um sistema racional de mecanismos físico-matemáticos, dando origem à física clássica, à mecânica, ou seja, relações necessárias de causa e efeito entre um agente e um paciente
• A realidade é um sistema de causalida-des rigorosas que podem ser conheci-das, transformadas e dominadas pelo homem pela experimentação e tecnologia
• Conquista científica e técnica de toda a realidade; a razão domina as paixões e emoções humanas; o racionalismo políticos quanto a regimes adequados a cada sociedade; confiança nas capacidades e nos poderes da razão
• Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi

Filosofia Iluminista
• Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política
• a razão é capaz da evolução e progres-so, o homem como ser perfectível deve se libertar dos preconceitos religiosos, sociais e morais
• o progresso das civilizações, das mais atrasadas até as mais adiantadas
• diferença entre Natureza (reino das relações causais) e civilização (reino da liberdade)
• Interesse com ciências que têm a idéia de evolução: a biologia tem lugar central
• Reflexão controversa sobre a riqueza das nações: fisiocrata (agricultura como fonte) e mercantilista (comércio como fonte)
• Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling

Filosofia Contemporânea
• Meados do séc. 19 até os dias atuais
• Questões Contemporâneas:
• História e progresso
• As ciências e as técnicas
• Utopias revolucionárias
• Cultura
• Fim da Filosofia
• Maioridade da razão
• Infinito e finito

Campos Filosóficos
• Ontologia ou metafísica
• Lógica
• Epistemologia
• Teoria do Conhecimento
• Ética
• Filosofia Política
• Filosofia da História
• Filosofia da Arte - Estética
• Filosofia da Linguagem
• História da Filosofia

terça-feira, 2 de março de 2010

TGS pela wikipedia

A teoria geral de sistemas (também conhecida pela sigla, T.G.S.) surgiu com os trabalhos do biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, publicados entre 1950 e 1968.
A T.G.S. não busca solucionar problemas ou tentar soluções práticas, mas sim produzir teorias e formulações conceituais que possam criar condições de aplicação na realidade empírica. Os pressupostos básicos da T.G.S. são:

Existe uma nítida tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais;
Essa integração parece orientar-se rumo a uma teoria dos sistemas;
Essa teoria de sistemas pode ser uma maneira mais abrangente de estudar os campos não físicos do conhecimento científico, especialmente as ciências sociais;
Essa teoria de sistemas, ao desenvolver princípios unificadores que atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências envolvidas, aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência;
Isso pode levar a uma integração muito necessária da educação científica.

A importância da TGS é significativa tendo em vista a necessidade de se avaliar a organização como um todo e não somente em departamentos ou setores. O mais importante ou tanto quanto é a identificação do maior número de variáveis possíveis, externas e internas que, de alguma forma, influenciam em todo o processo existente na Organização. Outro fator também de significativa importância é o feed-back que deve ser realizado ao planejamento de todo o processo.
Teoria dos sistemas começou a ser aplicada a administração principalmente em função da necessidade de uma síntese e uma maior integração das teorias anteriores (Científicas e Relações Humanas, Estruturalista e Comportamental oriundas das Ciências Sociais) e da intensificação do uso da cibernética e da tecnologia da informação nas empresas.
Os sistemas vivos, sejam indivíduos ou organizações, são analisados como “sistema abertos”, mantendo um continuo intercâmbio de matéria/energia/informação com o ambiente. A Teoria de Sistema permite reconceituar os fenômenos em uma abordagem global, permitindo a inter-relação e integração de assuntos que são, na maioria das vezes, de natureza completamente diferentes.

Há uma grande variedade de sistemas e uma ampla gama de tipologias para classificá-los, de acordo com certas características básicas.

Quanto a sua constituição:

Físicos ou concretos: quando compostos de equipamento, de maquinaria e de objetos e coisas reais
(equipamento, objetos, hardware);

Abstratos ou conceituais: quando compostos por conceitos, planos, hipóteses e idéias que muitas
vezes só existem no pensamento das pessoas (conceitos, planos, idéias, software).
Na realidade, há uma complementaridade entre sistemas físicos e abstratos: os sistemas físicos precisam de um sistema abstrato para funcionar, e os sistemas abstratos somente se realizam quando aplicados a algum sistema físico.

Quanto a sua natureza:

Fechados: não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circunda, sendo assim não recebem
nenhuma influencia do ambiente e por outro lado não influenciam. Não recebem nenhum recurso externo
e nada produzem que seja enviado para fora.
Ex: A matemática é um sistema fechado, pois não sofrerá nenhuma influência do meio
ambiente, sempre 1+1 será 2.

Abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente, por meio de
entradas e saídas.

Os sistemas abertos trocam matéria, energia e informação regularmente com o meio ambiente. São eminentemente adaptativos, isto é,
para sobreviver devem reajustar-se constantemente as condições do meio.

A organização como um sistema aberto

As organizações são por definição sistemas abertos, pois não podem ser adequadamente compreendidas de forma isolada, mas sim pelo inter-relacionamento entre diversas variáveis internas e externas, que afetam seu comportamento. Tal como os organismos vivos, as organizações têm seis funções primárias ou principais, que mantêm estreita relação entre si, mas que podem ser estudadas individualmente.

Funções primárias das organizações:
a) Ingestão: as organizações adquirem ou compram materiais para processá-los de alguma maneira. Para assistirem outras funções, como os organismos vivos que ingerem alimentos para suprirem outras funções e manter a energia.
b) Processamento: no animal, a comida é transformada em energia e suprimento das células. Na organização, a produção é equivalente a esse ciclo animal. Os materiais são processados havendo certa relação entre entradas e saídas no qual o excesso é o equivalente a energia necessária para a sobrevivência da organização (transformação em produtos).
c) Reação ao ambiente: o animal que reage frente a mudanças ambientais para sua sobrevivência deve adaptar-se as mudanças. Também nas organizações reage ao seu ambiente, mudando seus materiais, consumidores, empregados e recursos financeiros. As alterações podem se efetuar nos produtos, no processo ou na estrutura (mudanças face ao mercado).
d) Suprimento das partes: os participantes da organização são supridos, não só do significado de suas funções, mas também de dados de compras, produção, vendas ou contabilidade, e são recompensados principalmente sob a forma de salários e benefícios.
e) Regeneração das partes: as partes do organismo perdem sua eficiência, adoecem ou morrem e devem ser regenerados ou recolocados no sentido de sobreviver no conjunto. Os membros das organizações também podem adoecer, aposentar-se, desligar-se da firma ou então morrer. As máquinas podem tornar-se obsoletas. Ambos os homens e máquinas devem ser mantidos ou recolocados – manutenção e substituição.
f) Organização: administração e decisão sobre as funções;

Principais características das organizações

a) Comportamento probabilístico: as organizações são sempre afetadas pelas variáveis externas. O ambiente é potencialmente sem fronteiras e inclui variáveis desconhecidas e incontroladas. Por outro lado as conseqüências dos sistemas sociais são probabilísticas e não-determinadas. O comportamento humano nunca é totalmente previsível. As pessoas são complexas, respondendo a muitas variáveis. Por esta razão a administração não pode esperar que os consumidores, fornecedores, tenham um comportamento previsível e de acordo com suas expectativas. – sistema social num ambiente sem fronteiras, complexo e nem sempre previsível;
b) Parte de uma sociedade maior: as organizações são vistas como sistemas dentro de sistemas. Os sistemas são complexos de elementos colocados em interação. Essas interações entre os elementos produzem um todo que não pode ser compreendido pela simples investigação das várias partes tomadas isoladamente. – ajuste constante entre grupos internos e externos, como estudado mais propriamente na Sociologia, Antropologia ou Economia (econômico e cultural);
c) Interdependência entre as partes: uma organização não é um sistema mecânico, no qual uma das partes pode ser mudada sem um efeito concomitante sobre as outras. Em face da diferenciação das partes provocadas pela divisão do trabalho, as partes precisam ser coordenadas por meio de integração e de trabalho. As interações internas e externas do sistema refletem diferentes escalões de controle e da autonomia. Uma variedade de subsistema deve cumprir a função do sistema e as suas atividades devem ser coordenadas. – divisão de trabalho, coordenação, integração e controle;
d) Homeostasia versus adaptabilidade: a homeostasia(auto regulação) garante a rotina e a permanência do sistema, enquanto a adaptabilidade leva a ruptura, à mudança e à inovação. Rotina e ruptura. Estabilidade e mudança. Ambos os processos precisam ser levados a cabo pela organização para garantir a sua viabilidade. – tendência a estabilidade e equilíbrio X tendência ao atendimento de novos padrões;
e) Fronteiras ou limites: é a linha imaginária que serve para marcar o que está dentro e o que está fora do sistema. Nem sempre a fronteira de um sistema existe fisicamente. –fronteiras permeáveis- sobreposições e intercâmbios com os sistemas do ambiente;
f) Morfogênese – capacidade de se modificar, se corrigir e de obter novos e melhores resultados

Direito e Teoria dos Sistemas

Para aplicação da Teoria Geral dos Sistemas no âmbito do Direito, pode-se apontar Claus-Wilhelm Canaris como uma doutrina que pode ofertar, sinteticamente, as diversas possibilidades que o tema apresenta no Direito contemporâneo. Para tanto vide seu Pensamento Sistemático e Conceito de Sistema na Ciência do Direito, em tradução portuguesa (Calouste Gulbenkian) efetivada pelo eminente Prof. Menezes Cordeiro.
São diversas Escolas que se valem das noções de sistema, como no caso de Canaris e a Escola do Pensamento Sistemático, como também de Niklas Luhmann e sua visão autopoiética em um Pensamento Sistêmico, que também é central para o início da corrente sistêmica na Sociologia moderna. Mesmo escolas de base oitocentista, como a Escola da Exegese e a Pandectista, também dialogam com as esferas de sistemas e suas teorias.
No direito civil-constitucional, matrizes contemporâneas começam a trabalhar com a teoria do caos, dialógica e teoria da complexidade, a partir da teoria dos sistemas e da cibernética.
[editar]Referências

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 4ª Edição, Ed. Makron Books.
REZENDE, Denis Alcies; ABREU, Aline França de. Tecnologia da Informação Aplicada a Sistemas de Informação Empresariais. 3ª Edição, Editora Atlas.
BUCKLEY, WALTER, A Sociologia e a Moderna Teoria dos Sistemas.

TGS pela ALGI consultoria

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Existe uma relação entre todos os elementos e constituintes da sociedade. Os fatores essenciais dos problemas públicos, das questões e programas a adotar devem sempre ser considerados e avaliados como componentes interdependentes de um sistema total.

De uma maneira ou de outra, somos forçados a tratar com complexos, com totalidades ou sistemas em todos os campos de conhecimento. Isto implica uma fundamental reorientação do pensamento científico.

Nos últimos anos, o triunfo da biologia molecular, o “fracionamento” do código genético, as consecutivas realizações na genética, na evolução, na medicina, fisiologia celular e muitos outros campos tornaram-se conhecimento comum. Não há como negar que existe uma relação entre as diversas áreas do conhecimento.

A Teoria Geral dos Sistemas foi elaborada, em 1937, por Ludwig Von Bertalanffy, para preencher uma lacuna na pesquisa e na teoria da Biologia. Os seus primeiros enunciados são de 1925 e ela é amplamente reconhecida na administração da década de 60.

Na teoria geral dos sistemas a ênfase é dada à inter-relação e interpendência entre os componentes que formam um sistema que é visto como uma totalidade integrada, sendo impossível estudar seus elementos isoladamente. É disso que trata os conceitos de transação e globalidade, o primeiro se refere à interação simultânea e interdependente entre os componentes de um sistema e o segundo diz que um sistema constitui um todo técnico, dessa forma, qualquer mudança em uma das partes afetará todo o conjunto. Buscava-se uma teoria que fosse comum a todos os ramos da ciência e se pesquisavam os denominadores comuns para o estudo e abordagem dos sistemas vivos. Esta foi uma percepção de diversos cientistas, que entenderam que certos princípios e conclusões eram válidos e aplicáveis a diferentes setores do conhecimento humano.


CONCEITO

Sistema é “um todo organizado ou complexo , um conjunto ou combinação de coisas ou partes formando um todo complexo ou unitário”. Um sistema é um conjunto de objetos unidos por alguma forma de interação ou interdependência . Qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser considerado um sistema , desde que a relação entre as partes e o comportamento de todo seja o foco da atenção . Define-se SISTEMA como um conjunto de partes diferenciadas em inter-relação umas com as outras, formando um todo organizado que possui uma finalidade, um objetivo constante. Um sistema é uma totalidade integrada, o que implica que a compreensão da sua natureza e de seu funcionamento não pode ser alcançada pela simples análise das partes que o compõem (as propriedades sistêmicas são destruídas quando um sistema é dissecado – física ou teoricamente – em elementos isolados).Portanto, a abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização ao invés de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas. Portanto, um conjunto de partículas que se atraem mutuamente (como o sistema solar ) , um grupo de pessoas em uma organização , uma rede industria, circuito elétrico , um computador ou um ser vivo podem ser visualizados como sistemas.

Realmente, é difícil dizer onde começa e onde termina determinado sistema . Os limites (fronteiras) entre o sistema e seu ambiente admitem certa arbitrariedade . O próprio universo parece estar formado de múltiplos sistemas que se interpretam . É possível passar de um sistema para outro que o abrange , como também passar para uma versão menor e nele contida.

Da definição de Bertalanffy , segundo a qual o sistema é um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas , decorrem dois conceitos : o de propósito ( ou objeto ) e o de globalismo ( ou totalidade ) . Esses dois conceitos retratam duas características básicas em um sistema .


Um sistema é :


Um conjunto de elementos

Dinamicamente relacionados

Formando uma atividade

Para atingir um objetivo

Operando sobre dados / energia / matéria

Para fornecer informação / energia / matéria


CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS

a) Sistema determinístico simples : é aquele que possui poucos componentes e inter-relações e que revelam comportamento dinâmico completamente previsível . É o caso de jogo de bilhar que , quando adequadamente definido , é u sistema de geometria dinâmica muito simples ( enquanto abstrato ) . Quando real , o jogo de bilhar torna-se probabilístico ;

b) Sistema determinístico complexo : é o caso do computador eletrônico . Se o seu comportamento não for totalmente previsível , ele estará funcionando mal .

c) Sistema determinístico excessivamente complexo : esta categoria está vazia , pois não existe nenhum sistema que possa enquadrar-se nela ;

d) Sistema probabilístico simples : é um sistema simples , mas imprevisível , como jogar-se uma moeda . O controle estatístico de qualidade é um sistema probabilístico simples ;

e) Sistema probabilístico complexo : é um sistema probabilístico que , embora complexo , pode ser descrito . O estoque é um exemplo . O conceito de lucratividade na indústria é outro.

f) Sistema probabilístico excessivamente complexo: é um sistema tão complicado que não pode ser totalmente descrito . É o caso do cérebro humano ou da economia nacional . O melhor exemplo de um sistema industrial dessa categoria é a própria empresa .

HIERARQUIA DOS SISTEMAS

Diferenciação e Complexibilidade


Uma organização burocrática dará uma resposta uniforme a qualquer perturbação organizacional. A qualquer acontecimento que perturbe o fluxo de informação entre o sistema e o meio ambiente, ela responderá através de um feedback negativo. Para proteger seu equilíbrio diante dos protestos dos usuários, por exemplo, produzirá uma nova regulamentação. Uma outra organização tratará a perturbação organizacional e criará uma diferenciação: um serviço especial para tratar dos problemas de reclamações, o sistema reagirá então através de uma diferenciação de suas respostas e pela criação de variedade em seu seio.

Quanto mais complexo um sistema se tornar, maior número admitirá de subsistemas que podem ser autônomos ou hierarquizados, mas a finalidade global e a coerência permanecem as mesmas. A identidade do sistema permanece a mesma. Por exemplo, uma sociedade pode diferenciar-se pela maior difusão de cultura, das informações, mas as relações dentro do sistema continuarão a ser idênticas. Há criação de diferenciação e complexibilidade, mas conexões entre os diversos subgrupos correspondem à lógica inicial do sistema.

A partir dessas noções gerais sobre os sistemas, é possível, como fez a escola de Pato Alto, pensar nas relações dentro de um grupo, segundo as regras dos sistemas. Assim, numa família, o comportamento de cada um dos membros está ligado ao comportamento de todos os outros. Todo comportamento se dá em comunicação. Influencia os outros e é por eles influenciado.

O grupo familiar pode, então, ser assimilado a um conjunto que funcione como uma tonalidade e no qual as particularidades dos membros não bastam para explicar o comportamento do conjunto familiar. Nesse sentido, Jackson mostra a importância da complementaridade dos comportamentos no grupo familiar: por exemplo, o estado de um membro da família considerado doente não pode destacar-se do contexto familiar. Qualquer agravação ou qualquer melhora no seu estado acarreta reações na saúde dos outros membros da família. Se um terapeuta trouxer um alívio para os males explicitamente formulados por esse doente, os outros membros reagirão através de uma crise: a criança recupera o seu equilíbrio, mas na mãe aparecem perturbações psicológicas. Se a mulher recobra a saúde, é o marido que apresentará perturbações. Aqui é o sintoma que desempenha um papel de equilíbrio na estrutura do grupo familiar. Qualquer intervenção externa nada mais pode fazer além de alimentar o sintoma, pois o grupo familiar filtra as informações para confortar-se na doença e preservar seu equilíbrio.

Existe aí uma regulação homeostática. Um feedback negativo produz uma reação do grupo. Há uma recusa de qualquer informação que ponha em jogo o equilíbrio do sistema. O grupo familiar assemelha-se a um sistema fechado no qual as relações tendem a uma uniformização e à repetição dos comportamentos “patológicos’. Todos os membros do grupo recusam-se a evoluir e se mantém num estado patológico, que corresponde a uma certa ordem no que se refere ao conjunto familiar. É assim que as famílias perturbadas se mostram particularmente refratárias à mudança. Somente uma compreensão do equilíbrio familiar e de sua finalidade pode trazer modificações. A psicoterapia individual, a ação sobre um dos membros é insuficiente, pois um sintoma desempenha um papel equilibrador no conjunto do grupo familiar.

Uma família funciona como um sistema aberto quando aceita trocas com o exterior, quando os papéis dentro do grupo são diferenciados, quando ela admite uma diversidade de repostas ao meio ambiente. Apresenta então regulações homeostáticas (feedback negativo) mas também é capaz de aprendizagem: reintroduzindo desvios, os feedbacks positivos levam à busca (por ensaio-e-erro) de novos equilíbrios.

Assim, as mudanças internas (envelhecimento, maturidade dos filhos) e as mudanças externas (modificações do meio ambiente) não introduzem um reforço de sintomas (infantilização, superproteção dos filhos), mas são integradas num novo equilíbrio no qual os elementos do sistema conservam sua autonomia e suas relações com o conjunto.

Seria possível repetir essas análises para outros grupos sociais e mostrar assim que as comunicações são regidas pelas propriedades dos sistemas gerais: inter-relações dos elementos do sistema, finalidade do sistema, equilíbrio e organização, regulação (feedback positivo ou negativo), diferenciação e complexibilidade. Todas essas noções podem ajudar a compreender os grandes princípios de organização e a analisá-los segundo modelos que são permanentes no mundo vivo.


Os sistemas são hierárquicos ou piramidais , isto é , são constituídos de sistemas ou de subsistemas relacionados entre si por um processo ou padrão de interação . O próprio universo é um sistema constituído por uma infinidade de sistema se subsistemas intimamente relacionados entre si .

Kenneth Boulding propõe uma hierarquia de sistemas, de acordo com sua complexidade , em nove diferentes níveis de sistemas:


1. nível dos sistemas estáticos ( frameworks ), compostos de estruturas e armações . É o nível mais estudado eo que tem maior número de descrições . Ex.: o universo ,o sistema solar ;

2. nível dos sistemas dinâmicos simples ( clock-works ) , compostos de movimentos predeterminados e variáveis como os mecanismos de relojoaria , as alavancas , roldanas etc . São os sistemas preditíveis por natureza , próprios das ciências naturais clássicas como a Física , a Química etc.;

3. nível dos sistemas cibernéticos simples ou mecanismos de controle . É o caso do termostato , no qual o sistema mantém o seu equilíbrio por auto regulação , dentro dos limites estabelecidos . Este nível recebeu muita atenção ultimamente, porém carece ainda de modelos teóricos adequados ;

4. nível dos sistemas abertos , de existência autônoma e auto-regulável. Neste nível começa a diferenciação entre a vida e a não-vida , entre o orgânico e o não-orgânico . É o nível da célula , dos sistemas de circuito aberto com estruturas autônomas e capacidade de reprodução . Rios e chama de fogo são sistemas abertos extremamente simples ;

5. nível genético-societário , da vida vegetal e que integra o mundo da botânica .Aqui ocorre uma divisão de trabalho entre as células formadoras das sociedades de raízes , folhas , sementes , etc . Seu protótipo é a planta ;

6. nível dos sistema animal , que se caracteriza pelo aumento da mobilidade e comportamento teleológico . Os órgãos sensoriais captam informações através de receptores ( olhos , ouvidos etc ) e desenvolve-se o sistema nervoso , permitindo ao cérebro organizar as informações tendo em vista a mobilidade e o comportamento ;

7. nível humano , ou seja , a criatura humana , considerada como um sistema que possui consciência de si mesma e capacidade de utilizar linguagem e simbolismo na sua comunicação . O homem possui a qualidade auto-reflexiva , inteligência , memória altamente desenvolvida , capacidade de falar , de absorver e interpretar símbolos e de armazenar conhecimentos ;

8. nível dos sistema social , isto é , o sistema da organização humana . A unidade , neste caso , não é o indivíduo , mas o papel por ele desempenhado : aquela parte do indivíduo relacionada com a organização ou com a situação em questão . As organizações sociais são conjuntos de papéis enfeixados em sistema pelos seus respectivos canais de comunicação ;

9. nível dos sistemas transcendentais : que completa a classificação dos níveis de sistemas . São os sistemas superiores , absolutos , inevitáveis , mas ignorados ou conhecidos apenas parcialmente em face da sua excessiva complexidade , e que também obedecem a uma estrutura sistemática lógica .


PREMISSAS BÁSICAS

A TGS fundamenta-se em três premissas básicas , a saber :


a) Os sistemas existem dentro de sistemas . As moléculas existem dentro das células , as células dentro dos tecidos , os tecidos dentro dos órgãos , os órgãos dentro dos organismos , os organismos dentro de colônias , as colônias dentro de culturas nutrientes , as culturas nutrientes dentro de conjuntos maiores de culturas , e assim por diante .

b) Os sistemas são abertos . É uma decorrência da premissa anterior . Cada sistema que se examine , exceto o menor ou o maior , recebe e descarrega algo aos outros sistemas , geralmente aqueles que lhe são contíguos . Os sistemas abertos são caracterizado por um processo de intercâmbio infinito com seu ambiente , que são os outros sistemas. Apesar das modificações que sofre em função dessas trocas, um sistema aberto mantém sua identidade e coerência (seus componentes podem mudar ou ser substituídos, mas a estrutura global do sistema permanece idêntica). É graças a essas trocas que um sistema aberto permanece vivo, em um equilíbrio dinâmico. Quando o intercâmbio cessa , o sistema se desintegra , isto é , perde suas fontes de energia.

c) As funções de um sistema dependem de sua estrutura . Para os sistemas biológicos e mecânicos esta afirmação é intuitiva . Os tecidos musculares , por exemplo, se contraem porque são constituídos de uma estrutura celular que permite contrações .


CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS


Há uma grande variedade de sistemas e uma ampla gama de tipologias para classifica-los , de acordo com certas características básicas :


a) Quanto à sua constituição , os sistemas podem ser físicos ou abstratos :


· sistemas físicos ou concretos , quando compostos de equipamentos , de maquinaria e de objetos e coisas reais . São denominados “hardware” . Podem ser descritos em termos quantitativos de desempenho ;

· sistemas abstratos ou conceituais , quando compostos de conceitos , planos , hipóteses e idéias . Aqui , os símbolos representam atributos e objetos , que muitas vezes só existem no pensamento das pessoas . São denominados “software” .

Na realidade , há uma complementaridade entre sistemas físicos e abstratos: os sistemas físicos ( como as máquinas , por exemplo ) precisam de um sistema abstrato ( programação ) para poderem funcionar e desempenhar suas funções . A recíproca também é verdadeira : os sistemas abstratos somente se realizam quando aplicados a algum sistema físico . hardware e software se completam .

Quase sempre sistema físico ( hardware ) opera em concordância com o sistema abstrato ( software ) . É o exemplo de uma escola com suas salas de aulas , carteiras , lousas , iluminação etc . ( sistema físico ) para desenvolver um programa de educação ( sistema abstrato ) ; ou um centro de processamentos de dados , onde o equipamento e os circuitos processam programas de instruções ao computador .

b) Quanto à sua natureza , os sistemas podem ser fechados ou abertos :


As observações científicas mostram que os sistemas recebem do meio ambiente fluxo de matéria, de energia e de informações. Mostram ainda que os elementos que compõem um Sistema mudam constantemente, mas que a estrutura permanece idêntica. Pode-se afirmar que um Sistema continua em equilíbrio com o meio ambiente, mesmo sendo atravessado constantemente por diversos fluxos.


Sistemas fechados: são os sistemas que não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circunda , pois são herméticos a qualquer influência ambiental . Sendo assim , os sistemas fechados não recebem nenhuma influência do ambiente e, por outro lado , também não o influenciam . Não recebem nenhum recurso externo e nada produzem que seja enviado para fora . A rigor , não existem sistemas fechados , na acepção exata do termo . Os autores têm dado o nome de sistemas fechados àqueles sistemas cujo o comportamento é totalmente determinístico e programado e que operam com pouquíssimo intercâmbio de matéria e energia com o meio ambiente . O termo também é utilizado para os sistemas completamente estruturados , onde os elementos e relações combinam-se de uma maneira peculiar e rígida produzindo uma saída invariável . São os chamados sistemas mecânicos , como as máquinas.

Sistemas abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente , através de entradas e saídas . Os sistemas abertos trocam matéria e energia regularmente com o meio ambiente . São eminentemente adaptativos , isto é , para sobreviverem devem reajustar-se constantemente às condições do meio . Mantêm um jogo recíproco com as forças do ambiente e a qualidade de sua estrutura é otimizada quando o conjunto de elementos do sistema se organiza , aproximando-se de uma operação adaptativa . A adaptabilidade é um contínuo processo de aprendizagem e de auto-organização . Os sistemas abertos não podem viver em isolamento . Os sistemas fechados – isto é , os sistemas que estão isolados de seu meio ambiente – cumprem o segundo princípio da termodinâmica que diz que “uma certa quantidade , chamada entropia , tende a aumentar a um máximo” . A conclusão é que existe uma “tendência geral dos eventos na natureza física em direção a um estado de máxima desordem”. Porém , um sistema aberto “mantém a si próprio , em um contínuo fluxo de entrada e saída , uma manutenção e sustentação dos componentes , nunca estando ao longo de sua vida em um estado de equilíbrio químico e termodinâmico , obtido através de um estado firme , chamado “homeostasia”. Para tanto, os sistemas abertos podem utilizar como forma de REGULAÇÃO dois mecanismos: feedback negativo e feedback positivo. Por meio do FEEDBACK NEGATIVO, o sistema tende a anular as variações do meio ambiente, recusando qualquer informação que ponha em jogo seu equilíbrio a fim de mantê-lo invariante. Por outro lado, o FEEDBACK POSITIVO tende a amplificar o fluxo vindo do meio ambiente, levando o sistema a um novo estado de equilíbrio, o que caracteriza a capacidade de mudança e de adaptação de um organismo.

Os sistemas abertos , portanto , “evitam o aumento da entropia e podem desenvolver – se em direção a um estado de crescente ordem e organização” ( entropia negativa ) . Através da interação ambiental , os sistemas abertos “restauram a própria energia e reparam perdas em sua própria organização”.

BIBLIOGRAFIA

Além das já citadas no trabalho: www.sbdg.org.br
Grupo de Formação 90 - SBDG

BERTALANFFY, L.v. - Teoria Geral dos Sistemas, Vozes, Petropólis , 1972
BERTALANFFY, L.v. - Teoria Geral dos Sistemas, Vozes, Petropólis , 1972

Memes - pela wikipedia

Um meme, termo cunhado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller O Gene Egoísta, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os memes podem ser idéias ou partes de idéias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
Quando usado num contexto coloquial e não especializado, o termo meme pode significar apenas a transmissão de informação de uma mente para outra. Este uso aproxima o termo da analogia da "linguagem como vírus", afastando-o do propósito original de Dawkins, que procurava definir os memes como replicadores de comportamentos.
Ainda que tal possa surpreender alguns defensores da memética, conceitos similares ao de meme antecedem em muito a proposta de Dawkins, ocorrendo por exemplo no ensino Sufi, segundo o qual os Muwakkals são considerados como entes autónomos e elementares que constroem o pensamento humano.

A chave de todo ser humano é seu pensamento. Resistente e desafiante aos olhares, tem oculto um estandarte que obedece, que é a idéia ante a qual todos seus fatos são interpretados. O ser humano pode somente ser reformado mostrando-lhe uma idéia nova que supere a antiga e traga comandos próprios.
—Ralph Waldo Emerson

Evolução memética

A evolução memética, tal como o seu equivalente genético, pressupõe a possibilidade de mutações e de um mecanismo darwiniano de selecção natural para que possa ter lugar. As mutações são o factor responsável pela emergência de variações essenciais; as que são mais eficazes ao em replicar-se tornam-se, por definição, mais comuns, possuindo uma maior probabilidade de continuarem a replicar-se. No entanto, diferentemente da evolução genética, a evolução memética não se sustenta em algo exterior, análogo ao genótipo. Se um roedor perde a sua cauda, ou um fisiculturista levanta pesos, por exemplo, a informação no ADN do seu genótipo permanecerá a mesma, e quando se replicar não irá passar essas características adquiridas. Na memética, por outro lado, o fenótipo coincide com o genótipo e dessa forma as mudanças no último são transmitidas quando for replicado.
Dessa forma, a memética pode ser vista como Lamarckiana, o que possui a sua dose de ironia, já que consideráveis esforços e debates vieram a provar que a evolução genética não era. Não é contudo esta a perspectiva original de Dawkins, que se assume como um neodarwiniano, e que portanto nega a possibilidade de transmissão de características adquiridas nos memes tanto quanto nos genes, explicando o que superficialmente pode ser uma replicação de tipo lamarckiano como resultado de mutações.
É de admitir que as mutações dos memes (e o seu diferencial reprodutivo) tenham conduzido a linguagem a uma evolução cultural que, começando com umas poucas sílabas primitivas, a permitiu tornar-se hoje uma profusão de idiomas e dialectos, já para não mencionar as várias possibilidades de variação simbólica no interior de cada dialecto. O mesmo raciocínio pode ser aplicado aos sistemas de linguagem: a escrita, o Braille, as linguagens de sinais como a gestual, etc. Para tomar um exemplo recente, o frequentemente citado meme "All your base are belong to us" produziu variações como "all your vote are belong to us", enquanto outras falas do diálogo do videojogo que esteve na origem deste meme, caso de "Someone set us up the bomb", ainda que também replicadas pela Internet, obtiveram menor sucesso. O número de resultados de um questionário efectuado aos Sistemas de busca da Internet podem, até certo ponto, servir como medida imperfeita da popularidade de várias expressões meméticas.

A cultura evolui ?

Dawkins observou que as culturas podem evoluir de modo muito similar ao das populações de um organismo. Entre as gerações podem ser passadas idéias que podem aumentar ou diminuir a sobrevivência dos indivíduos que as obtêm e usam. A esse processo vem associado um mecanismo de selecção das idéias que continuarão a ser passadas às gerações futuras. Por exemplo, cada cultura pode possuir métodos e designs únicos para a construção de determinadas ferramentas, mas a que possua métodos mais eficazes - assumindo que todas as outras variáveis se conservam inalteradas - irá provavelmente prosperar sobre as outras culturas. Isso leva a que prospere a adopção desses métodos, que serão usados por uma fracção maior da população com o passar do tempo. Cada design de ferramenta funciona então da mesma forma que um gene biológico (que pode existir nalgumas populações mas não noutras): a presença desse mesmo design nas gerações futuras é directamente afectada pela sua eficácia enquanto meme.
Uma característica chave do meme é que ele é propagado por imitação, conceito proposto pelo sociólogo francês Gabriel Tarde. Quando a imitação surgiu evolutivamente nos humanos, isso veio a revelar-se um bom "truque", pois aumentava a capacidade individual de se reproduzir geneticamente. Talvez a seleção sexual dos melhores imitadores tenha levado a um aumento genético na capacidade dos cérebros para imitar. "Imitar" aqui significa basicamente levar informação do ambiente até ao cérebro por algum órgão sensorial. O elemento ambiental pode ser inanimado (como é o caso dos livros), mas, mais tipicamente, é um outro humano a partir de quem a informação de um certo comportamento é obtida e posteriormente praticada. As fontes inanimadas de informação são designadas pelo termo "sistemas retentores". Uma vez que os memes se propagam de um indivíduo a outro por imitação, não podem existir sem que cérebros que sejam suficientemente potentes para analisar os aspectos relevantes dos comportamentos a serem imitados (o que deve ser copiado e por que razão deve sê-lo) bem como seus benefícios potenciais. Os memes (ou comportamentos adquiridos e propagados por imitação) apenas podem ser observados num reduzido número de espécies terrestres, caso dos hominídeos, dos golfinhos, e de aves que aprendem a cantar por imitação dos seus progenitores. Pode no entanto ser alegado que existem memes menos complexos noutras espécies - por exemplo, comportamentos imitativos artificialmente induzidos em cefalópodes e ratos.
Uma outra característica que os memes partilham com os genes é o facto de sobreviverem para além dos indivíduos que os transportam. Um gene bem sucedido (como é o caso dos genes para dentes fortes numa população de leões) pode conservar-se sem mutações no conjunto de genes de uma população por centenas de milhares de anos. Da mesma forma, um meme bem sucedido pode propagar-se de indivíduo para indivíduo para muito além do momento em que teve origem.

Analogias biológicas

Assim como o conceito de egoísmo genético pode ser usado como auxiliar para uma melhor compreensão do modo como funciona a evolução biológica, o conceito de meme pode ser igualmente usado para compreender alguns aspectos da cultura humana (bem como comportamentos aprendidos de outros animais) que de outra forma careceriam de uma explicação suficientemente adequada. Em qualquer dos casos, se esta "explicação adequada" não for sustentada por testes empíricos, permanecerá a discussão em torno da cientificidade do conceito. A memética pode então ser considerada como uma ciência ainda na sua infância, uma protociência, ainda que muitos críticos do conceito a considerem tão-só uma pseudociência. Em todo o caso, muitas destas acusações podem provir duma interpretação literal da expressão "gene (ou meme) egoísta", que Dawkins sublinha que deve ser tomada como mera metáfora: um meme, assim como um gene, não faz ou deseja qualquer coisa intencionalmente. Simplesmente é (ou não) replicado, e isto de forma passiva.
[editar]Evolução dos memes
Para que ocorra a evolução, não basta a existência de mecanismos de hereditariedade e de seleção natural; é igualmente necessária a possibilidade de mutação, propriedade que também é atribuída aos memes. As idéias que são transmitidas de cérebro em cérebro podem sofrer modificações que se acumulam ao longo do tempo. Essas modificações no "fenótipo" (a informação nos cérebros ou sistemas retentores) são então transmitidas sob uma nova forma. Por outras palavras, de modo algo distinto da evolução genética, pode alegar-se que se propagam de forma tanto Darwiniana quanto "Lamarckiana", pelo menos no sentido popular do último termo. Por exemplo, os contos populares e mitos são frequentemente adornados quando recontados com o objectivo de serem mais bem recordados --- aumentando dessa forma a probabilidade de serem recontados. Ilustrações mais contemporâneas podem ser encontradas nas várias lendas ou mitos urbanos e trotes (ou hoaxes) que circulam na internet, de que são exemplo os falsos avisos de vírus como o "goodtimes virus".
Contrariamente à história dos genes, que sofrem mutações aleatórias, as mutações nos memes geralmente são intencionais. São "pessoas" que alteram os contos na intenção de melhorá-los ou de que eles sejam recontados, apresentando ou não sucesso. Um outro exemplo bem oportuno: o leitor deste artigo graças ao "wiki-software" é encorajado a alterá-lo e melhorá-lo. Se esta "mutação" melhorar o texto na opinião dos leitores, ele continuará publicado nesta enciclopédia. Caso contrário ele será modificado ou eliminado.
Um outro aspecto da evolução dos memes é que pode-se criar um mecanismo que facilite o processo de mutação, como no exemplo descrito acima. Iniciativas como proteção de copyright e mecanismos de bloqueio de alterações não facilitam a evolução dos memes.

Forças evolutivas que afetam os memes

O sucesso de um gene ou de um meme é determinado apenas pelo número de cópias existentes (e por onde essas cópias residem). Há uma forte correlação entre genes bem sucedidos e genes que têm um efeito positivo no organismo que contém esses genes. Voltando a atenção para o caso dos memes que normalmente são interpretados como alegações de factos, pode postular-se uma correlação análoga entre os memes bem sucedidos e os que são verdadeiros. Similarmente, haverá uma correlação entre memes de natureza tecnológica ou económica bem sucedidos e aqueles que têm um efeito positivo na economia. No entanto, este não é o único factor a ter em conta: há genes e memes cujo sucesso se deve a outros factores e cujo efeito pode inclusive ser negativo.
O sucesso de um gene num corpo pode dever-se à sua capacidade de esquivar-se da loteria sexual, tendo para tal de estar presente em mais do que 50% dos zigotos de um organismo. Outros genes são selecionados positivamente pela via sexual. Assim, a evolução dos genes é influenciada por vários factores que não exclusivamente o sucesso da espécie como um todo. Similarmente, as pressões evolutivas nos memes não são apenas a verdade e o sucesso econômico. Entre estas outras incluem-se:
Experiência: Se um meme não apresenta uma correlação com o universo de experiência de um indivíduo, então será menos provável que este acredite nesse meme.
Felicidade: Se um meme faz com que um indivíduo se sinta mais feliz, então será mais provável que acredite nele (ex.: a idéia de que se será recompensando depois da morte pelos actos cometidos em vida --- "faça isso assim e irá para o paraíso depois da morte").
Medo: Se um meme constitui uma ameaça, os indivíduos podem ser levados a crer nele pelo medo. (é o exemplo oposto ao anterior: "se você fizer alguma coisa ou não fizer outras, irá arder eternamente no inferno).
Economia: Se um meme tende a ser portado por pessoas ou organizações que têm influência econômica, então o meme provavelmente beneficiará uma maior audiência. Se um meme tende a aumentar as riquezas de um indivíduo portador, provavelmente irá disseminar-se pela mesma razão. Entre os memes deste tipo incluem-se idéias tão simples quanto a de que "o trabalho duro é bom" e "as coisas mais importantes devem vir em primeiro lugar".
Censura: se uma grande e poderosa organização penaliza pessoas que expressam a crença nalgum meme em particular ou queimam livros que contenham esse meme, então ele será colocado numa situação de desvantagem seletiva. (A este propósito, deve contudo notar-se que existe o meme "é errado censurar". Seria interessante especular se esse meme teria prosperado pelo aumento da riqueza de algumas nações que o aplicaram, dessa forma aumentando a influência do meme em si).
Conformidade e inovação: os memes, de forma um pouco diferente dos genes (mas não muito diferente dos genes presentes em vírus), podem aumentar em freqüência simplesmente por serem populares. É o caso do apego ao tradicional e do repúdio ao novo - algo que se relaciona com um outro factor de seleção, a felicidade relativa que decorre do nível de aceitação social. Noutros casos, mais notoriamente na moda e em várias formas de arte memes podem tornar-se populares pela razão oposta, isto é, por serem incomuns ou inovadores. Pode neste caso haver uma relação mais ou menos directa com o mecanismo de seleção sexual.

Troca de vírus meméticos?

Uma controversa aplicação desse paralelo "egoísmo memético" é a idéia de que certos grupos de memes podem agir como "vírus meméticos": conjuntos de idéias que comportam-se como formas de vida independentes, e continuam a ser transmitidos mesmo que à custa dos seus hospedeiros simplesmente porque eles são bons em se fazerem ser transmitidos. Foi sugerido que as religiões e os cultos comportam-se dessa maneira; por incluir o ato de transmitir suas crenças como uma virtude moral, outras crenças da religião são passadas juntamente mesmo que elas não sejam particularmente valiosas para o crente.
Outros notam que a larga prevalência da adoção humana de idéias religiosas e defendem que isso prova que elas devem ter algum valor ecológico, sexual, ético ou moral. Por exemplo, a maioria das religiões urge por paz e cooperação entre seus seguidores ("Não matarás"), o que pode tender a promover a sobrevivência biológica de grupos sociais que carregam esses memes. Certamente os defensores das religiões alegam que há esses valores em se seguir suas regras e princípios - mas como isso está relacionado com o que eles sentem ser divino?
Há uma tendência na memética para criticar-se memes religiosos. De qualquer forma, algumas autoridades especulam que as religiões tradicionais agem como sistemas imunológicos mentais para suprimir novos memes que podem ser nocivos. Por exemplo, o cristianismo proibe assassinato e suicídio, suas definições precisas de heresia garantem que novas religiões que advoquem essas ações não podem ser aceitas por pessoas educadas no cristianismo.
Ainda assim, a história nos mostra que não ocorre sempre exatamente isso, e verdadeiros massacres foram feitos com embasamentos religiosos, como guerras santas ou caça às bruxas. Ainda que religiões contenham memes que possam ter seus aspectos positivos, há um considerável grau de plasticidade individual da expressão dos memes, bem como influências de outros memes particulares de diversas localidades ou períodos na expressão de conjuntos de memes como a bíblia ou outros livros religiosos. Isso basicamente resulta nas diferentes interpretações ao longo do tempo, originando novas correntes religiosas a partir de uma base em comum. No decorrer dessa evolução muito do que pode ser considerado positivo pode deixar de ser expresso.
Muito disso está relacionado com os memes propagados pelas religiões que não estão diretamente, logicamente, associados aos valores morais e éticos, associações descartáveis de idéias sobre o sobrenatural como justificativa moral. Esses memes podem evoluir independentemente e influenciar negativamente na expressão dos memes considerados positivos.

Seleção não-natural

Quão "natural" é esse tipo de seleção? Talvez tão natural quanto a atração sexual ou hábitos éticos. A relação do meme com outras idéias de evolução, como essas que separam fatores ecológicos, sexuais, éticos e morais e não reservam um lugar especial ou separado para a "cultura" além desses, parecem ser "pretendentes do trono" - fingindo explicar essas idéias mais específicas de evolução e cultura, mas sem qualquer modelo para teste. Isso causa a alguns cientistas e outros a desdenharem a cultura como algum tipo de fator na vida humana.
Uma famosa observação desse tipo é a de que Margaret Thatcher, quem diretamente disse "não há essa coisa de sociedade" - evidentemente ela se referia a um conjunto de fatores de sobrevivência, sedução e escolha moral específicos dos indivíduos, casais e famílias e não como uma "cultura" ou "sociedade" unificadas de algum modo.
[editar]Exemplo de isolamento reprodutivo na 'especiação' memética
Na genética populacional tradicional, a variação genética normal, seleção, e deriva não levam a formação de novas espécies sem alguma forma de 'isolamento reprodutivo'; isso é, para dividir uma única espécie em duas, as duas subpopulações da espécie original devem de alguma forma ser impossibilidadas de intercruzar-se, o que iria normalmente manter sua heterogeneidade. No entanto, após separadas, a seleção natural e/ou apenas deriva genética agindo na variação genética normal das duas subespécies irá eventualmente modificar características suficientes entre os dois subgrupos que eles não poderão mais intercruzar-se, o que por definição significa que eles irão compor duas diferentes espécies. Exemplos de isolamento reprodutivo incluem isolamento geográfico, onde o surgimento de uma montanha ou rios separa dois subgrupos; isolamento temporal, onde um subgrupo torna-se totalmente diurno em seus hábitos enquanto o outro torna-se totalmente noturno; ou até mesmo apenas isolamento "comportamental" como visto em lobos e cães domésticos: eles poderiam intercruzar-se, biologicamente falando, mas normalmente eles simplesmente não o fazem.
Um fenômeno similar pode ocorrer com memes; normalmente, a população dos indivíduos portadores de um meme em suas consciências é heterogênea e mistura-se suficientemente para manter o meme intacto, ainda que isso cubra uma grande amplitude de variações. Mas de qualquer forma, se a população divide-se, sem contato suficiente entre os dois subgrupos de variações do meme para equilibrarem-se, eventualmente em cada grupo irá evoluir sua própria versão desse meme, diferindo suficientemente do outro grupo para ser considerado uma entidade distinta.
Um exemplo disso ocorrendo na internet é o meme Kellerman. Uma busca na rede e/ou Usenet pela palavra 'Kellerman' irá resultar num grande número de citações, descrevendo extensivamente o covarde comportamento de um 'Dr. Arthur Kellerman', quem, com a assitência voluntária do centro de controle de doenças e do 'poderoso lobby da saúde pública' fabricou falsos estudos tentando implicar armas de fogo (e por extensão os seus donos) como uma ameaça à segurança pública, para propósitos de controle estatal da população que de outra forma seria frustrado pela segunda emenda da constituição dos Estados Unidos da América, o direito de ter e portar armas. Os autores dessas páginas e postagens descrevem aparentes maquinações, ciência propagandista, o um subseqüente arrependimento do Dr. 'Kellerman', e o uso de seu trabalho por proponentes do controle de armas.
Na realidade, é claro, não há um 'Dr. Arthur Kellerman; , ao menos não em qualquer conexão com a descrição acima. Há, no entanto, um Dr. Arthur Kellermann (com "duplo" n), que de fato publicou vários artigos estimando o impacto geral na saúde pública quanto a disponibilidade de e vários aspectos de armazenamento de armas de fogo, etc, como parte de uma robusta e saudável carreira na saúde pública e medicina de emergência e trauma. Como qualquer série de estudos desse tipo, há pontos fortes e fracos no trabalho de Kellermann que são rigorosamente debatidos tanto na literatura quanto na internet; de qualquer forma, mesmo após eliminar questões de opinão e afirmações que não são 100% sustentados, os fatos restantes facilmente verificáveis das publicações, carreira, os detalhes de cada estudo, etc de Kellermann são virtualmente irreconhecíveis na descrição do maligno Dr. Kellerman.
O que aconteceu é um exemplo do meme original de Kellermann e seu trabalho sobre ferimentos violentos relacionados à armas tendo gerado um novo meme, 'o mentiroso, maligno, anti-armas Dr. Kellerman inimigo da liberdade' por um fenômeno análogo a clássica deleção genética. A subpopulação envolvida era aquela com ações extremamente negativas contra o trabalho de Kellermann bem como uma falta de familiaridade com seus estudos, carreira, etc. Por causa de 'isolamento reprodutivo' devido a total ausência de interseção dos resultados de busca por "Kellerman" de "Kellermann", o meme "Kellerman" derivou ainda mais na direção da negatividade, independentemente da realidade. Como esse grupo encontra novos indivíduos de mentalidade geral similar, eles são introduzidos apenas ao mito 'Kellerman', e vão reproduzi-lo em seus próprios websites e postagens ampliando o rápido progresso desse meme dentro do intervalo da existência da internet.
Esse fenômeno também demonstra duas outras características de memes: o 'complexo de memes': um conjunto de 'co-memes' mutualmente ajudantes que co-evoluíram uma relação simbiótica, e a estratégia de infecção 'Vilão versus Vítima'. (em inglês) [1]

A forma assumida pelos memes no cérebro

Em 1981 os biologistas Charles J. Lumsden e Edward Osborne Wilson publicaram uma teoria de co-evolução de genes e cultura no livro Genes, Mind, and Culture: The Coevolutionary Process (traduzindo, seria "Genes, mente, e cultura: o processo co-evolutivo"). Eles apontaram que as unidades fundamentais biológicas da cultura devem corresponder a redes neurais que funcionam como conexões de memória semântica. Wilson depois adotou o termo "meme" como o melhor nome existente para a unidade fundamental de herança cultural e elaborou sobre o papel fundamental dos memes em unificar as ciências naturais e as sociais no seu livro A unidade do conhecimento: consiliência.

Exemplos de memes

As seguintes declarações são (grosso modo) versões de alguns memes comuns:
Tecnologia é o exemplo maior, carros, grampeadores etc. Tecnologia claramente demonstra mutação, a qual também é essencial para o progresso memético (ou genético) ser feito. Existiram muitos desenhos de grampeadores ao longo da história, por exemplo com variáveis graus de longevidade, fecundidade, fidelidade (ie. "sucesso" memético).
Jingles, músicas em propagandas políticas e comerciais e slogans
Verme de orelha são canções, em especial refrões, que você não consegue parar de cantarolar ou pensar.
Piadas; ou melhor, piadas conhecidas por serem engraçadas
Provérbios e aforismos (e.g., "Deus ajuda quem cedo madruga")
Canção de Ninar; são propagadas por pais para filhos por várias gerações, muitas vezes associada a ações e movimentos específicos.
Memes portugueses - por vezes existem frases, interjeições e até mesmo sketches que se massificam numa cultura ou sub-cultura.
Poema Épico; usado como importantes memes para preservar a história oral, apesar de eles terem sido a muito tempo mortos pela escrita.
Corrente de correspondência; "Você deve mandar esta mensagem para cinco outras pessoas, ou algo ruim vai acontecer com você."
Religiões são memes complexos, e religiões, incluindo crenças folclóricas, podem até mesmo se espalhar como um vírus (como a Oração de Jabez
Teorías da conspiração
"Eu sou uma pessoa de sorte. Aqui estão algumas histórias da minha sorte. Se você acredita em boa sorte, você pode se tornar tão sortudo quanto eu (e sua observação: veja sorte).
Fenômenos na Internet como gíria de internet e humor de internet (como All your base are belong to us)
Susan Blackmore teorizou que o "eu" é meramente uma coleção de histórias meméticas que ela chama de "euplexo".
O conceito de memes é em si um meme. Até mesmo a idéia de que o conceito de memes é um meme se tornou um meme muito difundido. Entretanto, a idéia de que os conceito sde memes são em si memes, não é particularmente comum como um meme.
Filmes são muito meméticos devido a replicação em massa, causando nas pessoas a vontade de imitar um grande número de coisas que eles observam, como "Você não aguenta a verdade de A few good men ou "entããããããão tá", de Ace Ventura, mesmo que eles não tenham visto o filme em si.
Memes políticos que se estendem como "regra da máfia" e"república, não democracia".
Todos os tipos de fanatismo baseado em grupos, do antisemitismo e racismo para cultos de carregamento.
Paradigmas de Programação, de Programação Estruturada para Programação Extrema.
A Lei de Moore tem uma interessante e particular forma de auto-replicação. A convicção de que a "complexidade do semicondutor dobra a cada 18 meses" se tornou mais do que uma observação preditiva mas sim um alvo de performance de toda uma indústria uma vez que foi acreditado extensivamente. Manufatureiros agora brigam para que a próxima geração de tecnologia de semicondutores recriem o ganho de performance da geração anterior para manter a crença na lei de Moore.
Wikis: A proliferação de sistemas edição colaborativa seguindo o exemplo da Wiki em suas múltiplas encarnações. Wikipedia, Wikicionário etc.
Conceitos como Liberdade, Justiça, Propriedade, Fonte Livre ou Altruismo
O "dicionário memético é uma lista de atributos acerca de memes que foi compilado por Glenn Grant sob uma licença de "divisão". Os exemplos demonstrados oferecem ajuda para se focar no conceito, para um leitor que não é familiar com o termo "meme". O dicionário está circulando desde o começo dos anos 90, e está atualmente em sua terceira encarnação.
Um dicionário memético

Os memes "sê feliz" e "faça os outros felizes"

Algumas práticas espirituais, por exemplo o Budismo, promovem claramente metas ecológicas e morais reconhecíveis pela maior parte das pessoas. Por exemplo o Nobre Caminho Óctuplo dá importância ao consumo limitado, à redução da crueldade, à não-violência ou participação em sistemas violentos e ao afastamento de processos sexuais e éticos que não tenham um claro interesse ecológico ou moral para o praticante - independentemente do valor que possam ter para os outros.
As religiões judaico-cristãs, da mesma forma, concentram-se principalmente na devoção a uma divindade transcendente e na adopção de normas morais para o comportamento, incluindo normas sociais e éticas que afectam todos os aspectos da vida, desde o amor altruísta ao comércio e à actividade sexual. As pessoas são encorajadas a devotarem-se às necessidades dos outros. O contraste entre o "sê feliz" e o "faça os outros felizes", apesar de não ser tão brilhante na prática ou teoria como o debate tradicional sugere, pode satisfazer constrastes de normas sexuas ou ecológicas diferentes em alguma forma não-óbvia.

Religião

Uma pessoa considera a própria religião como um meme ou, mais exatamente, um grupo de memes associados - um memeplexo. Certos movimentos cristãos fundamentalistas são notáveis por apenas agirem para aumentar os seus próprios números. Os movimentos em questão devotam quase 100% do seu tempo à actividade evangélica, não servindo a qualquer outro propósito. Isto possibilita que sejam considerados simplesmente como um vírus autocentrado e, em alguns casos, particularmente eficiente.
O direito de religião americano tem uma mensage construida entre os dogmas religiosos. Ao anexar politicas conservativas para evangelismo religioso cristão (meme) eles estão associando um grupo de idéias políticas/memeplexos com um grupo de idéias religiosas/memeplexos que durante a história se "repetiram" de forma muito eficaz. Isto é, Cristiandade conseguiu converter por séculos; Agora em muitos casos uma conversão política é em parte por causa da conversão religiosa.

Resistência ao Meme

Karl Popper defende isso nos termos mais fortes possíveis: "o valor de sobrevivência da inteligência é que ela permite que nós extinguamos uma má idéia antes que ela nos extingua."
Resistência à ciência e tecnologia tem sido um meme comum (ou anti-meme ou a-meme) guiando a evolução cultural e cognitiva do homem para longe de caminhos destrutivos - por exemplo os EUA e a URSS armazenaram mas não utilizaram armas nucleares no período da Guerra Fria. A ignorância tem sido considerada como uma virtude em algumas culturas - em particular a ignorância de certas tentações que a cultura acredita que seriam desastrosas se adotadas por muitos indivíduos.
A internet, talvez o maior vetor de memes, parece estar englobando os dois lados do debate. Embora possa parecer verdade, para um observador ingênuo, que nenhum adulto pode impedir que outro adulto que acesse a internet, isso não acontece de fato, baseado em vários valores éticos tentando disseminar a resistência contra hackers ou pornografia.
Principia Cybernetica mantém um léxico de conceitos meméticos, compreendendo uma lista de diferentes tipos de memes. Também faz referência à um ensaido de Jaron Lanier: A ideologia dos totalistas intelectuais cibernéticos que é muito crítico do "meme totalists" que afirma os memes acima dos corpos.

História do conceito de Meme

O conceito de idéias espalhadas por regras genéticas prediz o neologismo do termo; por exemplo, William S. Burroughs assertou que "Linguagem é um virus".
John Laurent no The Journal of Mimetics até mesmo sugeriu que o termo meme pudesse ter vindo do trabalho de um pouco conhecido biologo Alemão chamado Richard Semon. Em 1904 Semon publicou Die Mneme (publicado em Inglês como The Mneme em 1924). Seu livro discutia a transmissão cultural de experiencias com critérios paralelos aos de Dawkins. Laurent found achou o uso do termo mneme em The Soul of the White Ant (1927) de Maurice Maeterlinck e sublinha os paralelos com o conceito de Dawkin:
Agora, a frase atual que Maeterlinck usa = aonde ele está discutindo várias teorias que tentam explicar 'memória' em termos como outros insetos 'sociais' (formigas, abelhas, etc.) - é "engrammata em cima do mneme individual" (Maeterlinck, 1927, p.198), e de acordo com meu dicionário (Webster's Collegiate), um anagrama é "um traço de memória; especif.: Uma mudança protoplasmática no tecido neural hipoteticamente contanto para a persistência da memória." Pelo que vale, Maeterlinck explica que ele obteve sua frase do "filosofo alemão" Richard Semon.[2]
Laurent sugere que as raizes etimológicas do termo meme vem de mimneskesthai, o grego para memória ao invés do comumente aceito mimeishtai, ou imitação.
Everett Rogers foi o pioneiro em teoria da difusão de inovações, explicando como e por que pessoas adotam novas idéias. Rogers foi influênciado por Gabriel Trade, que fez as "leis da imitação" que explicavam como as pessoas decidiam se deveriam copiar o comportamento. Francis Heylighten do Centro Leo Apostolo para Estudos Interdisciplinares chegou ao que ele chama de Critérios de seleção memética. Este critério abriu o caminho para um campo especializado de aplicação de memeticas para descobrir se estes critérios de seleção poderiam aguentar uma analise quantitativa. Em 2003 estes teste foram carregados por Klass Chielens em uma tese de Mestrado sobre a testabilidade do critério de seleção.

sobre subjetividade contemporânea

Este texto é o capitulo 2 ( Da Teoria ) do trabalho DA EMERGÊNCIA DE NOVAS SUBJETIVIDADES NO UNIVERSO POP CONTEMPORÂNEO de André Gonçalves da Costa


As escolhas teóricas dessa investigação estão relacionadas à ampliação da noção de contemporaneidade que nos propõe Jean-Luc Nancy. Um contemporâneo, segundo ele, “nem sempre é alguém que vive ao mesmo tempo, tampouco alguém que nos fala de questões atuais” . Essa contemporaneidade trata, antes de mais nada, de uma impessoalidade que nos remete a um pensamento inusitado, a um gesto tocante, a uma nova forma de fazer as coisas, ou a uma presença desconcertante, e nos faz oscilar entre o “desconhecido e o imediatamente familiar”. Essa contemporaneidade é uma estranha forma de atração. Algo da ordem de uma proximidade inevitável, necessária. Algo que, “como forma de possibilitar a ‘presença do presente’, só poderia estar ali e ser tal qual” . Algo que descobrimos que esperávamos, ou que nos esperava em latente iminência.

Algumas experiências musicais são desta natureza. É quando reconhecemos a necessidade da presença de determinado tom, de certa voz, ou de um ritmo tal, “não por inevitabilidade de um destino, ou rumo de uma história”, mas como “evidência de um presente” . É bem nestes instantes de “pura presentificação”, sejam eles de ordem estética ou de saberes “arrebatantes”, que a contemporaneidade opera com a força de um bom encontro, aquele capaz de nos tocar, de gerar potências. É dessa ordem meu encontro com o fecundo pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari.

Nancy afirma contundentemente que a contemporaneidade se faz à medida que “não se pode pensar hoje sem se tomar algo desta (d)obra do pensamento” . Não pelo fato que tenhamos que nos dobrar a ela, mas sim pela irrefutabilidade do apanhado de sua presença. Uma contemporaneidade que é a “absolutidade irreversível do presente” . Trata-se de um verdadeiro pensamento contemporâneo e atemporal, que, para além de meramente deslumbrar ou insuflar, arrebata por falar de nossas angústias atuais: a de um sujeito que se esvai no frenesi de velocidades e paradoxos que o atravessam. Esse pensamento, que para além de meramente “profetizar um novo mundo” , apresenta-se sob a forma de “afecções iluminadoras”, diria Espinosa. Uma “filosofia da subjetividade” que nos possibilita compreender essas novas formas afetivas que proliferam em tempos de crise de sensibilidade.

A obra de D&G nos serve mesmo como uma espécie de “caixa de ferramentas”. Nela figuram conceitos de uma enorme força imagética. Conceitos capazes de nos auxiliar na visualização destas novas “subjetividades musicais” que emergem no universo pop contemporâneo. Na tentativa de pragmatização desses inúmeros conceitos, partimos de uma premissa fundamental: D&G insistem numa “utilização” conceitual que ultrapasse qualquer rigidez epistemológica ou formal. Seus conceitos são multiplicidades que evocam saberes distintos e que não se prestam à reprodução de dogmas de separação – entre técnica e natureza, por exemplo. São imagens de pensamento compostas pela conexão de elementos referenciais os mais diversos que nos servem para “solucionar problemas pontuais” , diriam eles. São conceitos de múltiplos componentes e, esperamos, também, de múltiplas utilidades.

A atitude pop aqui adotada frente a essa inebriante teoria subjetiva (conhecida por “esquizoanálise”) não representa apenas um esforço de interpretação (“se é que há algo a se interpretar”, diria Deleuze) de conceitos por vezes enigmáticos. Trata-se, acima de tudo, de uma tentativa de adequação teórica às questões oferecidas pelas eclosões estético-subjetivas super-atuais que ocorrem no universo pop contemporâneo.

Existe, de fato, uma grande coerência em utilizarmos o pensamento “esquizoanalítico” para refletirmos as expressões estéticas do pop contemporâneo. Trata-se de uma filosofia que tem negócios com a ocasião, com o acontecimento, com a multiplicidade, com os fluxos de energia e suas velocidades, com a conexão e com as misturas que dela ocorrem. Essa filosofia funciona através do procedimento de extração de fenômenos e de termos de seus contextos territoriais, para desenvolvê-los alhures com certa independência ou autonomia flutuante. Como eles próprios colocam, essa é a forma do pensamento pick-up, das apropriações, da bricolagem, da combinação de heterogêneos, tal qual no pop. Deleuze chega mesmo a explicitar essa intimidade de formas e conteúdos entre o pensamento e as emergências hiperatuais denominadas pop. Para ele, “a boa maneira de se ler hoje é conseguindo tratar um livro como se escuta um disco, como se vê um filme ou um programa de televisão, como se recebe uma canção: qualquer tratamento do livro que reclame para ele um respeito especial, uma atenção de outro tipo, vem de outra época e condena o livro. Não há questão alguma de dificuldade nem de compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou imagens, são intensidades que convém ou não, que passam ou não passam, que tocam ou não tocam. Isso é pop filosofia” .

É assim que a escolha por D&G, apesar de suas escassas e ainda enigmáticas incursões reflexivas no campo da música , nos traz a certeza de uma forte adequação teórica em relação às questões subjetivas do mundo atual e do universo pop que nele se insere. Sendo assim, conceitos como “nomadismo”, “devir”, “afecções”, “máquinas abstratas”, “dobras”, “corpos sem órgãos”, “ritornelo”, “galope”, “rostidade”, “plano de imanência”, “matérias de expressão”, “simulacro”, “efeitos de superfície”, etc, são misturados aos sons, às músicas, às imagens, às cores, aos rostos e aos afetos do pop contemporâneo, numa empreitada meio aventureira. Aventureira porque, ao mesmo tempo em que esses diversos termos e afetos, quando postos lado a lado, correm o risco de serem considerados, como colocam D&G, “coisas que não combinam muito bem” , eles podem também ganhar uma nova territorialidade, uma nova possibilidade de leitura. Esperamos poder “brincar” um pouco com esses conceitos – assim como o faz o pop através de sua capacidade inesgotável de recontextualização e referenciação –, desmanchando a pompa e o culto regrado que ameaçam erigir-se em torno deles. O objetivo dessa tentativa de misturar filosofia, música e imagem é o de produzir um trabalho que também seja pop.

Os desenvolvimentos e as conexões teóricas desferidas nesse trabalho só são possíveis graças àquelas mesmas liberdades de escolha, de ordenação e de transformação que, por exemplo, possui um artista pop no ato de compor suas faixas, ou um DJ na montagem de suas seqüências musicais. O que se busca aqui, acima de qualquer outra coisa, é “a verdade como ficção, invenção e criação. Uma visão perspectivista e interpretativa do conhecimento, e não uma relação miraculosa, de revelação para com a teoria” . Uma atitude pragmática, quase de desmistificação, em relação a um saber filosófico que se oferece, em natureza e forma, a esse tipo de estratégia lúdica. É, pois, através de uma espécie de bricolagem teórica, que procuramos, especialmente nesse primeiro capítulo, organizar as formas pelas quais o tema da subjetividade é pensado nos trabalhos de D&G, bem como no de alguns de seus bons intérpretes.

Entretanto, o tema da subjetividade dentro da obra desses pensadores é bastante extenso, e não se apresenta susceptível a fechamentos. Da mesma forma que cobrir todos os seus conceitos correlatos demandaria esforços incompatíveis com as disponibilidades de uma investigação no nível de mestrado. É importante entender que esta fase inicial da pesquisa não tem a finalidade de extinguir, numa catalogação sistematizada, toda a teoria da subjetividade. Tampouco pretendemos nesse capítulo detalhar redundantemente conceitos que serão mais tarde desenvolvidos nos capítulos de análise de objeto. Tentamos inicialmente apenas uma organização e um esclarecimento acerca de alguns tópicos teóricos que terão papel fundamental na formatação e no desenvolvimento desta pesquisa.



Uma breve história do sujeito e de suas crises

A “teoria do sujeito” – que atende também pelo nome de “filosofia da consciência” – pressupõe que o indivíduo humano seja o centro e a origem do pensamento e da ação, que o ser humano seja o soberano senhor de suas reflexões e de seus atos, que seus pensamentos e ações sejam fundamentalmente racionais e conscientes. A filosofia da consciência trata do conhecido “sujeito cartesiano”. Esse sujeito caracteriza-se por ser, quantitativa e qualitativamente, unificado, homogêneo, centrado, racional, consciente e reflexivo. “Esse sujeito tem uma interioridade, um núcleo de subjetividade supostamente pré-social, extralingüístico e a-histórico. Trata-se, enfim, de um sujeito soberano e universal” .

É, entretanto, ao próprio núcleo desse sujeito “emancipado” que se dirigem as críticas de diversas partes da teoria social contemporânea. A representação universalista do sujeito, que está na base da tradição humanista da “filosofia da consciência”, entra então em processo de derrocada. Os ideais, princípios e métodos modernistas que dependiam das idéias iluministas de uma razão e de um sujeito universais não se legitimam mais como “metanarrativas de emancipação do sujeito” .

A subjetividade humana é hoje, mais do que nunca, uma construção em ruínas. Ela já não tinha mesmo jeito desde as devastadoras demolições dos “mestres da suspeita”: Marx, Freud, Nietzsche e Heidegger. Esta obra de desconstrução prosseguiu, em meados do século XX, com as operações de desalojamento do cogito cartesiano efetuadas pela revisão althusseriana de Marx e pela revisão lacaniana de Freud que repensaram os sujeitos como portadores de estruturas e sistemas. Depois, com os pós-estruturalistas, Foucault, Deleuze, Guattari, Derrida e Lyotard, “o estrago se tornaria irreversível” .

O primeiro descentramento sofrido pelo sujeito cartesiano é engendrado pela psicanálise: ele é deslocado do consciente para o inconsciente, de um núcleo essencial para um processo formativo, do pré-lingüístico e pré-social para o lingüístico e o social. “Ele não é quem pensa que é, ele não faz o que pensa que faz” . Então, no pós-estruturalismo, com Foucault, o sujeito, ao invés de originário e soberano, passa a ser derivado e dependente das práticas lingüísticas e discursivas que o constroem como um produto da história. Com Derrida, a subjetividade dissolve-se na textualidade: o sujeito, se é que ele existe, não passa de pura inscrição, ele é pura exterioridade. Não há mais locus para ele, nem para sua filosofia da consciência. O pós-estruturalismo, na verdade, nunca “liquidou” o sujeito, mas o reabilitou, o descentrou e o reposicionou em toda sua complexidade histórico-cultural. Depois dele, a questão não é mais, agora, “quem é o sujeito?”, mas “queremos, ainda, ser sujeitos?”, “quem precisa do sujeito?”, ou ainda “quem vem depois do sujeito?”

É com D&G que o questionamento da teoria do sujeito se radicaliza. Na linhagem de “filósofos de esquerda” como Leibniz, Espinosa, Bergson, Nietzsche, Foucault e Derrida, D&G desenvolvem toda uma “pragmática da subjetividade”, caracterizada por um mundo constituído por máquinas mecânicas, eletrônicas, biológicas, naturais, sociais, institucionais, etc, regido por trocas de fluxos e forças que circulam e afetam tudo.

Ao conceber o mundo como formado por máquinas, D&G rejeitam qualquer distinção entre sujeito e objeto, entre cultura e natureza, entre interioridade e exterioridade. Nenhum ponto fixo, nenhuma essência, nenhuma origem, nenhum centro. Apenas linhas, fluxos, intensidades, energias, conexões e combinações que compõem uma subjetividade em contínua transformação.

Sujeito e subjetividade passam então a ser coisas díspares. Não se está mais diante de uma subjetividade dada como “um em si”, mas em face de processos de autonomização (diferenciação, ruptura, originalidade, liberdade). A subjetividade é processual e depende de condições que tornam possível ou bloqueiam a emergência de novos territórios existenciais. A subjetividade, contrária à idéia corrente de sujeito e seus processos de subjetivação , passa a ser um “laboratório vivo onde mundos se criam e outros se dissolvem” .

Esquizoanálise

Com D&G, o interesse por questões da subjetividade não se limita mais a um punhado de “iluminados” ligados à psicanálise e à filosofia. Da mesma forma, as ciências sociais, econômicas, políticas e jurídicas parecem insuficientes para dar conta sozinhas do “coquetel subjetivo contemporâneo”. É assim que o enclausuramento dos estudos da subjetividade no ambiente acadêmico vem apenas confirmando sua desatualização no tocante ao que de mais instigante, em termos de sensibilidade humana, se produz “no lado de fora”.

A subjetividade passou a ser um tema dos mais presentes, no sentido de estar também ao alcance de “homens comuns”, de artistas, de músicos, enfim, de homens sensíveis, que estejam em contato com a criação – a qual se espera não seja só artística, mas também subjetiva. “A prática, o manejo e a auto-organização da subjetividade estão hoje ao alcance de nossas mãos, e podem desembocar num reposicionamento fundamental do homem em relação ao seu meio ambiente maquínico e ao seu meio ambiente natural (que, aliás, tendem a coincidir)” .

A clínica, como coloca Guattari, não é mais o lugar privilegiado da experimentação subjetiva, assim como a psicanálise não pode mais ser pura hermenêutica, ou regressão dirigida à infância. “Nada de conteúdos latentes ou preexistentes, mas a invenção de novos focos de fazer singularização, ruptura de sentido, corte e fragmentação”. A esquizoanálise dedica-se a esses focos mutantes de subjetivação. Ela ensina que as figuras inconscientes do poder e do saber não são universais, e estão ligadas a mitos profundos que podem, no entanto, ser inflectidos em direção a vias libertadoras. Enfim, a esquizoanálise se ocupa da “invenção de bifurcações existenciais” .

Se no sentido freudiano (universal / estrutural), a subjetividade é compreendida em seu processo de fases de formação, na esquizoanálise, ela é entendida como um conjunto de níveis que se mantêm paralelos, em co-funcionamento e em re-emergência contínua ao longo da vida. Trata-se agora de um inconsciente formado pela superposição de múltiplos e heterogêneos estratos de subjetivação, inconsciente formado por aquilo que Guattari chama de “parcelas subjetivas” , que estão sempre prontas para “emergir à superfície”, para vir à tona de acordo com a experiência, com o acontecimento e com o momento que as desencadeie. Inconsciente livre de fixações, de regressões familialistas, de passados fantasmagóricos. Inconsciente múltiplo voltado para as práticas atuais e para as máquinas abstratas que agenciam seus vários componentes .

A esquizoanálise criada por D&G ultrapassa de longe aquilo que os psicanalistas consideram como sendo o seu saber. Ela faz um esforço de mobilização das formações coletivas e/ou individuais, objetivas e/ou subjetivas, dos devires humanos e/ou animais, vegetais, cósmicos. Ela se interessa por uma diversificação dos meios de semiotização e recusa qualquer centramento da subjetividade na pessoa, bem como qualquer primazia entre instâncias de formação desta subjetividade . A esquizoanálise acredita numa espécie de “loucura afirmativa” como forma de engendrar liberdade, renovação e atualização subjetiva: um pouco daquilo que os artistas são inevitavelmente impelidos a fazer no ato da criação estética, que também é “um momento da mais louca criação subjetiva”.

Subjetividade e afeto

Esta nova subjetividade que se procura compreender diz respeito, fundamentalmente, ao “emotivo” enquanto sinônimo de “afetividade”. Ela fala de emoções nomeáveis por afetos específicos como tristeza, alegria, medo, coragem, etc, ou qualquer combinação que entre eles possa se estabelecer para fazer emergir possibilidades afetivas inusitadas. Aliás, esta parece ter sido a maior de todas as contribuições de D&G com sua “filosofia da nomeação”: nos incitar a um despojamento dos tolhimentos formais e conceituais, nos autorizar a chamar, a designar, ou mesmo a apelidar, estas novas e inusitadas emergências afetivas por nomes que, para nós, tenham de alguma forma um correlato também afetivo. É nesse sentido que acreditamos se tratar de uma filosofia da “pessoalidade”, pois nos faz eleger apenas aquilo que nos toca, apenas aquilo que para nós serve afetivamente. Ela retoma em nós a idéia do “pessoal” como forma de convocação de nossa própria experiência. Subjetividade como meio de “ensimesmamento” de nossos próprios acontecimentos estéticos, sociais, energéticos e pessoais. Dessa forma, a subjetividade reúne definições tão próximas como afetividade e experiência pessoal.

A afetividade, como forma de definir a subjetividade, pode ser compreendida através de um feliz trocadilho: afetividade enquanto possibilidade de afecção, enquanto possibilidade de afetar e de ser afetado. É esse o maior ensinamento da teoria dos afetos de Espinosa. A problemática da potência, extraída por D&G do pensamento espinosista, abre a discussão sobre a capacidade que os corpos, e também as almas , possuem de se afetar mutuamente. Esta problemática pode ser sintetizada por uma pergunta: “O que pode um corpo? Qual é a sua capacidade de afetar e de ser afetado por outros corpos?”

Segundo a ordem dos encontros de Espinosa, os corpos, em sua natureza extensiva em relação a outros corpos, se afetam quando se encontram. Há, nesse sentido, dois tipos fundamentais de encontros, que, por sua vez, determinam os tipos de afetos deles gerados: um bom e um mau encontro. Um bom encontro é aquele em que os corpos que se relacionam “combinam” em natureza; um mau encontro é aquele em que os corpos que se relacionam “não se combinam” e tendem, por isso, a decompor ou a destruir, em parte ou totalmente, sua natureza. “Para Espinosa não existe bem ou mal; o que há é um bom ou um mau encontro”. O mau, por exemplo, é, na realidade, um encontro de um corpo com outro corpo que se mistura mal a ele, no sentido em que o afeta, o modifica de tal maneira que destrói ou ameaça destruir o que o caracteriza. O mau encontro é, na verdade, um fenômeno de envenenamento, de indigestão, de intoxicação” – corpórea e/ou espiritual, física e/ou subjetiva.

Por fim, os afetos são “o aumento ou a diminuição da potência de agir de um corpo quando este se encontra (ou se mistura) com outro” . A terceira definição da ética de Espinosa diz: “Por afetos entenda-se as afecções do corpo pelas quais a potência de agir desse corpo é aumentada ou diminuída, ajudada ou contida. Isso significa que, quando a potência de agir aumenta, sinto um afeto de alegria e, quando potência de agir diminui, sinto um afeto de tristeza” . Espinosa define a alegria como “a passagem do homem de uma perfeição menor a uma perfeição maior, e a tristeza como a passagem de uma perfeição maior a uma perfeição menor” . A alegria e a tristeza são assim os dois afetos fundamentais a partir dos quais são engendrados todos os outros. “Assim, amor, esperança, contentamento, estima... provêm da alegria; ódio, aversão, medo, remorso, desestima... provêm da tristeza.”

É dessa forma, portanto, que a apropriação deleuze-guattariana do pensamento espinosista nos permite falar dessas “emoções” contemporâneas: através da nomeação desses afetos provenientes da alegria, da tristeza e de suas infinitas possibilidades combinatórias que possamos observar manifestos, expressos nos “corpos do mundo”. Falar de subjetividade é, no final das contas, uma tarefa de identificação dos níveis de tristeza e de alegria que compõem cada uma de nossas parcelas subjetivas.

Subjetividade e desejo

Não esqueçamos ainda a estreita relação existente entre subjetividade e desejo: desejo como pulsão ou inibição, como atração ou repulsa gerados de encontros e de trocas entre corpos – que é donde também se geram os afetos. Dos movimentos de atração e repulsa entre eles geram-se afetos de vários tipos: eróticos, sentimentais, estéticos, perceptivos, cognitivos, etc. O desejo gerencia assim os afetos e, conseqüentemente, a própria composição da subjetividade. “Processo de produção de universos psicossociais, o desejo administra as diferentes estratégias do movimento de atualização (territorialização) e desatualização (desterritorialização) de universos subjetivos. Não há eclosão de desejo, seja qual for o universo em que aconteça, que não coloque em cheque as estruturas emotivas já estabelecidas. O desejo é, nesse sentido, revolucionário, porque sempre quer mais conexões, mais encontros e mais trocas” , devendo, nesse sentido, ser entendido de forma mais ampla do que em sua circunscrição meramente sexual e/ou romântica: o desejo é aqui algo que pede passagem, que pede conexão de fluxos.

A subjetividade pode ser tomada como o que há de “humano” em nós. Só que, mais uma vez graças a D&G, há de se alargar esta dimensão no tocante àquilo de maquínico que também perpassa nossa humanidade. É exatamente nesse sentido que passa a existir uma conexão entre subjetividade e desejo: desejo como “combustível” de processos maquínicos de formação subjetiva. Nosso inconsciente maquínico, que funciona como uma espécie de “fábrica” de alternativas subjetivas, encontra no desejo sua própria força motriz.

“O desejo é produtor de signos a-significantes entre os quais se engendram fluxos de inconsciente” . O desejo cria intensidades entre corpos que se encontram. Ele é uma imanência donde sujeitos e objetos se atraem e se repulsam mutuamente, criando-se e recriando-se nessas trocas. O desejo gerencia a produção de novas subjetividades na medida em que permite que cada um dos corpos atraídos (ou repulsados) viva os encontros, os aproveite (ou os descarte) e cuide das forças geradas desses encontros (ou se desvie delas). O desejo regula o quanto cada uma das partes se abre aos encontros, afetando e deixando-se afetar. O desejo é, nesse sentido, o próprio movimento de produção de subjetividade .

Polifonia subjetiva

O sujeito, como coloca Tomaz Tadeu, “é um efeito múltiplo” . Ele não é só efeito da linguagem, ele é, igualmente, efeito da história, da sociedade e das diversas formas de interpelação sensível às quais está exposto na contemporaneidade. O sujeito é efeito de forças que, literalmente, o atravessam; das máquinas, concretas e abstratas com as quais está em contato; do espaço físico, e também abstrato, no qual se encontra inserido; de seus encontros diários; da cultura; da arte; de ficções. O sujeito é, enfim, efeito das mil vozes que o agenciam.

Com a reviravolta esquizoanalítica, a subjetividade não é mais de natureza tal que possa ser reunida, pois estamos diante de processos de sobreposição, multiplicação, e (re)combinação de uma infinidade de parcelas subjetivas que compõem um todo em contínua transformação. A subjetividade é plural, polifônica (várias “vozes” agenciando, afetando o sujeito) e não conhece nenhuma instância dominante de determinação: os universos sociais, culturais, econômicos, espaciais, temporais e estéticos todos contribuem para sua formação .

Já não se pode mais falar de um sujeito generalizado, nem no sentido universal e transcendental, como lhe confere a filosofia da consciência, tampouco no sentido das identidades culturais, sexuais, de classe, etc . A subjetividade é marcada pelo privilégio da diferença e da multiplicidade em detrimento da identidade e da “mesmice”. Ela é caracterizada por sua rejeição não apenas da trancendentalidade e do caráter originário do sujeito, mas também de suas supostas homogeneidade e unicidade. Ela é marcada pela heterogeneidade e polifonia de seus ininterruptos processos formacionais.

Não se pode mais falar numa forma de agenciamento única sobre o sujeito, numa enunciação perfeitamente individuada como, por exemplo, a linguagem que, na contemporaneidade, parece não ter mais primazia alguma no processo de formação subjetiva. O sujeito contemporâneo é agenciado por todos os lados. Ele é formado por componentes parciais e heterogêneos de subjetividade e de agenciamentos coletivos de enunciação, os quais implicam “multiplicidades humanas” . A relação de um indivíduo com a música, com a pintura ou mesmo com o espaço construído ou natural podem, por exemplo, acarretar processos de percepção e de sensibilidade inteiramente novos que não têm a ver necessariamente com subjetivações sociais ou lingüísticas .

Cada um desses componentes do “eu” existe paralelamente aos outros, e é susceptível de subir à superfície, ao primeiro plano da subjetividade, de acordo com a circunstância. É o que chamaremos aqui de “emergências de parcelas subjetivas” . Elas, por sua vez, são produtos de contínuas combinações entre afetos fundamentais, como alegria e tristeza, e também de outros afetos já misturados. Suas possibilidades combinatórias são mesmo infinitas e suas emergências variam de acordo com o contexto, com o acontecimento que as desencadeia. Essa característica múltipla dos processos subjetivos é o que nos permite transformá-los, assim como na arte, num campo de experimentação e de criação.

Perigos, crises e paradoxos subjetivos

Os grandes movimentos de subjetivação, a exemplo do pop contemporâneo, não tendem necessariamente para um sentido emancipador. Há, na atualidade, por um lado, o aumento da criação de novas subjetividades – o que chamaremos aqui de “singularidade subjetiva” – e, por outro, as (re)territorializações homogeneizantes e conservadoras – no sentido de que “conservam” iguais, constantes e sem variação – da subjetividade. Nos processos de subjetivação estão presentes forças emancipadoras e libertárias, bem como “pulsões retrógradas, conservadoras e até mesmo fascistas, nacionalistas, religiosas e étnicas” , todas ligadas, de um modo ou de outro, ao rolo compressor da “subjetividade capitalista”.

A subjetividade capitalística – também chamada por Guattari de subjetividade yankee – seria aquela responsável por uma devastação sensível no planeta através do desenvolvimento contínuo dos mass-mídia e da revolução informática “rumo à monotonização dos mínimos gestos e o desvendamento de todos os mistérios do planeta. Ela varrerá tudo que encontrar pelo caminho: em especial as culturas e as territorialidades que, bem ou mal, haviam conseguido escapar aos assolamentos empreendidos pelo cristianismo” . O que faz a força da subjetividade capitalística – e é justamente aí que ela se mostra perigosamente paradoxal – é que ela se produz tanto entre os opressores quanto entre os oprimidos .

A existência urbana e globalizada que se instaura com o capitalismo, implica que os mundos a que está exposta a subjetividade, em qualquer ponto do planeta, multiplicam-se cada vez mais e variam numa velocidade cada vez mais vertiginosa. A subjetividade é assim continuamente afetada por um turbilhão de forças de toda a espécie. Neste contexto do qual parece não podermos mesmo escapar, vivemos todos, quase que cotidianamente, em crise: crise que não é só econômica ou política, mas crise emocional, afetiva e, especialmente, do desejo. “Crise dos modos que vamos encontrando para nos ajeitar na vida, pois mal conseguimos articular um certo jeito de existir e ele já caduca. Vivemos sempre em defasagem em relação à atualidade de nossas experiências. Somos íntimos dessa incessante desmontagem de territórios existenciais: treinamos, dia a dia, nosso jogo de cintura para manter um mínimo de equilíbrio nisso tudo. Temos de ser craques em matéria de montagem de território, montagem, se possível, tão veloz e eficiente quanto o ritmo com que o mercado desfaz situações e faz outras. Vemo-nos solicitados, o tempo todo e de todos os lados, a investir na poderosa máquina de subjetividade serializada, produtora destes homens que somos, reduzidos a suporte de valor e de identidades reconhecidas, por medo de sermos confinados em uma marginalização que pode mesmo chegar a comprometer a própria possibilidade de sobrevivência” .

É então, em meio ao excesso generalizado (midiático, informático, comercial, etc) como “regra de vida”, que as angústias subjetivas eclodem. Elas surgem como face do medo do “irreconhecível”, daquele “estranho” ao qual ainda não se delegou sentido algum. “Angústia que tem uma face ontológica – medo de a vida se desagregar, de ela não se preservar, medo de morrer –; uma face existencial – medo de nossos mundos perderem legitimidade, de desabarem, medo de fracassar –; uma face psicológica – medo de perder a forma tal como vivida pelo ego, medo de enlouquecer” . É essa angústia múltipla, no entanto, que desencadeia uma reação: uma tentativa sempre recomeçada de abolição do medo, uma forma de alívio da angústia.

O capitalismo contemporâneo engendra ainda uma outra perversidade: ele atiça a força de invenção da subjetividade para “cafetiná-la”. Esse seqüestro criativo por ele exercido “dissocia a subjetividade de sua instância de percepção energética para liberá-la de sua relação com uma resistência inerente, e extrair do seu inesgotável manancial de força de invenção sua máxima rentabilidade” . Este é um evento comum às linhas de montagem do capitalismo e seus processos de massificação, de padronização e de esvaziamento sensível. Como efeito disso, emerge na subjetividade contemporânea o paradoxo: uma parcela subjetiva distendida entre dois extremos opostos. Esse paradoxo que se instaura na subjetividade é aquele que, ao mesmo tempo em que assiste ao seqüestro da força de criação subjetiva e à tentativa de desconexão dessa de sua potência de resistência, também luta, exatamente por conta das adversidades às quais se vê imposta, por liberdade, autonomia e singularidade. Mesmo vítima de tantos “contratempos”, a subjetividade possui essa força de resistência que se apresenta como elemento vital de uma fuga afirmativa e de uma auto-recriação sempre renovadas.

A criação subjetiva

“As poéticas, atualmente, têm mais a nos ensinar do que as ciências sociais, econômicas e a psicanálise reunidas” . A catálise poético-existencial existente na literatura, na música, na poesia, e nas artes plásticas engaja tanto o criador quanto o intérprete e o apreciador da obra de arte através de sua capacidade de promover rupturas ativas e processuais no tecido significacional e estrutural. Esta capacidade tanto rompe e desestabiliza tramas redundantes, dominantes, classificadas e clássicas, quanto seleciona elementos desta mesma trama para conferir-lhes uma resignificação rumo à emergência de novas parcelas subjetivas. É, pois, na exaltação criadora, no sentimento amoroso, no delírio e no sonho que encontramos a subjetividade em estado nascente .

Devemos, portanto, apreender a subjetividade em sua criatividade processual. A inventividade no ato da criação de uma autenticidade existencial distancia a subjetividade de paradigmas cientificistas para aproximá-la de um paradigma ético-estético . Sendo assim, o exercício da criação não mais se encontra confinado à arte como uma esfera específica de atividade humana. Na atualidade, novos problemas são colocados, exigindo da arte outras estratégias de problematização e de efetivação de sua função de reconectar as potências de criação às de resistência, de religar os afetos estéticos aos políticos . A criação de novos territórios existenciais passa pela constituição de um meio ambiente de suavidade e delírio, de forma a transformar nosso inferno de hoje num universo de encantamentos criadores . Tal qual na arte.

A singularização de afetos

A singularização subjetiva trata da criação de novas modalidades de subjetivação, fato que aproxima as novas formações subjetivas de uma espécie de paradigma estético. Singularizar, ou autonomizar, é fazer emergir, ou mesmo criar, parcelas subjetivas inéditas, do tipo: “— Puxa vida! Ainda não conhecia esta faceta da minha personalidade!” Esse caso, embora um tanto caricatural, serve bem como exemplo. Quantas vezes nos vemos proferindo tal “lugar comum” sem nos darmos conta de que estamos, naquele mesmo instante, selecionando e recombinando afetos nunca antes colocados lado a lado, seja perante um filme, uma obra de arte, um livro ou uma música! O mesmo ocorre quando dizemos que este ou aquele filme, livro ou artista “nos tocou”, ou até mesmo “mudou nossas vidas”.

Compreendamos a criação subjetiva enquanto uma profícua geração de novos afetos, de novas afetividades, enquanto criação de novas partes e de combinações inusitadas de subjetividade. As subjetividades emergem como devires existenciais concernentes a novas combinações emotivas. Esta emergência, por sua vez, estaria ligada àquilo que Guattari chamou de “self-emergente” (sense of an emergent self) que é um sentimento “comovente de primeira descoberta do mundo”, como aquele há pouco exemplificado. Este sentimento, que reorganiza topicamente as outras modalidades do self, mostra-se sempre como “um momento fecundo”, um momento de criação de singularidade, de originalidade subjetiva.

O termo singularização é usado para designar os processos disruptores no campo da produção de subjetividade: “trata-se dos movimentos de protesto do inconsciente contra a serialização da subjetividade” , através da afirmação de outras maneiras de ser, outras sensibilidades, outras percepções do mundo. Singularizar é criar subjetividades originais, assim como o artista faz com suas obras. “Da mesma forma que ele toma elementos que o interessam no mundo para criar sua obra de arte” , devemos capturar seletivamente as experiências que nos tocam, que nos sensibilizam para compor novas possibilidades de existência, novas subjetividades.

“O que vai caracterizar um processo de singularização é que ele seja automodelizador. Isto é, que ele capte os elementos da situação, que construa seus próprios tipos de referências práticas e teóricas, sem ficar nessa posição constante de dependência daquelas possibilidades já experimentadas” . Uma primeira estratégia nesse sentido seria o não isolamento da arte nos guetos, pois isso implicaria correr o risco de anular sua potência de resistência como reflexo de um elitismo, de um sentimento de superioridade estética ou mesmo de uma covardia à exposição. Essa atitude segregativa implica ainda oferecer a fonte de criação como “objeto de desejo” para a cafetinagem que o capital engendra sobre as criações .

Uma extensão dessa estratégia seria a “inserção de algumas práticas artísticas em pontos de esgarçamento do tecido social, ali onde pulsam a tensão por uma nova composição de forças que pede passagem” . Esta inserção deve ser mobilizada pela prática da exposição na relação de alteridade: “exposição para fora das relações politicamente corretas que confinam o outro numa troca representacional e protege a subjetividade de sua contaminação afetiva” . Para que esta contaminação se propague é também necessário a criação de novos dispositivos espaço-temporais de partilha. Não apenas novas mídias e novas tecnologias, mas, fundamentalmente, novas formas de expressão, outros jeitos de fazer sentir a “vibração do desejo de singularidade” . A obra de arte propriamente dita deve incorporar estas energias. Ela deve conduzir a uma outra leitura do espaço e do tempo na qual se encontra inserida.

Na Europa, em países como a Inglaterra e a Alemanha, algumas formas de utilização tecnológica como veículo de expressão, tanto no campo da música pop, como no campo do tratamento de imagens em vídeo, na programação visual, no design em geral e até na arquitetura, dão indício de uma criação estética singular que passa, antes de tudo, pelo caminho da criação subjetiva. É nesse contexto de uma subversiva/subjetiva apropriação de tecnologias de ponta e de uma atitude radicalmente nomádica em relação ao espaço e ao tempo que Björk se insere.

Essas formas de emergência subjetiva tecnologizada estão bem próximas daquilo que Guattari chama de “subjetividades pós-midiáticas” . Elas são parcelas subjetivas que, na era da informatização planetária, dizem não à alienação, não à mass-mediatização opressiva, e partem rumo à reapropriação e à re-singularização da mídia na composição de novas possibilidades existenciais. A subjetividade “pós-midiática” é aquela cujas possibilidades de reapropriação e reutilização da mídia podem subverter a modelização generalizada da subjetividade.

Essa parcela subjetiva “pós-midiática”, por sua vez, está relacionada com aquilo que Guattari chama de “subjetividade pática”. Ela é justamente aquela que utiliza o conhecimento pático (libertino e devasso) das artes como vetor de emergência de uma subjetividade observadora, de uma experiência não discursiva da duração e do momento. Subjetividade pática é, basicamente, aquela que se (re)atualiza através de outras coordenadas temporais, energéticas e espaciais . A subjetividade pática é uma subjetividade criativa, esquiva em fuga afirmativa.

No entanto, só se faz a “subjetividade pática” operar, só se atinge essa relação com a arte e com a singularização, se (re)ativarmos o “corpo vibrátil” de artista que possuimos, “aquele que apreende o mundo enquanto matéria-força”; aquele que não desacredita no encontro de seu corpo com o universo incorporal de forças e energias que o atravessa; aquele corpo sensível aos efeitos dos encontros dos corpos e suas reações de atração e repulsa; aquele que alcança o invisível, sendo assim capaz de reconectar sua potência de criação à sua potência de resistência à padronização e ao esvaziamento subjetivo.

O que se espera, portanto, de um novo homem é que ele possa sentir (literalmente) os fluxos e as vibrações do mundo que o rodeia; que “reconstrua uma relação particular com o cosmos e com a vida” ; que ele compreenda que os processos de afecção subjetiva se dão dentro de uma lógica de universos virtuais, incorporais – um universo de incertezas que é constantemente desacreditado e desconsiderado pelo racionalismo científico. Que este homem então se recomponha em sua singularidade (autonomização) individual e que crie instâncias de subjetivação que por sua vez afetem a coletividade numa criação subjetiva sui generis que envolva o indivíduo, o grupo, as máquinas e todas as múltiplas trocas que possam entre eles se dar .


1 NANCY, J. L. in ALLIEZ, É. (org.): 2000, 111/ 2.
2 Idem.
3 Idem.
4 Idem.
5 Idem.
6 Como o coloca Frederic Jameson em crítica à obra deleuze-guattariana em “Os dualismos hoje em dia” in ALLIEZ, É. (org.): Gilles Deleuze: Uma Obra Filosófica. São Paulo: Ed. 34, 2000, pp. 373-384.
7 DELEUZE, G. e GUATTARI, F.: 1992, 15.
8 D&G associam explicitamente a imagem do livro à imagem do pensamento. Ver DELEUZE, G. & GUATTARI, F.: Rizoma in “Mil Platôs” (vol. 1). Rio de Janeiro: Ed. 34. 1996.
9 DELEUZE, G. & PARNET, C.: 1998, 12.
10 Referimo-nos especificamente aos conceitos de “ritornelo” e de “galope” que tratam diretamente de música e subjetividade, embora admitamos ainda o fato de que a obra de D&G parece estar sempre falando de música, mesmo que de forma indireta ou ainda não compreendida.
11 JAMESON, F. in ALLIEZ, É. (org.): 2000, 373 a 384.
12 CORAZZA, S e TADEU, T.: 2003, 35.
13 Este histórico contextualizante só foi possível graças aos trabalhos de organização e sistematização da temática subjetiva realizados por Tomaz Tadeu da Silva em sua tríade de livros Antropologia do ciborgue (2000), Pedagogia dos monstros (2000) e Nunca fomos humanos (2001).
14 Expressão utilizada por Jürgen Habermas, no livro O discurso filosófico da modernidade, para se referir àquelas tradições filosóficas que, de Descartes a Sartre e Merleau-Ponty, passando por Kant, Hegel e Husserl, colocam a consciência, concebida como capacidade do ser humano de apreeender o mundo e a si próprio através da autoreflexividade, no centro de seus sistemas filosóficos. “Teoria do sujeito” e “filosofia da consciência” estão estreitamente interligadas: é com base nos pressupostos da segunda que a primeira se fundamenta e se desenvolve. Utiliza-se, no mesmo sentido, a expressão “filosofia do cogito”. Ver SILVA, T. T.: Teoria cultural e Educação: um vocabulário crítico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000d, pp. 59/ 60.
15 SILVA. T.T.: 2000b, 15.
16 PETERS, M.: 2000, 17.
17 SILVA. T.T.: 2000a, 11.
18 Idem: 2000b, 15.
19 Idem: 2000a, 11.
20 A “subjetivação” é teorizada por D&G como sendo um processo de “territorialização paralizante das possibilidades subjetivas”. Para maiores esclarecimentos sobre o assunto, ver GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986.
21 ROLNIK, S.: 2003, 5.
22 GUATTARI, F.: 1992, 177 a 191.
23 Idem.
24 O termo “inconsciente” só é mantido aqui por conveniência.
25 Este termo guattariano, assim como a noção de “emergências subjetivas”, são de fundamental importância para o desenvolvimento da análise sobre a artista Björk. É através da idéia de “multiplicidade de componentes subjetivos” (parcelas, partes, fragmentos) e de seus movimentos de “ascensão ao plano superficial da consciência” (emergência, manifestação) que os capítulos seguintes são desenvolvidos. Estes termos serão mais detalhados a seguir.
26 GUATTARI, F.: idem, 11.
27 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 268.
28 Para Espinosa não há distinção possível entre corpo e alma. Diz ele que “almas também são corpos, e tudo que afeta um afeta inevitavelmente ao outro... O espírito seria a própria idéia de um corpo”. Ver DELEUZE, G.: “Espinosa e nós” in Espinosa: filosofia prática.São Paulo: Escuta, 2000, p. 127.
29 DELEUZE, G.: 2000, 127.
30 MACHADO, R.: 1990, 65 a 67.
31 Idem.
32 Idem.
33 Idem.
34 Idem.
35 ROLNIK, S.: 1989, 23/ 287/ 8.
36 Idem.
37 Idem.
38 CORAZZA, S e TADEU, T.: 2003, 11.
39 GUATTARI, F.: 1993, 177 a 191.
40 Guattari distingue claramente “subjetividade” de “identidade”, argumentando que a primeira é um conceito existencial, ao passo que a segunda é um conceito de referenciação, “de circunscrição da realidade a quadros de referência”. A identidade estaria assim circunscrevendo a subjetividade, no sentido de que esta possa estar variando e se multiplicando, mesmo dentro de um quadro identitário pretensamente fechado. Para maiores esclarecimentos, ver GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 68.
41 GUATTARI, F.: 1992, 153.
42 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 47.
43 GUATTARI, F.: idem.
44 GUATTARI, F.: idem, 11.
45 Idem: 1992, 185.
46 Referimo-nos às redes midiáticas integradas que vão desde as mega emissoras de TV, passando pelas editoras de periódicos de atualidades, até a própria internet. Também à industrialização serializada que alimenta as corporações comerciais e suas mega lojas de departamentos, ao entretenimento comercializado que vai do turismo massificado, ao cinema hollywoodiano, à música pop veiculada nas grandes rádios, etc.
47 Referimo-nos especificamente às inovações estéticas que se vêem totalmente seduzidas e involuntariamente capturadas para suprir as máquinas de serialização e homogeneização simbólicas do capitalismo com “novidades vendáveis”. Para maiores esclarecimentos a respeito da “racionalidade e da sagacidade da subjetividade capitalística”, ver GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 44.
48 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 12.
49 ROLNIK, S.: 1989, 49.
50 ROLNIK, S.: 2003, 3.
51 GUATTARI, F.: idem.
52 Idem.
53 Idem.
54 ROLNIK, S.: idem.
55 GUATTARI, F.: 1992, 180.
56 Idem, 153.
57 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: 1986, 45.
58 Idem.
59 Idem, 46.
60 ROLNIK, S.: 2003, 10.
61 Idem.
62 Idem.
63 Idem.
64 GUATTARI, F. e ROLNIK, S.: idem, 47.
65 GUATTARI, F.: 1992, 10.
66 ROLNIK, S.: 1986, 26 e 2003, 5.
67 GUATTARI, F.: Idem
68 Idem.